Empreendedorismo para garantir reeleição em 2026 pede juro baixo
"A prioridade da ala progressista governamental é dar força ao empreendedorismo, mas, contrariamente, as forças conservadoras pró-mercado pregam austeridade"
O ministro Paulo Pimenta, ao dizer que o presidente Lula é vitorioso nas eleições municipais, por ser expressão do centro político nacional, na sua condição essencial de um político conciliador, ressaltou que o PT tem que defender, a partir de agora, o empreendedorismo, alternativa às classes sociais sucateadas pelo neoliberalismo.
Como se sabe, a onda empreendedora, que tomou conta dos trabalhadores socialmente precarizados, depois da reforma trabalhista neoliberal imposta pelo bolsonarismo fascista, dificilmente emplaca diante da atual política monetária ortodoxa, cuja marca registrada é o juro alto, extorsivo, anti-desenvolvimento.
Os que optaram pelo empreendedorismo, depois do golpe na CLT getulista, estão fazendo reavaliações críticas, por estarem pagando juros muito altos sobre os bens e serviços que adquiriram para se tornarem novos empreendedores.
A taxa de lucro muito baixa dos novos empreendedores, na fase pós reforma, produz incertezas e precariedades que, caso continue a política monetária fiscal e ortodoxa, aumenta a incerteza, que pode aumentar se o governo aprofundar o corte nos gastos sociais, como defende a Faria Lima.
Os custos para ser empreendedor, conforme a legislação, transforma o micro e pequeno empresário escravo do negócio que empreende, levando-o, no ritmo das incertezas capitalistas crescentes, ao constante perigo de falência.
Desse modo, somente com política monetária pró-desenvolvimento, em que a oferta de dinheiro barato seja capaz de jogar o juro para baixo e, assim, tornar-se atrativo ao candidato ao empreendedorismo, à transformação do trabalhador, antes assalariado, à condição de empresário, micro ou médio, ele ousará dar o passo nesse sentido, ainda assim cheio de temor e insegurança.
INCERTEZAS ESPANTAM EMPREENDEDORES
Como as expectativas não são as de que os juros cairão nos próximos tempos, diante das pressões do mercado, dizendo que a taxa de inflação ascendente reclama juro mais alto, para evitar estouro da meta inflacionária prevista pela política monetária ortodoxa, a decisão de virar empreendedor constitui sempre passo no escuro.
A pressão das forças liberais, dentro do governo, nos ministérios do Planejamento e da Fazenda, por exemplo, é a de que é necessário aprofundar cortes nos setores sociais – saúde, educação, programas e benefícios aos mais pobres e desvinculação do reajuste do salário-mínimo para os aposentados – em nome do ajuste fiscal.
A prioridade da ala progressista governamental é dar força ao empreendedorismo, mas, contrariamente, as forças conservadoras pró-mercado pregam austeridade, cujos efeitos são redução da renda disponível para o consumo, configurada nas despesas sociais que são sinônimos de investimentos.
O discurso favorável ao empreendedorismo, como defende o ministro Paulo Pimenta, portanto, entra em choque com a austeridade fiscal e monetária pregada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sintonizados com a tendência pró-mercado.
Ademais, antes do final do ano, na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, a expectativa é de mais uma puxada na taxa básica selic, porque a Faria Lima diz ser necessária para conter a inflação que saiu da meta prevista de 4,5% para 2024 etc.
A taxa Selic alcançaria, como prevê o mercado especulativo, a casa dos 12%, entrando, em 2025, com sinalizações contrárias às expectativas desenvolvimentistas que teoricamente favorecem o discurso pro-empreendedorismo.
As divisões dentro do governo, por isso, são evidentes: de um lado, as forças pró-austeridade, puxadas pelos neoliberais, e, de outro, as defensoras do desenvolvimentismo lulista, capaz de dar força à industrialização, somente possível, se os juros sinalizam queda na nova fase do BC sob comando de Gabriel Galípolo, depois da saída do neoliberal bolsonarista Roberto Campos Neto.
Portanto, o empreendedorismo, do qual se espera motivação ao neo-desenvolvimentismo, alternativo ao neoliberalismo que deu golpe na política trabalhista nacionalista, ficará em compasso de espera sobre o rumo que o presidente Lula irá tomar, depois do crash eleitoral municipal, com vista a sua reeleição em 2026.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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