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    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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    Dia histórico: Brics quebra hegemonia imperialista americana e sinaliza novo tempo multipolar de cooperação internacional

    'Não é mais uma potência militar hegemônica: os Estados Unidos. São três potências que passam a dividir o poder mundial: Rússia, China e EUA', diz César Fonseca

    Xi Jinping (à esq.) e Vladimir Putin (Foto: Alexander Zemlianichenko/Pool via Reuters)

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    Não é mais uma liderança política mundial, capitaneada pelos Estados Unidos.

    A hegemonia americana acabou.

    Sobem no palco global dois novos atores internacionais que dividem com o presidente americano, Joe Biden, o novo jogo do poder mundial: Putin e Xi Jinping.

    Sai de cena o mundo unipolar imperialista ocidental e entra o mundo multipolar puxados por China e Rússia, o mundo asiático, o mundo da rota da seda, da exploração de novas fronteiras econômicas globais na era da Inteligência Artificial.

    Não é mais uma potência militar hegemônica: os Estados Unidos.

    São três potências que passam, preliminarmente, a dividir o poder mundial: Rússia, China e EUA.

    Não é mais uma moeda, o dólar, a dar as cartas.

    São as moedas nacionais, locais, integrantes do novo bloco de poder, o BRICS, que movimentarão o comércio mundial.

    Os BRICS - 11 países integrantes e 32 outros pretendentes, compondo o Sul Global - são 45% da população global, 36% do PIB mundial em paridade do poder de compra, enquanto o G7 alcança, apenas, 29,3%.

    A União Europeia, 14,5% do PIB mundial, é, tão somente, um terço do BRICS.

    O velho mundo se rebaixou, espetacularmente, depois de subordinar-se completamente aos Estados Unidos, contrários à aproximação da Europa da Rússia.

    NOVO PODER MONETÁRIO

    As conversões monetárias se transformam no novo dinamismo das relações de trocas globais.

    A hegemonia do dólar dá lugar à multiplicidade das moedas internacionais em livre jogo de intercâmbio monetário para movimentar a nova divisão de trabalho.

    A inteligência humana, no seio dos BRICS, no Banco dos BRICS, cria um novo meio de pagamento internacional, alternativa ao criado pela potência hegemônica - o swfit.

    Trata-se de câmara internacional de compensações de trocas monetárias compatíveis com proposta de mundo multipolar dinâmico.

    Cria-se alternativa ao modelo que está ruindo, erguido em Bretton Woods, 1946, pós guerra, sob domínio do dólar e suas agências financeiras internacionais - FMI e Banco Mundial -, inviáveis para atender demanda internacional por desenvolvimento econômico internacional sustentável, cooperativo e coletivo.

    Os Estados Unidos criaram sistema de compensação monetário e de pagamentos individualista que atende preferencialmente o interesse dos Estados Unidos como potencial universal.

    VISÃO COLETIVA ENTRA EM CENA

    De agora, em diante, com o modelo BRICS, a visão individualista dá lugar a uma visão coletiva, a se consolidar, paulatinamente, ao longo do século 21, marcando diferença qualitativa relativamente ao século 20, assim como o século 20 marcou diferenças quantitativa e qualitativa em relação ao século 19.

    A coletividade econômica internacional multipolar abandona o individualismo econômico unipolar.

    A visão de coletividade introduz, no cenário multipolar, o espírito cooperativo econômico global, sobre uma nova base monetária centrada nas trocas comerciais com moedas nacionais.

    A soberania nacional, pressuposto econômico e político para garantir emissão monetária, é o próprio equilíbrio do novo sistema monetário.

    A emissão monetária soberana, segundo concepção do BRICS, em discussão nesta semana em Kazan, Rússia, será coordenada por entendimentos e não por conflitos internacionais.

    Seria, no plano da economia política, o lançamento de base de governo mundial necessário à coordenação internacional.

    VINGANÇA DE KEYNES

    John Maynards Keynes chegou a propor, em Bretton Woods, em 1946, criação de sistema de compensações internacionais (clearing) ancorado no controle de balanços de pagamentos de modo a evitar surtos de bancarrotas financeiras, desorganização financeira internacional etc.

    Os Estados Unidos, vencedores da guerra, não aceitaram a sugestão do genial economista inglês, e o mundo caminhou para a nova guerra dinamizada pela moeda hegemônica.

    O capitalismo seria compatível com esse tipo de controle que evita a lógica do próprio capitalismo, que é a de promover sem limites acumulação de capital, que leva à guerra, como se vê, no momento, com a predominância incontrolável da financeirização especulativa global comandada pelo dólar, moeda da guerra?

    Novo sistema monetário internacional, parteiro de nova divisão internacional do trabalho, é incompatível com a anarquia financeira especulativa que produz guerras e perigo de exterminação do meio ambiente.

    MULTILATERALISMO = PÓS-CAPITALISMO

    Multilateralismo promove novo capitalismo ou um pós-capitalismo?

    O fato é que nasce na Rússia, em Kazan, sob comando de dois novos líderes internacionais, Vladimir Putin e Xi Jinping, o novo multilateralismo, suficientemente amplo para conceber um passo além do capitalismo rentista, especulativo, sobre acumulador de riqueza, a gerar ganância e individualismo, que leva à guerra.

    Pede passagem à cooperação e coletivismo econômico internacional bombeado por moedas nacionais em processo de cooperação global, proposta intrínseca aos propósitos essenciais do BRICS para derrotar o imperialismo americano.

    32 líderes internacionais estão na Rússia para inaugurar o novo tempo econômico que nasce com promessa de cooperação internacional no lugar do velho tempo que morre por ter sido incapaz de institucionalizar a fraternidade global em forma de oferta de oportunidade para todos alcançarem a verdadeira dignidade humana sob o capital especulativo.

    Derrota espetacular do individualismo egoísta que prioriza o amor-próprio exacerbado e não o amor fraternal de uma humanidade que tem o ser outro em si mesmo como base da criação de nova sociedade.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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