Efeito Kamala sacode o tabuleiro eleitoral e zera o jogo
"Resta saber como o eleitorado dos EUA reagirá à candidatura de uma mulher negra", escreve Bepe Damasco
A desistência do presidente Joe Biden de concorrer à reeleição cria um fato político novo com potencial para barrar o crescimento de Trump, jogar os holofotes sobre o Partido Democrata e criar as condições favoráveis à vitória da vice-presidente Kamala Harris, cuja indicação para substituir Biden está praticamente sacramentada.
Não é exagerada a afirmação de que estamos diante de uma outra campanha. Desde 27 de junho, dia do debate desastroso para Biden, Trump nadava de braçada, saboreando o grande número de lideranças democratas cobrando a desistência de Biden, capitalizando o atentado sofrido por ele e explorando a exposição midiática da convenção do Partido Republicano.
Agora o foco da mídia muda de direção e se volta para as hostes do Partido Democrata.
Resta saber como o eleitorado dos EUA reagirá à candidatura de uma mulher negra à presidência da República. A minha expectativa é que essa aposta na diversidade de gênero (nunca uma mulher presidiu os EUA) e na representatividade da população negra e imigrante chacoalhe o tabuleiro político de uma forma tal que leve à derrota do fascismo.
Misógino de carteirinha, com histórico alentado de declarações públicas ofensivas às mulheres, Trump certamente dará vazão ao seu machismo quando debater com Kamala, o que lhe trará desgastes e prejuízos eleitorais.
Vejo como equivocada a posição de parte da esquerda brasileira, para quem "tanto faz" quem ocupe a Casa Branca nos próximos quatro anos. É "óbvio ululante", tomando emprestada uma expressão de Nelson Rodrigues, que o Estado norte-americano, independentemente de quem o governe, é imperialista.
Também está no DNA do establishment político e econômico estadunidense o apoio ao sionismo e a consequente cumplicidade com a atrocidades cometidas por Israel contra o povo palestino ao longo de sete décadas.
Contudo, o que está em jogo na eleição de 5 de novembro nos EUA é a defesa da democracia global, seriamente ameaçada se Trump for eleito. Neste caso, a luta contra o avanço da extrema-direita em escala mundial, com inevitáveis reflexos no Brasil, sofreria forte abalo.
São muitas as nuances, contradições e complexidades presentes na sociedade e na política dos EUA. O Partido Democrata, por exemplo, apoia a sanha militarista e expansionista do império ao redor do mundo, mas abriga em suas fileiras importantes segmentos progressistas formados por negros, mulheres, hispânicos, defensores da causa LGBTQIA+, intelectuais, sindicalistas e artistas.
A relação entre países se dá sobre uma rede intrincada de interesses, nem sempre de fácil compreensão. As diplomacias do Brasil e dos EUA travam embates frequentes nos organismos internacionais. Mas Biden foi o primeiro líder mundial a se congratular com Lula por ter derrotado a tentativa de golpe no Brasil, em 8 de janeiro de 2023.
Imaginar a maior potência econômica, militar e nuclear do planeta sendo governada, mais uma vez, por um lunático fascista como Trump é alarmante. Ah, mas ele já governou por quatro anos e "latiu mais do que mordeu", dirão alguns.
A estes recomendo não esquecer que o negacionismo de Trump fez dos EUA o país recordista mundial em mortes por covid-19. Além disso, boa parte de sua obra de destruição civilizatória estava prevista para um segundo mandato que não aconteceu.
Ele não pode ter outra chance.
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