Dragão de estimação: direita conspira a favor da inflação
Para a direita, o Dragão da Inflação é somente um PET. É seu monstro de estimação: uma besta treinada e domada conforme seus interesses
Em 2023, a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor, fechou em 4,62%, abaixo do teto estabelecido pelo Banco Central, que era de 4,75%. Esse resultado representa a primeira vez, desde 2020, em que a meta foi cumprida. Apesar disso, um discurso de caos inflacionário é usado contra o governo Lula.
Para faturar, a direita nunca se importou em botar fogo em tudo. Durante o governo de Salvador Allende, no Chile, a direita empregou estratégias de desabastecimento, de manipulação de preços, de sabotagem logística e de fuga de capitais para gerar uma percepção generalizada de crise para enfraquecer o governo. No Brasil, um exemplo emblemático desse modus operandi foi a Operação Lava Jato, que, sob o pretexto de combate à corrupção, sabotou a economia brasileira. A ofensiva jurídica não apenas desmontou grandes empresas nacionais, como também comprometeu cadeias produtivas inteiras, gerando desemprego massivo e recessão econômica. Entre 2014 e 2017, aproximadamente 4,4 milhões de postos de trabalho foram eliminados devido aos efeitos da Lava Jato. Destes, cerca de 1,1 milhão estavam no setor da construção civil. As maiores construtoras brasileiras registraram uma redução de 85% em suas receitas, refletindo a paralisação de obras e a perda de contratos. No mesmo período, houve uma queda de 3,6% no Produto Interno Bruto. A Petrobras, antes um motor do desenvolvimento nacional, teve investimentos drasticamente reduzidos, impactando diretamente setores fundamentais como a construção civil e a indústria naval. Grandes empresas brasileiras foram levadas à ruína, permitindo que grupos estrangeiros ocupassem o espaço deixado pelas corporações nacionais, levando o Brasil a perder sua capacidade de competir globalmente em áreas estratégicas, enquanto multinacionais se beneficiaram do vácuo deixado pelo desmonte patrocinado pela Lava Lato, para gerar instabilidade política e pavimentar a volta da direita ao poder, através de um processo jurídico instrumentalizado para favorecer mudanças regressivas e um projeto econômico alinhado com os interesses econômicos das grandes corporações internacionais, o que reestabeleceu a dependência do país em setores chave.
A naturalização do sofrimento coletivo pelos economistas fazendários, como sendo um efeito colateral necessário e inevitável, reforça a perpetuação do poder de quem se beneficia desse modelo. Para esses agentes, a recuperação da economia só é desejável quando ocorre sob condições que consolidam e ampliam a sua hegemonia, mesmo ao alto custo do sacrifício imposto à população, que é tratado como um dado técnico, e não como uma questão ética e social que exige respostas estruturais e humanizadas.
Ao longo da história, os grandes interesses financeiros sempre se beneficiaram da instabilidade sempre e quando ela favorece seus interesses. As elites econômicas vêm nas crises oportunidades para reforçar a sua influência, expandir seu patrimônio e desmantelar políticas que beneficiam o equilíbrio social.
A lógica do lucro irrestrito não se abala diante do colapso da produção local, da escalada dos preços ou da erosão do poder de compra dos mais pobres. Os grandes detentores de capital protegem suas riquezas através de ativos dolarizados, aplicações em mercados globais e operações financeiras estruturadas para mitigar riscos internos. Assim, quando ocorrem desvalorizações cambiais ou aumentos abruptos na taxa de juros, quem detém fortunas consegue manter e até expandir os seus ativos, enquanto a maioria da sociedade arca com os efeitos adversos.
Na esfera política, a instabilidade econômica proporciona um ambiente propício para reformas regressivas e concentração de poder. Crises monetárias e o enfraquecimento da indústria servem de justificativa para privatizações, flexibilizações trabalhistas e redução de investimentos públicos. Toda turbulência é transformada em pretexto, pela direita, para aprofundar desigualdades e retirar direitos, sob o argumento da necessidade de maior responsabilidade fiscal.
