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    Paulo Roberto Andel

    Estatístico, escritor, autor e coautor de 26 livros sobre esportes, crônicas, Rio de Janeiro, política, humor e poesia

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    Durski, Justus, Veio da Havan...

    O que os três senhores têm em comum além do discurso que empenham, carregado da total falta de empatia, desprezo pela classe trabalhadora que sustenta seus negócios e irracionalidade diante da mais grave questão de saúde que assola o mundo no século XXI?

    Junior Durski (Foto: Divulgação/Guilherme Pupo)

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    Para Junior Durski, o dono do Madero, o Brasil não pode parar porque podem morrer uns sete mil velhinhos por conta do Covid19. 

    Já Roberto Justus, famoso por popularizar na TV a humilhação e o assédio como características naturais do mundo corporativo, só há risco para velhinhos e gente já doente.

    Hang, o notório Veio da Havan, exótico ser empresarial que mais parece o Máscara, famoso personagem de Jim Carrey no cinema, faz lives chantagistas na internet, ameaçando demitir todos os seus funcionários caso a crise mundial não se dobre a seus desejos. 

    O que os três senhores têm em comum além do discurso que empenham, carregado da total falta de empatia, desprezo pela classe trabalhadora que sustenta seus negócios e irracionalidade diante da mais grave questão de saúde que assola o mundo no século XXI? E dos sobrenomes de colonizadores? 

    Simples: cada um a seu modo, eles representam de forma translúcida o modus operandi e a visão da maioria dos empresários brasileiros, sejam bilionários ou quase desabonados. 

    Não estamos nessa draga à toa, carxs amigxs.

    O golpe de 2016 teve clara participação do patronato brasileiro. Antes disso, já em 2014/15 - e muito antes do fim das contribuições assistenciais -, diversas entidades sindicais patronais simultaneamente ofereceram a seus funcionários a redução de parte dos salários conjuntamente com a jornada, também recomendando o mesmo às suas empresas associadas. É um assunto pouco explorado na mídia, mas conhecido de qualquer participante daquele universo à época. As bravatas do Instituto Millenium viraram a bíblia de muitos empregadores, sendo que havia um consenso de que no Brasil os funcionários ganhavam muito e custavam caro. Não havia o menor interesse em gerar empregos e "fazer o Brasil crescer", mas simplesmente achatar salários. 

    Quando veio o golpe, a cereja do bolo estava na "reforma" (leia-se dilapidação) trabalhista. Demissões em massa e eventual recontratação dos trabalhadores considerados essenciais com salários reduzidos em até 70%. O resultado disso foi a maior estatística de informalidade nominal da história do país. Era preciso sepultar de vez a Era Lula, acabar com as perspectivas de ascensão social e "colocar os pobres em seu lugar". A nova geração de milhões de jovens, ao contrário da antecessora que conseguia seu primeiro emprego e tinha no Fies a chance de cursar uma faculdade, restou o corte final, na eleição de O Estrupício: juntar moedas, alugar uma bicicleta do Itaú, botar um caixote nas costas e entregar aos clientes a comida que nunca podem comer, já que mal dispõem de um salário mínimo mensal, sem contar zero garantias trabalhistas.  

    Nada neste processo deixou de ser aplaudido pela CNI, FIESP e congêneres. Algumas destas entidades nem disfarçaram seus objetivos, aparecendo publicamente nos movimentos golpistas e pró-Estrupício. 

    Trata-se de um processo longo, que tem fundamentos simples: parte da classe empresarial entende que o Brasil é cheio de vagabundos imprestáveis, que é um favor oferecer vagas de emprego (como se seus negócios pudessem funcionar sem mão de obra) e que os "agraciados" devem agradecer a Deus por um salário mínimo. Esse discurso é massivo: agradeça a Deus por ter um emprego, agradeça a Deus por ter um emprego, agradeça a Deus por ter um emprego. Curiosamente, aí não tem meritocracia...

    Esse primitivismo na visão deturpada da figura do trabalhador brasileiro tem raízes - fortes - na transição feita da abolição da escravatura até a legalização dos direitos trabalhistas, com Vargas. Antes, o senhor de engenho, o doutor, via os escravos como eram: escravos. Seus herdeiros e próximos mantiveram a mesma percepção. Em 1912, 24 anos depois da abolição, o influente Jornal do Comércio publicava em sua primeira página um grande anúncio (na época era assim) com os seguintes dizeres: "Alugo trabalhadores, fortes, padrão (negros), tratar pelo telefone XYZT". Com o passar do tempo, a imigração e a industrialização, o tratamento dado aos trabalhadores negros foi expandido para os interioranos, nordestinos e outros. Em suma, pobres. E assim ficou para sempre. Mais tarde, com a entrada maçiça da mulher no mercado de trabalho, ela também recebeu toda sorte de opressões, assédios e humilhações, que vão do assédio ao salário reduzido. Os exemplos são inúmeros e dariam um livro inteiro. 

    Em que lugar do mundo se cogitaria uma aberração por completo como a suspensão de pagamento dos trabalhadores por 120 dias para salvar o país? Em que lugar, diante de uma pandemia intercontinental que está matando milhares e milhares de pessoas, lideranças empresariais fariam questão de dizer publicamente que os empregados não podem parar? 

    Só num lugar onde o empregado é tratado feito um estorvo, um peso nas costas, como se o empregador o contratasse e o mantivesse vinculado à empresa por caridade? Só no Brasil é mais nenhum outro lugar da Terra (esférica, por sinal). 

    Não bastasse tudo isso, a maioria do empresariado brasileiro que defende tais sandices, e que se familiariza com o exótico trio descrito no início desta coluna, é tão ignorante, mas tão ignorante, que não consegue sequer perceber o que está acontecendo com negócios bilionários em todo o planeta. O futebol parou, a NBA e a Fórmula 1 também. As Olimpíadas foram adiadas nesta terça-feira. Todos os maiores artistas do show business mundo afora cancelaram suas turnês internacionais - estão fazendo shows em suas casas, transmitindo pela internet. Será que todos estão rasgando bilhões voluntariamente ou perceberam a gravidade da situação? 

    Para finalizar, é preciso voltar a Junior Durski. Mais uma vez, seu parceiro comercial Luciano Huck mostra que é um sujeito azarado. Huck já teve que remover fotos das redes sociais ao lado de Aécio Neves, Alexandre Acioly, Joesley Batista, Tabata Amaral, Sergio Moro e outros, vem aí mais um nome para a lista do megaempresário, sempre enganado ao escolher seus parceiros. 

    Mais azarado do que Huck, só quem mora no condomínio do assassino de Marielle, era amigo do Queiroz, do Capitão Adriano, foi "injustiçado" pelo falecido Bebiano e, para piorar, viaja com um traficante com 39 quilos de cocaína no avião ao lado. 

    Santo azar, Batman!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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