De olho no espólio, governadores fingem aposta na impunidade de Bolsonaro
O objetivo dos governadores não é defender a democracia, mas herdar o capital político de Bolsonaro junto ao eleitorado conservador, escreve Aquiles Lins
Sete governadores de direita subiram ao palanque ao lado de Jair Bolsonaro neste domingo (6), em São Paulo, em defesa da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O gesto, liderado por Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), escancarou mais do que uma tentativa de reescrever os ataques à democracia como um episódio menor e perdoável: revelou uma aposta política calculada de quem mira herdar os votos do ex-presidente.
Ao lado de Tarcísio estavam Ronaldo Caiado (União-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR), Jorginho Mello (PL-SC), Wilson Lima (União-AM) e Mauro Mendes (União-MT). Todos sabem que Bolsonaro está acuado pela Justiça, prestes a ser condenado por uma série de crimes que incluem tentativa de golpe de Estado, formação de organização criminosa e falsificação de dados de vacinação. Mesmo assim, decidiram confrontar o Supremo Tribunal Federal (STF) e insuflar uma base reacionária, como se ainda pudessem reverter os fatos.
O discurso de Tarcísio de que “pedir anistia não é uma heresia” tenta travestir de paz o que é, na verdade, cumplicidade com a impunidade. Ao evocar leis do período colonial para justificar o perdão, o governador paulista busca esconder a verdade incômoda: anistiar golpistas não reconcilia o país — apenas abre caminho para que novos ataques ocorram.
Os governadores que participaram do ato sabem que Bolsonaro foi derrotado de forma democrática e legítima em 2022, e que o Brasil vive agora um momento de reconstrução, com avanços econômicos concretos: mais de 2,2 milhões de empregos gerados, aumento de 23% nos investimentos públicos e a maior redução da fome em dez anos. O que os move, portanto, não é preocupação com a estabilidade institucional, mas sim o desejo de capitalizar politicamente em cima do bolsonarismo, ainda influente entre parcelas do eleitorado conservador.
Essa encenação de “pacificação” é, no fundo, uma tática eleitoral. Ao confrontar o STF e defender criminosos condenados, esses governadores tentam ocupar o espaço deixado por Bolsonaro. Mas há um preço alto nessa escolha: o enfraquecimento da confiança nas instituições e o estímulo à extrema direita golpista que já mostrou, com clareza, sua disposição para a violência política.
O Brasil não precisa de líderes que relativizam crimes contra a democracia por conveniência eleitoral. Precisa de governantes comprometidos com a Constituição, a verdade e a justiça. O Judiciário não pode se curvar a pressões políticas nem ceder ao apelo de quem aposta na impunidade. Ao contrário, deve agir com independência para garantir que todos os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro — de executores a mandantes — sejam julgados e punidos conforme a lei. É assim que se protege uma democracia. E é assim que se evita que o país volte a ser refém de aventureiros políticos que confundem perdão com permissividade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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