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Tiago Barbosa

Jornalista, pós-graduado em História e Jornalismo, com passagem por jornais de Pernambuco

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Endeusamento dos EUA escancara o apagamento da América Latina

'Nações e povos latino-americanos são reduzidos a caricaturas simplórias filtradas pela cartilha estadunidense de estigmatização', escreve Tiago Barbosa

OEA, Donald Trump e Kamala Harris (Foto: Reuters)

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A América Latina tem 20 países e uma população de 660 milhões de pessoas - o dobro dos EUA.

Mas é invisível aos olhos da mídia brasileira - o inverso do império por quem baba e rasteja - apesar das intersecções históricas. A cobertura ostensiva da eleição norte-americana esfrega na cara o contraste abissal entre a viralatice pelos EUA e o desleixo regional. Matérias em solo estadunidense fuçam ruas, moradores, cidades minúsculas, caixas de correio, parquinhos, a rotina ordinária. Dedicam dias, horas e (vários) repórteres para imergir no estilo de vida e projetar empatia, fantasiar identificação junto à audiência. É panfleto de submissão vassala à idealização ideológica da farsa batizada de "sonho americano". As coberturas das eleições (e da vida) dos países vizinhos são o exato oposto - lampejos de simplificação e indiferença. O Brasil é privado da política do México, do Caribe, dos países andinos, à exceção de menções superficiais, ligeiras, insuficientes e raras. Inexistem abordagens sobre modos de organização social, dilemas, traços culturais e perspectivas de mundo. Nações e povos são reduzidos a caricaturas simplórias filtradas pela cartilha estadunidense de estigmatização de desafetos e catalogações democráticas. Cuba e Venezuela são - invariavelmente - vilões do noticiário, maus e detestáveis.

Chile, Peru e Equador padecem na penumbra do desconhecimento pelos brasileiros.

Bolívia surge na eclosão de rompantes políticos sob caracterização alinhada à agenda norte-americana ou europeia. A bifurcação entre saturação e esquecimento é um método - nunca casualidade. Invisibilizar os vizinhos é negar a história comum de povos unidos pela resistência corajosa à opressão colonial e religiosa. É repelir elos culturais na raiz de ideais de soberania, justiça social, igualdade e união contra dominação imperialista até hoje. Essa glorificação midiática e sabuja da "América dos sonhos" desnuda de vez o apagamento violento da América real.

Endeusa a irrealidade, lá fora, para sacrificar, por aqui, povos entre sombras e silêncios.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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