Digitalização e financeirização sempre juntas e misturadas na espiral de acumulação infindável
"Tudo isso reafirma o que temos chamado de 'tripé do capitalismo contemporâneo'", explica Roberto Moraes
A matéria da revista Exame: "A estratégia por trás do fundo tokenizado da Blackrock: O primeiro fundo tokenizado público da BlackRock não é apenas um marco financeiro, mas um testemunho de seu compromisso em revolucionar as finanças tradicionais", é, na verdade, mais uma propaganda do maior fundo financeiro global, o americano BlackRock que tem patrimônio líquido de mais de US$ 10 trilhões.
Vale registrar que atualmente a revista Exame está nas mãos do grupo financeiro BTG Pactual, assim como quase todos os demais portais que tratam de notícias financeiras no Brasil.
Nessa propaganda se vê que além da já conhecida plataforma tecnológica Aladdin, o BlackRock já está utilizando para a sua capitalização e para modelar seus movimentos financeiros atrás de maiores lucros em curtos prazos, outra plataforma financeira: o "BUIDL, Fundo de Liquidez Digital Institucional" que opera ETFs na rede Ethereum, com bitcoins, tochenização e outros com uso da tecnologia blockchain em negócios com ativos digitais.
Assim, imbricados e enlaçados, a digitalização vai lubrificando a acumulação entre ativos reais (tradicionais) e financeiros, garantindo aos seus investidores liquidez 24/7 (transferibilidade em 24 horas e 7 dias por semana) - fluidez total - com "conexão perfeita entre as finanças digitais e tradicionais" e "pagamentos de dividendos diários dos investimentos".
Tudo isso reafirma o que temos chamado de "tripé do capitalismo contemporâneo" sustentado pela digitalização de quase tudo como etapa atual da reestruturação produtiva; a hegemonia financeira; e a racionalidade neoliberal do mercado.
Capitalização e valorização juntas e misturadas, constituindo a "espiral de acumulação infindável" denominada por David Harvey, ou o que chamo de capital helicoidal no meu livro "A 'indústria' dos fundos financeiros: potência, estratégia e mobilidade no capitalismo contemporâneo" (Consequência, 2019).
Capital helicoidal como movimentos do capital em torno de um eixo que jamais passa por um mesmo ponto, não constrói círculos e nem elipses que se fecham em si, mas trajetórias helicoidais em que o plano seguinte do movimento se situa num outro patamar de extração.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: