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    Luís Costa Pinto

    Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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    Do nome, fez-se o verbo. Do verbo, o movimento. No movimento, a determinação: reconstruir e reconciliar o País

    Em 2022, como nunca antes na História, Brasil precisa estar determinado a revogar ressentimentos e recalques para voltarem a esperança e o crescimento inclusivo

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    Por Luís Costa Pinto

    No outono da ditadura militar, período compreendido entre a derrota popular da emenda das Diretas, Já em abril de 1984 e a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral em janeiro de 1985, a face civil da escumalha apodrecida dos generais – Paulo Maluf, nome designado por eles para tentar conservar o “regime” instituído à força em 1964 – emprestou o sobrenome para um neologismo que denotava delinquência: malufar.

    Usada como sinônimo jocoso, sempre no campo da política ou, ironicamente, nas relações interpessoais, a expressão “malufar” significava “roubar”, “encobrir a verdade”, “disfarçar algo incorreto”, “negar a verdade ou os fatos”, “fraudar”. As equipes dos dicionários Aurélio, Houaiss e Caldas Aulete, os mais populares do País, debateram a fundo a dicionarização do termo. Porém, como ele caiu em desuso com as sucessivas derrotas políticas aplicadas a Maluf, ao malufismo e ao campo político dele, o tema foi superado pela dinâmica da vida.

    Nos dias de hoje, poder-se-ia dizer que Jair Bolsonaro, com a ajuda dos mesmos militares que tinham Paulo Maluf por porta-bandeira, malufou o pleito de 2018. Unido ao “Centrão” (integrado, aliás, por próceres do malufismo e coordenado pelo PP, herdeiro direto do PDS malufista), malufou a esperança dos brasileiros em ver o Congresso aplicando a punição constitucional a governantes abúlicos, vis, perversos e corruptos – o impeachment. 

    Mas, História é vida em movimento e 2021, o ano que enfim se vai, preparou as bases para um outro nome próprio se converter em verbo no campo semântico da política. 

    Em 2022, não tenham dúvidas, a palavra de ordem será “Lular”.

    Do apelido de Luiz Inácio da Silva, “Lula”, porque em Pernambuco todos os Luíses viram “Lula”, fez-se o verbo. Ao contrário do neologismo saído da raiz do malufismo, a conotação do novo verbo ainda não dicionarizado é boa, é do bem. 

    Numa acepção direta, “Lular” significa admitir que vota em Lula (PT) para a Presidência da República, mesmo quando pesem divergências pretéritas a ele ou aos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores entre 2003 e 2016 (quando o ciclo foi interrompido por um golpe jurídico/parlamentar/classista que cobra alto preço ao Brasil e aos brasileiros). 

    A coleção de pesquisas de intenção de voto realizadas nesse 3º ano da Era do Obscurantismo no Brasil revela que há uma velocidade ascendente de cidadãs e cidadãos “Lulando” por motivos diversos. Seja porque decidiram voltar a votar no ex-presidente depois de análise comparativa de mandatos e de saldos de legados históricos, seja porque revogaram implicâncias e temores surgidos nas abjetas fábricas de mentiras do lava-jatismo e do bolsonarismo que se uniram e foram amalgamadas pela gestão militarizada das redes sociais.

    Nunca antes em sua História, nem mesmo ao sair das ditaduras de Vargas e da militar, ou no ocaso do Império, o Brasil precisou tanto reunir energia e determinação em tal escala, revogar ressentimentos e recalques e se unir para voltar ao jogo de esperança e crescimento inclusivo. 

    Alquimias artificiais e antidemocráticas daqueles que ainda se dizem intolerantes com o PT, ou com Lula, e se confessam decepcionados ou traídos por Bolsonaro e pelo bolsonarismo – os “nem, nem” da política; os que traçam paralelos impossíveis e hiperbolicamente falsos entre “petismo” e “bolsonarismo” – não produziram vias diferentes para o País correr ao encontro de saídas políticas e constitucionais. 

    Com seus direitos políticos restaurados, vendo seus algozes de Curitiba, sobretudo o ex-juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, serem instados a pagar pelos crimes cometidos ao criarem, conduzirem e julgarem inquéritos e ações penais ao arrepio do Estado de Direito e das normas e diretivas da Constituição, o ex-presidente faz jus e é merecedor de todo o amplo diapasão de significados do verbo “Lular”.

    “Lular” significa admitir que tem esperança e que está disposto a dar novas cotas de sacrifício e empenho pessoais para reconstruir um Brasil ora em ruínas; “Lular” também quer dizer revelar-se disposto a reconciliações pessoais em nome de um projeto maior: reconciliar o País.

    Sem o estabelecimento de prioridades para a reconstrução – com foco na restauração da rede de proteção social, nos programas de inclusão e de redução de danos da extrema pobreza, nos mecanismos disponíveis para gerar aceleradamente emprego e renda, na reindustrialização brasileira, em programas de reconexão com instituições e ações que atuam na vanguarda da sustentabilidade e da preservação dos recursos naturais que temos e dos quais irresponsavelmente descuidamos – esta fundamental e inescapável reconciliação nacional não ocorrerá. Caso o pior cenário se dê, será mais que mero desastre ou nova tragédia na ziguezagueante biografia brasileira: vai ser a perda da última chance, da oportunidade derradeira de conservar o Brasil como Nação íntegra e detentora de território tão vasto.

    2022 é amanhã. “Lular” é verbo. E o verbo já se converteu em movimento. O movimento supera antagonismos menores, divergências vãs e pequenez de espírito. 

    Com a pretensão de ser mais que um desejo de “Feliz Ano Novo”, este artigo de opinião pretende ser um vaticínio. 

    Iremos nos encontrar diariamente nas páginas virtuais do Brasil247, nos canais da TV247, nas redes sociais. Com largueza d’alma, sem ódio e sem medo, com coragem e esperança desejo a todos um Feliz Ano Novo.

    Vamos Esperançar!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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