Exclusiva: “Milei governa fora da lei”, diz autor de ação judicial contra presidente
Ação judicial contesta Milei por conta do escândalo da chamada criptomoeda LIBRA
Ex-diretor do estatal Banco de La Nación da Argentina, no governo de Alberto Fernández, o economista Claudio Lozano liderou uma ação judicial conjunta contra o presidente Javier Milei. A iniciativa ocorreu poucos minutos após o escândalo da chamada criptomoeda LIBRA, quando Milei fez uma postagem em sua conta na rede social X promovendo a desconhecida moeda digital. “Nossos argumentos (na ação judicial) foram: estafa e fraude, desrespeito aos deveres de funcionário público e violação da Lei de Ética Pública. Também apontamos tráfico de influência e violação da ordem pública financeira”, disse Lozano em entrevista ao Brasil 247.
Para o ex-deputado, que é presidente do partido Unidade Popular e coordenador do Instituto de Pensamento e Políticas Públicas, Milei deve ser investigado pela Justiça e no Congresso Nacional. Ele acha que Milei governa “fora da lei”. “O presidente teve um comportamento absolutamente ilegal”, disse na entrevista gravada por zoom.
Milei fez a postagem às 19:01 da sexta-feira, 14 de fevereiro, dizendo que a LIBRA seria uma oportunidade, inclusive, para pequenos e médios empresários do país. A LIBRA disparou cerca de 1.300% e desabou em segundos, por volta da meia-noite, provocando perdas para os que confiaram no presidente argentino e lucros milionários para os envolvidos na criação da criptomoeda, de acordo com investigações publicadas na imprensa local. Estima-se que 40 mil investidores saíram perdendo tudo o que investiram e um pequeno grupo, incluindo os empresários que a idealizaram e tiveram reuniões, na Casa Rosada, com Milei, tenham faturado milhões com a empreitada. O caso está sendo investigado pela Justiça da Argentina e dos Estados Unidos. “O governo está muito pressionado por essa questão judicial. Além disso, no âmbito internacional, os prejudicados pelo fenômeno da ‘criptolibra’ irão, com suas ações (na Justiça) contra o presidente e contra o Estado argentino”, disse Lozano. Ele entende que os que perderam dinheiro vão pedir compensações financeiras ao Estado argentino. “Por isso, é uma necessidade que o Congresso Nacional comece a separar, neste caso, o que é a realidade do Estado e um comportamento (do presidente) absolutamente ilegal”, afirmou. Logo após o escândalo, alertado pela oposição, Milei eliminou a postagem e numa entrevista ao canal de televisão TN, de Buenos Aires, disse que operar com criptomoedas era como “jogar num cassino” e admitiu desconhecer o funcionamento deste mundo ‘digital-financeiro’ que tanto promoveu. “Se você vai a um cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação, se você sabia que (esse terreno) tinha essas características”, disse à imprensa. A entrevista ao canal TN também gerou questionamentos. Ela foi interrompida por um assessor de Milei que pediu que uma pergunta fosse excluída. O vídeo, do momento da interrupção, vazou, contribuindo para mais dúvidas em relação ao fato em questão e ao papel do presidente no episódio nebuloso que afetou sua popularidade, de acordo com levantamento do instituto Atlas Intel.
Após revelações de alguns dos participantes na construção da LIBRA, entre eles um empresário da Argentina, um dos Estados Unidos e um de Cingapura, que são do ramo das criptomoedas, mas até então praticamente desconhecidos dos especialistas na Argentina, Lozano entende terem surgido outros “fios” a serem investigados. “A evidência de que a irmã do presidente, Karina Milei, cobra para permitir reuniões de empresários ou de diferentes setores com o presidente do país”, disse Lozano. Karina Milei é secretária-geral da Presidência e chamada pelo irmão, presidente, de “o” chefe. Ele também atribui a ela o uso da palavra “guilhotina” para se referir aos cortes no Estado. A ferramenta passou a ser parte do vocabuláriode Milei, além da sua preferida “motosserra”.
“Existe uma rede de tráfico de influência que tem como ponto central a irmã de Milei”, disse Lozano. Na ação judicial conjunta liderada pelo economista, contou ele, foram acusados, além do presidente, a irmã dele, o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, o presidente da Câmara dos Deputados, Martin Menem, e o deputado governista José Luis Espert (do partido de Milei, ‘A Liberdade Avança’). “Todos eles, de alguma maneira, replicaron o tuíte do presidente instalando a questão da criptomoeda”, disse Lozano. Quando perguntado sobre que resultado espera da ação judicial, Lozano contou que os argumentos que apresentaram nos tribunais também foram anexados num pedido de julgamento político de Milei no parlamento. Na Câmara e no Senado, a iniciativa realizada há poucos dias não teve maioria para ser aprovada.
Mas o ex-deputado acredita que o possível julgamento parlamentar poderá ser retomado e, no caso da Justiça, gerar sérios problemas para Milei. “Desde pena de prisão a penas que o inabilitem para o exercício de cargos públicos. O que são elementos centrais em qualquer pedido de julgamento político”, afirmou ao Brasil 247.
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