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    Bepe Damasco

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    Depois da tragédia, favoritismo de Melo em Porto Alegre chega a ser assustador

    "Tudo foi esquecido como em um passe de mágica? Como pode?", indaga Bepe Damasco

    Sebastião Melo (Foto: Giulian Serafim/PMPA)

    Algo está muito fora da ordem na vida brasileira. 

    A eleição para a prefeitura de Porto Alegre, a simpática e pujante capital dos gaúchos, opõe o atual prefeito Sebastião Melo, que tenta a reeleição, à deputada federal petista Maria do Rosário.

    Depois de por pouco não vencer no primeiro turno, o candidato do MDB lidera com folga as pesquisas, assumindo a condição de franco favorito neste segundo turno.

    Claro que em eleição tudo pode acontecer e só se resolve no dia. A história registra vários favoritos que caíram do cavalo na hora h. Oxalá aconteça o mesmo no próximo domingo.

    Sonhar não custa nada.

    Mas, em condições normais de temperatura e pressão, a menos que todas as pesquisas estejam erradas, Melo deve sair vitorioso. 

    Aí é impossível não lembrar do maior desastre ambiental da história do Rio Grande do Sul, ocorrida em maio, quando o estado foi castigado pelas chuvas, espalhando morte e destruição por toda parte, inclusive na capital. 

    E vieram à tona inúmeras informações dando conta do desleixo do prefeito em relação a várias medidas de prevenção que poderiam ter evitado que a tragédia atingisse a proporção terrível que ganhou.

    A falta de manutenção e controle dos equipamentos responsáveis pelo bombeamento das águas do Rio Guaíba, atribuição da prefeitura, foi amplamente noticiada pela imprensa nacional. Mas essa é apenas uma das falhas da gestão de Melo que ajudam a entender a dimensão da tragédia.

    Escrevo no dia em que o aeroporto Salgado Filho foi reaberto parcialmente. Os grandes times de futebol do estado, Grêmio e Internacional, só recentemente puderam reabrir seus estádios. Ainda há uma quantidade considerável de gente vivendo em abrigos e as marcas sociais da tragédia ainda serão sentidas por longo tempo, embora o governo Lula tenha prestado um socorro recorde ao Rio Grande do Sul de quase R$ 200 bilhões.

    E tudo isso foi esquecido como em um passe de mágica? Como pode?

    Que estranha lógica suicida é esta que faz o eleitor optar pelo voto no seu algoz? Quanto de Síndrome de Estocolmo  (que é quando a vítima se apaixona pelo seu carrasco) tem nesse caso? 

    Claro que Porto Alegre não é um fenômeno isolado. Desde 2013, com as chamadas jornadas de junho, altas doses de intolerância, preconceito,  intolerância e ódio vêm sendo inoculados no organismo da sociedade pela extrema-direita. 

    Uma dia desse os Camarotis da vida comentavam na GloboNews a iminente derrota do PT em um dos seus principais redutos de outrora. Embora este declínio eleitoral se deva a várias causas, inclusive a erros do partido, ao preferir o bolsonrista Melo a Maria do Rosário os maiores derrotados são os eleitores de Porto Alegre.

    Logo o tempo dirá.

    Maria do Rosário é um quadro político preparado  e já com experiência considerável na vida pública. Seus mandados parlamentares são referência na luta pela promoção e defesa dos direitos humanos.

    E é justamente seu compromisso de vida com as mulheres, os negros, indígenas, quilombolas, LGBTQIA+, as vítimas da violência do Estado e os mais pobres que fazem dela um dos alvos preferenciais do fascismo nativo. 

    Longe de mim questionar a soberania popular, mas não deixa de ser chocante e assustador que Maria do Rosário possa ser preterida pelo bolsonarista Melo depois de tudo que aconteceu em Porto Alegre. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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