A desordem econômica também é instrumentalizada para deslegitimar governos que priorizam distribuição de renda e desenvolvimento social. Movimentos conservadores frequentemente exploram cenários de alta dos preços e desemprego para enfraquecer gestões progressistas, mesmo que as causas desses problemas estejam associadas a políticas anteriores ou à dinâmica do mercado internacional. O bombardeio midiático e o uso de narrativas alarmistas contribuem para que setores da sociedade passem a apoiar medidas que, a longo prazo, agravam sua própria situação.
Dentro dessa linha perversa de raciocínio, a inflação é só mais uma arma utilizada pela direita. Mesmo sendo um dos mais nefastos fenômenos econômicos, capaz de corroer o poder de compra da população, gerar descontentamento social e abrir espaço para manipulação política, ela é utilizada sem pudor pelas elites como instrumento de lucro e de desestabilização política contra opositores.
A direita e, sobretudo, a extrema-direita, se aproveita do cenário inflacionário para desestabilizar governos progressistas e pavimentar caminhos para golpes institucionais ou para a implantação de políticas de austeridade econômica prejudiciais às camadas mais pobres.
Políticas neoliberais, favorecem e incentivam a alta de preços por meio da especulação e priorização dos interesses do capital financeiro. Por essa razão os “economistas” badboys neoliberais, para agradar aos seus amos, criticam duramente as ferramentas que poderiam controlar o processo inflacionário, como o crédito direcionado para setores produtivos e pequenas empresas; a reforma tributária progressiva, que taxa os mais ricos; a redução de subsídios para grandes corporações; a adoção de estoques estratégicos de alimentos e combustíveis; o combate à especulação; o incentivo à agricultura familiar e à indústria nacional; o estímulo à economia solidária e cooperativas; o controle da volatilidade do câmbio; a substituição de importações pela produção nacional; os acordos comerciais estratégicos com países asiáticos; o aumento real do salário mínimo; as políticas de transferência de renda; os subsídios para transporte e energia, e o fim da tributação sobre a cesta básica.
O economista David Harvey diz que os ciclos inflacionários podem ser facilmente manipulados para transferir riqueza das classes populares para as elites financeiras. Em situações de crise inflacionária, os especuladores e plutocratas exigem que medidas extremas de austeridade e uma política monetária de juros altos sejam sempre impostas como únicas soluções possíveis, reduzindo a proteção social, o que agrava ainda mais as desigualdades. As únicas saídas possíveis, para os tecnocratas fazendários de direita, são apenas as que envolvem a redução de direitos trabalhistas, privatizações e cortes nos gastos sociais. Na realidade, o poder econômico, que nunca perde tempo para roubar, aproveita-se do aumento da inflação, para pressionar por medidas que o beneficiem, explorando momentos de crise para justificar a adoção de políticas que dificilmente seriam aceitas em tempos de estabilidade. A ideia é faturar radicalmente às custas do desemprego em massa, da estagnação econômica e do aprofundamento da desigualdade social e, de lambuja, ainda derrubar um governo progressista.
Para a direita, o dragão da inflação é somente um PET. É seu monstro de estimação: uma besta treinada e domada conforme seus interesses. Para os mega ricos e seus xerimbabos tecnocratas, não importa que as camadas populares sofram com a perda do poder de compra, desde que a elite financeira lucre com a especulação. A inflação, na verdade, é mais uma arma política nas mãos da direita e da extrema-direita, para alimentar a instabilidade e abrir espaço para seus projetos de poder antidemocráticos.
Como nos lembra a grande Maria da Conceição Tavares, a economia é, antes, política. A história mostra que o combate à inflação não pode ser dissociado da luta contra os interesses que se beneficiam dela, porque estes são os que mais combatem quem a combate.
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