Entrega dos Correios é uma afronta ao Brasil
Entre as alegações do governo entreguista, destaca-se a tendência mundial à privatização dos serviços postais. Mentira. Apenas oito países adotaram o modelo inteiramente privado
Há uma ofensiva sem precedentes no Brasil no sentido de eliminar o patrimônio público repassando-o para mãos privadas e estrangeiras. Parte da entrega prometida dos que apostaram no atual governo, mesmo que isso signifique a destruição de empresas estratégicas, desenvolve-se uma ação de desgaste na imagem desta instituição, que pelo seu trabalho de três séculos faz parte da vida e da história do nosso povo.
É nítida a intenção do governo em relação à Empresa Brasileiras de Correios e Telégrafos, a terceira instituição mais confiável segundo pesquisas – fica atrás apenas da “família” e dos “bombeiros” – e que comprovadamente tem 99% de “entregabilidade” em seus serviços e 98% de excelência na qualidade operacional.
As grosserias dos atuais comandantes da política econômica com os mais de 100 mil trabalhadores dos Correios, chamados de ”gafanhotos” por Paulo Guedes, e que produzem a indignação dessa categoria, são pouca coisa quando se entende os reais objetivos.
Ele diz com todas as letras e desfaçatez que “…há uns oito caras aí querendo comprar (os Correios)…”. Esses caras, segundo a imprensa, são a Amazon, a mesma que derrubou as ações de três das maiores empresas brasileiras esta semana com o anúncio de vendas on line com entregas grátis. Caberia a essas empresas denunciar um evidente dumping. No mesmo dia, a pesquisa Datafolha era divulgada demonstrando que 67% dos brasileiros são contra a privatização.
Segundo Guedes, “brasileiro tem mania de se sentar em cima de suas estatais”. Por que será? Seria porque sabemos que as empresas estatais são nosso patrimônio, construído com o nosso dinheiro, fazem parte da nossa soberania, e por que mostraram ao longo dos tempos serem eficientes?
Entre as alegações do governo entreguista, destaca-se a tendência mundial à privatização dos serviços postais. Mentira. Apenas oito países adotaram o modelo inteiramente privado.
Nos países em que se privatizou, os preços subiram e os serviços perderam a qualidade, pois agências não lucrativas são fechadas e comunidades deixadas sem comunicação. Enquanto nos Estados Unidos, maior exemplo de país capitalista, o United Postal Service pertence ao governo, responde 47% de todo o volume postal do mundo, mesmo que às vezes deficitário. Sua receita operacional em 2017 foi de 71,4 bilhões de dólares, prejuízo líquido de 2,7 bilhões, e não foi privatizado. Serviços postais são considerados estratégicos em todo o mundo, responsáveis por dar um “endereço postal”(CEP) a cada cidadão ou cidadã, e deter informações que só o estado deve ter.
Outra alegação é de sua ineficácia. Porém, para se ter uma ideia, 90% das lojas de comércio eletrônico do Brasil têm os Correios como forma de entrega. E quem levaria cartas ou encomendas, medicamentos, vacinas, livros didáticos e provas do Enem, decodificadores de tevê para 100% dos 5570 municípios brasileiros, incluindo florestas, localidades ribeirinhas, vilarejos do fundão do Brasil? A eficiência dos Correios em entregas é de 98%, tendo alcançado os patamares de excelência. Portanto, outra mentira do governo que quer vender o país com tudo que há dentro, porteira fechada.
Outra alegação diz respeito aos resultados deficitários. Segundo o jornal Valor, após os prejuízos obtidos entre 2013 e 2016, quando se aprofundou uma crise econômica provocada no Brasil, os Correios passaram a ter lucros de 666,3 milhões (2017) e 161 milhões em 2018. Os ataques à empresa desconsideram que a queda de faturamento decorreu de uma quebradeira geral da economia e da falta de investimentos do próprio governo na sua estatal, que deveria ser preservada a todo custo.
Nesta semana os trabalhadores e trabalhadoras dos Correios iniciam uma jornada de lutas para denunciar não só o projeto privatista do governo, mas para exigir melhores condições de trabalho e de salários. Pois fez parte da ação de quem quer entregar a sua mercadoria a qualquer preço torna-la fácil de vender, ou seja, desvaloriza-la antes. O que há por trás, pode-se imaginar, pois os grandes do governo estão envolvidos até o último fio de cabelo em transações inconfessáveis.
Ao contrário disso, estamos trabalhando na Câmara Federal com projetos e audiência públicas pela Comissão de Legislação Participativa, que visam fortalecer os Correios, assegurando a fidelização como um critério de contratação de serviços pelos governos federal, estadual e municipal, além dos poderes legislativo, judiciário e Ministério Público.
Nesses casos, haveria dispensa de licitação para a compra dos serviços dos Correios, e ao invés de corroê-lo com desinvestimentos e até mesmo corrupção, se ampliariam as condições de mantê-lo como a empresa que por 365 anos vem prestando serviços do país. Faz parte da nossa memoria afetiva, faz parte da história do Brasil e um patrimônio do qual o país não pode abrir mão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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