De absurdo em absurdo, a cultura naufraga
"Mario Frias se equipara a outra aberração, Sergio Camargo, encarregado de desmontar uma solida tradição, a da Fundação Palmares", escreve o jornalista
Por Eric Nepomuceno, do Jornalistas pela Democracia
Não é justo dizer que o atual secretário especial de Cultura, Mario Frias, tem em seu passado uma trajetória de canastrão de terceira na televisão. O correto é lembrar que, coincidindo com a dimensão de seu caráter, de sua integridade e da sua decência, ele não passou de ter sido um canastrinho de quarta categoria.
Na área das artes e da cultura Frias se equipara a outra aberração, Sergio Camargo, encarregado de desmontar uma solida tradição, a da Fundação Palmares, originalmente destinada a preservar, investigar e divulgar a cultura negra neste país de racistas.
E, por falar em ser justo, é necessário observar que os dois se debatem de maneira especialmente intensa para ver quem é mais abjeto, e quem é mais bajulador do desequilibrado psicopata que preside este pobre país.
Ao lado de um capitão da reserva da Polícia Militar da Bahia, André Porciúncula, Frias se esmera em destroçar em primeiro lugar os mecanismos de incentivo, com ênfase na Lei Rouanet, e ao mesmo tempo tudo que se refira às artes e à cultura.
As credenciais de Porciúncula para ocupar o posto que ocupa no falecido ministério e atual secretaria de Cultura, o de secretário de Fomento e Incentivo, são seu reacionarismo olímpico, ser o que classifica como “cristão ao extremo”, e sua fúria contra qualquer liberdade de expressão que não seja a de quem se alinha com ele e, claro, com Jair Messias.
E é exemplar como ele, ao lado de Frias, seu chefe imediato, se dedica em tempo integral a fomentar e a incentivar a destruição.
Há uma diferença crucial, porém, entre os dois. Enquanto Porciúncula atua com ênfase mas sem estardalhaço, Frias é capaz de qualquer coisa para demonstrar até que ponto é desqualificado para o que for.
Sua mais recente iniciativa, porém, poderá significar problemas para ele. Acompanhado de seu secretário-ajunto, um tal de Hélio Oliveira de quem no meio das artes e da cultura ninguém jamais tinha ouvido falar, Frias viajou para Nova York, onde ficou cinco dias e torrou, entre passagens, diárias e testes de Covid-19, pouco mais de 40 mil reais.
A missão: discutir projetos culturais, ou mais especificamente, de áudio visual com Renzo Gracie, um judoca bolsonarista aposentado, e um produtor que, na verdade, é dono de uma agência de viagens.
Nos cinco dias passados em Nova York, Frias e seu assecla tiveram duas reuniões com o judoca e o vendedor de passagens aéreas. O resto do tempo foi para ficar à toa, o que, pensando bem, tenha sido bem melhor para o Brasil.
Em tempos normais, ou seja, antes da boçalidade atual, interessados em projetos viajavam a Brasília para dialogar com o então Ministério.
Mas em tempos normais Mario Frias seria apenas o que sempre foi: um canastrinho de quarta categoria.
Quando os tempos normais voltarem, onde essa figurinha patética vai parar? De volta para qual pântano coalhado de excremento de onde jamais deveria ter sido tirado?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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