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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Cuca e Bolsonaro

    Cresce o sentimento de que grandes criminosos escapam sempre e de que os bandidos do bolsonarismo também poderão escapar

    Cuca e Jair Bolsonaro (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians | ABR)

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    Cuca foi derrubado pela torcida do Corinthians porque grupos sociais, entre os quais os que mobilizam torcidas e paixões, se fortalecem em espaços de organização, pressão, denúncia e deliberação que a extrema direita pode tentar, mas não consegue ocupar.

    O desfecho do caso do treinador está muitos degraus acima das questões identitárias, ao contrário do que alguns dão a entender, apesar da reação ter sido liderada por mulheres.

    Corintianos e todos os que se mobilizaram contra a escolha de Cuca explicitaram o sentimento de desconforto com a impunidade. Essa é a questão central.

    Cuca voltou para o Brasil, depois de ser preso na Suíça sob a acusação de ter abusado de uma menina de 13 anos, foi condenado lá e não cumpriu pena alguma.

    O caso é exemplar como lição para o Brasil que não sabe até agora se os crimes do fascismo terão alguma reparação.

    O país retomou, com o crime de Berna, o debate de uma impunidade que vem desde 1987 e estava sob as mesmas cinzas que camuflam crimes semelhantes.

    Cresce o sentimento de que grandes criminosos escapam sempre e de que os bandidos do bolsonarismo também poderão escapar.

    Os torcedores do Corinthians, especialmente as minas corintianas, nos oferecem uma lição para muito além do futebol.

    A direita, com o apoio de parte de esquerda, pode repetir o clichê raso de que esporte e política não se misturam.  

    Misturam-se, sim. Tanto que os grandes clubes estão tomados de reacionários, incluindo técnicos que fazem discursos alinhados com a extrema direita. Os dirigentes do futebol são bolsonaristas assumidos ou dissimulados.

    Mas o caso de Cuca não é sobre futebol nem sobre política. É sobre percepção de justiça e de impunidade de uma figura pública com liderança e poder para transmitir exemplos.

    Assim como os casos dos criminosos do fascismo não são apenas sobre política. São sobre genocídio, golpe, corrupção, lavagem de dinheiro, afronta às instituições, roubo de joias, formação de quadrilhas, disseminação de ódio, violência, morte e mentira.

    A resposta à sensação de impunidade, que pode ter acabado com a carreira de Cuca, é convocada a acionar reações com essa intensidade contra a violência cotidiana enfrentada pelas mulheres e em muitas outras áreas.

    Os fascistas impunes, mobilizados pelo golpe de 2016 e que chegaram ao poder em 2019, que planejaram as mortes da pandemia, que roubaram, organizaram a extinçãode de indígenas e articularam-se com grileiros, garimpeiros, militares e milicianos, todos esses fascistas estão impunes.

    O Brasil que expeliu Cuca do futebol, talvez para sempre, é o mesmo que quase reelegeu o sujeito do caso das meninas venezuelanas.

    Cuca ficou impune depois de condenado por violência sexual contra uma criança de 13 anos. Bolsonaro quase foi reeleito em meio a dezenas de crimes e depois de confessar atração por uma criança de 14 anos ao andar pela rua.

    Sentiu-se tão atraído que chegou ir à casa da menina pobre para conferir a sensação de que um clima havia sido criado entre os dois.

    Daqui a 36 anos, o mesmo tempo desde o caso de Berna, o Brasil todo, e não só uma metade, se dará conta de quem foi Bolsonaro e da gravidade das suas atitudes e falas e dos seus crimes?

    Que a CPMI do Golpe cumpra a missão de expor o criminoso e seus comparsas e denunciá-los como bandidos, com o suporte de todo o sistema de Justiça, e não só de Alexandre de Moraes.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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