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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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Deus e seu filho voltarão de Paris com medalhas no peito

“A pregação religiosa se expande e ganha a vitrine das Olimpíadas”, escreve o colunista Moisés Mendes

Olimpíadas em Paris (Foto: Reuters)

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Não subestimem o Deus que se apresenta com os atletas brasileiros em Paris. Esse Deus do pentatlo virá ainda mais forte das Olimpíadas para outras missões na arena da política. E vem cheio de medalhas.

O Deus que foi a Paris é o mesmo Deus, com algumas variações, que está acima de tudo e de todos com Malafaia, Bolsonaro e Michelle. Não é preconceito nem estigma. É a realidade. 

Não é mais o Deus malvado e severo da Igreja Católica, mas o que explica e resolve tudo que acontece se houver engajamento incondicional de seus fiéis. Um Deus presente e prestativo, um Deus de resultados.   

Não estamos convivendo mais com a entidade do ‘graças a Deus’ e do ‘que Deus te abençoe’ dos cristãos de antigamente, que detinham a hegemonia da representação de Deus no Brasil até o final do século 20. 

Esse agora é um Deus pragmático. Não é um Deus ocasional convocado nas horas difíceis, muitas vezes por quem nunca entrou numa igreja e nem sabia rezar um Pai Nosso.

A política, o esporte e a vida cotidiana, tomadas por inspirações religiosas, estão com o Deus neopentecostal no coração, e é isso o que se repete em Paris pela voz de atletas do judô, skate, vôlei, surfe.

É possível que Deus já tenha estado até mais presente do que em Paris em competições com a participação de brasileiros. Mas nunca teve uma vitrine do tamanho das Olimpíadas.

O Deus que foi a Paris é parte da vida de atletas excepcionais, não é apenas um explicador de performances e medalhas. Ele está ali, não é um Deus que vá se buscar em igrejas ao lado de imagens de santos e santas. É um Deus sem santinhas. Ele e apenas seu filho Jesus, um filho que é o caminho, a verdade e a vida.

Muitas das declarações de atletas brasileiros, na vitória e na derrota, têm um trecho dedicado a Deus e a Cristo até na linguagem dos sinais. O vínculo religião-esporte, que já teve seus momentos no futebol e depois refluiu, chega com força a outras competições.

Enganam-se os que, por preconceito, enxergam essa religiosidade associada apenas a atletas pobres e suburbanos. O Deus medalhado é também de classe média e branco.

O que talvez ajude a entender por que Michelle Bolsonaro está à frente do marido e de Tarcísio de Freitas em pesquisas com os nomes para 2026. Michelle está mais próxima de Deus do que os outros.

O que explica também por que Bolsonaro foi às redes sociais para condenar o alerta do Comitê Olímpico Internacional à delegação brasileira, para que Rayssa Leal não fizesse mais referências religiosas em suas aparições.

Bolsonaro escreveu a respeito nas redes sociais: “Os progressistas odeiam o cristianismo. Não porque ele ‘ofende’ grupos ‘minoritários’, pois não ofende; ao contrário, o cristianismo acolhe a todos. O problema dos progressistas com o cristianismo é o sistema de valores que este último ensina, um grande obstáculo ao avanço do comunismo”.

Num pulinho, sem muito esforço e sem skate, Bolsonaro saltou para o lado de Rayssa, que chegou a ter seu nome citado numa fake news que a vinculava a apoios à família que se diz religiosa. 

Rayssa e os outros atletas são inspiradores de esforços pessoais, superação e conquistas. Se estiverem com Deus, melhor ainda para os pregadores fundamentalistas.

Mesmo que esse vínculo não exista e seja desmentido, a expansão do bolsonarismo evangélico leva Deus e Jesus às arenas de Paris e reforça o que é irreversível: pai e filho atuam em todas as modalidades. O Deus brasileiro olímpico é ouro puro.

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