Eleição na Venezuela ostenta ‘novo mapa’ político da América Latina. Caracas exige saída de diplomatas

Nas últimas horas, a América Latina encara uma espécie de terremoto político que confirma a sua fragmentação ideológica dos últimos tempos e que é um retrato diferente do que se viveu no início dos anos 2000, no primeiro mandato do presidente Lula, quando seus colegas eram Tabaré Vázquez e Pepe Mujica, no Uruguai, Néstor Kirchner, na Argentina, Fernando Lugo, no Paraguai, entre outros com viés ideológico similar.

Num comunicado, no fim da tarde desta segunda-feira, divulgado na rede social do chanceler venezuelano Yván Gil, o país governado por Nicolás Maduro exige a retirada dos representantes diplomáticos dos “governos de direita, submetidos a Washington” e “comprometidos com o fascismo internacional” pela “ingerência” na Venezuela. A relação inclui os embaixadores da Argentina, do Chile, da Costa Rica, do Peru, do Panamá, da República Dominicana e do Uruguai. No texto, afirma-se ainda que a Venezuela também convocará seus representantes diplomáticos nestes países.

Na véspera, num comunicado conjunto, Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai “exigiam a completa revisão do resultado, com a presença de observadores independentes”.

Enquanto o ex-chanceler Celso Amorim, enviado do presidente Lula à Caracas, disse, nesta segunda-feira, que prefere esperar os resultados das atas de votação para ter uma conclusão sobre o resultado da eleição de domingo (28), o presidente argentino Javier Milei, por sua vez, gravou um vídeo chamando Maduro de “ditador”. Poucas horas antes da eleição presidencial venezuelana, Milei tinha telefonado para a líder da oposição Maria Corina Machado, âncora da campanha do ex-diplomata Edmundo González Urrutia, para dizer que torcia por eles. Em entrevistas à imprensa argentina, ela sugeriu que as medidas de Milei poderiam ser inspiração para a oposição venezuelana, “com a liberdade” – econômica.

O venezuelano, por sua vez, tinha se referido, no fim de semana, assim ao argentino: “Milei é um covarde, fascista e nazi”. Num comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina disse ainda que o resultado eleitoral, com a nova eleição de Maduro, foi “fraudulento”.

No X, o chileno Gabriel Boric duvidou do resultado anunciado, nesta madrugada, pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), dando vitória ao presidente Maduro. “Aqui do Chile não reconhecemos nenhum resultado que não seja verificável”. O colombiano Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda à frente do Palácio presidencial Nariño, manteve em sua rede uma mensagem escrita há três dias, dizendo que “seja qual for o resultado será respeitado pelo meu governo”. Mas seu chanceler Luis Gilberto Murillo, com diálogo fluido com o governo brasileiro, disse que (o governo colombiano) aguardava uma “verificação e auditoria independente” da votação.

Num discurso em Caracas, Maduro falou como presidente eleito para o mandato de 2025 a 2031. Sua fala foi transmitida pela rede Telesul. Ele indicou que sua nova eleição é inquestionável. Porém, o mapa político regional já não é o mesmo. E muitos aguardam, em toda a região, pela possível fala do presidente Lula, que deverá ocorrer após conversa com o ex-chanceler Amorim.