De volta ao ponto essencial: pobres contra ricos
Enquanto o Brasil retornou ao Mapa da Fome da ONU, o número de milionários brasileiros não parou de crescer, escreve Paulo Moreira Leite
Imagine um país onde o número de milionários -- patrimônio de pelo menos 4,7 milhões de reais, ou um milhão de dólares -- apresenta um crescimento contínuo. Em 2018 o total de cidadãos nessa condição chegava a 278 000. Em apenas dois anos, esse número cresceu para 373 000.
Para 2025, a projeção é um novo crescimento. Até lá, devem surgir 108 000 novos milionários, que irão totalizar 481 000, informa o departamento de pesquisa do Credit Suisse, um dos maiores bancos do planeta. (Exame, maio, 2022).
Como você deve imaginar, este país é o Brasil e estes números refletem o período iniciado pelas reformas neoliberais de Michel Temer-Henrique Meirelles, com o pesadelo Jair Bolsonaro-Paulo Guedes em sequencia. Neste mesmo país, 39 milhões vivem na pobreza, com renda mensal até R$ 775. Outros treze milhões se encontram na extrema pobreza, com renda mensal per capta inferior a R$ 89 por mês, ou menos de 2 reais por dia.
Se a ideia de que o Brasil é uma terra de contrastes já produziu trabalhos sociológicos essenciais, expondo a desigualdade lancinante que marca nossa sociedade desde sempre, não há dúvida de que este conflito entre interesses fundamentais assumiu uma forma insustentável nos tempos atuais -- e será a grande questão de uma campanha presidencial que entra em seus momentos decisivos.
Unindo um indispensável programa de estímulos ao crescimento econômico com políticas públicas bem sucedidas de apoio a população carente, em 2014, no governo Lula, o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU.
Retornou em 2018, com Michel Temer e, em 2020, no segundo ano do governo Bolsonaro, 55,2% da população levantava da cama sem saber se seria capaz de alimentar-se adequadamente durante o dia.
Neste mesmo período, registra o Credit Suisse, os milionários se multiplicavam -- se tudo continuar como está, chegarão perto de reunir meio milhão de pessoas.
Nunca foi tão fácil reconhecer os interesses em jogo na campanha presidencial de um país.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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