Dossiê Moro sobre a morte de Marielle segue em sua gaveta. Até quando?
Hoje, quando se completam 580 dias do crime bárbaro que ceifou a vida da vereadora mais votada do Rio, e de seu motorista, Anderson, um pai de família, é impossível não relembrar a existência de tão importante conjunto de documentos
Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Em primeiro de abril de 2019, às 05h da matina, a coluna de Ancelmo Gois, em seu blog em O Globo, trazia a seguinte nota:
“Sérgio Moro tem em mãos a história completa do caso Marielle.” E prosseguia no corpo da nota: “A Rádio Corredor do Ministério da Justiça e Segurança Pública diz que o ministro Sérgio Moro já tem na sua mesa a história completa do assassinato de Marielle e Anderson com os nomes de todos os envolvidos. Será?” (A notícia foi publicada também na edição impressa e chegou a quem quis lê-la naquele dia).
A data, o Dia da Mentira, nos leva a crer pode ter sido uma pegadinha. Porém, levando em conta que Ancelmo Gois não arriscaria o nome probo que tem, brincando com assunto sério, que envolve muita dor e a Justiça, sobra a pergunta: que fim levou?
Hoje, quando se completam 580 dias do crime bárbaro que ceifou a vida da vereadora mais votada do Rio, e de seu motorista, Anderson, um pai de família, é impossível não relembrar a existência de tão importante conjunto de documentos.
Tantos meses depois, muitas matérias da Vaza-Jato, no meio, e acompanhando a trajetória desastrada do rapaz de Maringá e sua participação no governo, surge uma outra hipótese, que na época não faria sentido, mas agora, depois que Moro se transformou num lobo na coleira de Bolsonaro, faz, sim, todo o sentido do mundo.
Ancelmo não daria a nota se não tivesse vindo de uma fonte confiável – certamente o próprio Moro, ou pessoa de sua confiança. O (des)governo mal começava, com declarações estapafúrdias, medidas as mais exóticas e crises, muitas crises, principalmente envolvendo o clã.
Donde se conclui que a nota foi uma tremenda plantação do Moro, que já devia estar vendo o fogaréu chegar para o centro da sua frigideira e, numa tentativa de pura intimidação, soltou uma nota-recado. Afinal, foi este o método adotado pelo ex-juiz e seus procuradores amestrados, enquanto equipe à frente da Lava-Jato. Soltar processos para distrair, soltar denúncias para tumultuar, executar prisão para embaralhar o jogo sucessório e gravações ilegais.
É bom relembrar que foi no mês seguinte, em maio, o café da manhã de Bolsonaro com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia; o do Senado, Davi Alcolumbre e o do Supremo, Dias Toffoli. Os três, hoje se sabe, acorreram ao Planalto para firmar o tal pacto da governabilidade - conforme revelado em entrevista de Dias Toffoli, recentemente - evitando a queda de Jair, às voltas com o caso Flávio/Queiroz. A história do chefe de gabinete do filho de Bolsonaro, que movimentou R$ 1,2 milhão, despertando suspeita da prática de executar “rachadinhas” em nome do então deputado estadual.
Tudo leva a crer que o dossiê existe, está trancado na gaveta do Moro e, tal como a ordem que chegou à Polícia Federal do Rio, para travar qualquer movimentação ou investigação sobre Flávio, ainda que seja para trocar de uma gaveta para outra, faça parte de um intrincado jogo de chantagens.
Naquele momento, o tal primeiro de abril, Moro já devia estar sendo incomodado pelas tricas e futricas da corte, e mandou o recado contundente. Dali para cá, quase foi destituído, mas segue humilhado, desidratado e tendo que ceder a cada dia para a família do firim-fim-fim. Porém, até agora, parece “inarredável”. Bolsonaro está nas mãos de Moro. Moro está nas mãos de Bolsonaro. Até quando?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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