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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Desajustados, ressentidos e rancorosos

O primeiro turno das últimas eleições brasileiras apresentou fenômenos dignos de registro para posterior reflexão

Urna eletrônica (Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE)

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O primeiro turno das últimas eleições brasileiras apresentou fenômenos dignos de registro para posterior reflexão. Alguns candidatos, passando ou não para o segundo turno, cumpriram agendas e se colocaram como figuras com as condições pessoais de se ajustar em cargos da administração. Outros transmitem a ideia de haver participado de um espetáculo subalterno, ansiosos por tirar proveito de situações escusas. Entre esses, destacam-se os nomes de Pablo Marçal, de triste figura; do André Fernandes, notável pelas práticas de depilação; e do Abílio Brunini, já célebre pelas aparições bizarras.

Estrelas de uma espécie de submundo intelectual e político, imaginam que nos transformamos num país tão excêntrico que lhes oferecemos lugar em nossas arenas de um colóquio importante. Gente que em outra época não sairia do anonimato, hoje, graças às redes sociais e à generosidade das televisões, passou a dividir as luzes obscuras da sociedade e ali desejam permanecer, com promessas para o futuro. Felizes as nações que cultivam heróis. Mas tristes as que, na falta deles, valorizam o ridículo e acalentam anomalias. Se prosseguirmos em semelhante opção, logo cumpriremos um rol de projetos estapafúrdios, como, em parte, nos aconteceu com a gestão de Bolsonaro. Democracias assim alimentam pesadelos que perseguem o presente e contaminam de desesperança um amanhã possível. E o pior é que tais lideranças não demonstram pudor de se expor frente a plateias à beira da histeria, dizendo-se perseguidos e exigindo compensações.

De todos, sem querer diminuir nenhum, Pablo Marçal imprime nas retinas um exemplo de arrogância digno de nota. É como se ele não tivesse perdido a disputa para se colocar ainda como um quadro capaz de alterar alguma coisa. Fala como se houvesse vestido a fantasia de um rei, para não desgastar a imagem de um deus, em parte por se considerar rico e, portanto, acima das injunções comuns. Pouco se lhe dá se em torno de seu currículo entra uma sentença de quatro anos e meio, por pouco não cumprida. Isso, somado pelas vezes em que arranhou a legislação, bastaria para enquadrá-lo nos requisitos da norma da Ficha Suja e alijá-lo de quaisquer pretensões. Finalmente, depois de se expor com falsas denúncias contra Guilherme Boulos, devidamente esclarecidas e desmontadas, é fato que não deixa margens para dúvidas em termos de caráter. Aristóteles costumava observar que o homem é um animal político.

Da maneira como as coisas avançam, pode-se concluir que, cada vez mais, estes mesmos homens se metamorfoseiam em bestas, com perdão da má palavra, virando seres irracionais. Por uma brecha no sistema, o tal de Marçal, também chamado de “coach”, própria ou impropriamente, talvez volte ao anonimato. Esperemos que sim. Outros, como Fernandes e Brunini, numa segunda volta, ainda conspiram para que ninguém lhes note os defeitos... E la nave va, como diria Fellini. Afinal, no plano da política, já sofremos demais. Esperemos que os elementos nos guardem e protejam, com ou sem chuvas, apagões e podas de árvores...

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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