Feijóo elege o Proifes
"O mais prudente seria não tratar mal quem está do nosso lado. Mas, pelo visto, a opção segue sendo a de dar tiro no pé e sair cantando vitória"
Hoje teve reunião da executiva nacional do PT.
O secretário Feijóo participou da reunião, para dar um informe sobre as negociações entre o governo, docentes e técnicos administrativos.
Não tenho informações precisas sobre o caso dos técnicos administrativos.
Mas no caso dos docentes, posso dizer que o informe dado por Feijóo teve de tudo um pouco, desde informações factuais corretas, até avaliações incorretas e que subestimam o que está acontecendo.
Ao contrário do que Feijóo disse ou deu a entender, para a executiva nacional do PT:
-a imensa maioria das Universidades está em greve;
-a imensa maioria das assembleias rejeitou a proposta do governo;
-a rejeição ocorreu tanto em assembleias, quanto também em votação em urna;
-a rejeição ocorreu tanto onde as Associações são ligadas ao Andes, quanto onde são ligadas ao Proifes;
-o Proifes controla um número muito pequeno de associações docentes;
-a maior parte das Associações Docentes é vinculada ao Andes;
-tem mais petistas em Associações dirigidas pelo Andes, do que em associações dirigidas pelo Proifes;
-há um grande número de petistas e simpatizantes do PT em greve e/ou criticando a proposta do governo;
-a esmagadora maioria dos grevistas votou em Lula nas eleições de 2022. Diferente dos policiais federais e rodoviários agraciados com reajustes mais substanciais;
-ao contrário do que sugeriu Feijóo, a rejeição a proposta do governo não é motivada por radicalismo esquerdista. A rejeição é devida a vários motivos, entre os quais acho que o principal é o zero em 2024.
Aliás, duvido que o Feijóo, quando era sindicalista, aceitasse de bom grado um zero, que na prática significa confisco salarial (pois, é bom lembrar, não estamos falando de aumento real, mas de reposição).
Por fim: Feijóo disse para a executiva nacional do PT que ele era contra prosseguir as negociações.
Seus (dele) argumentos foram mais ou menos os seguintes: já houve negociação, o governo está no limite, estender alguns dias não vai mudar nada, prosseguir prejudicaria os setores do movimento que apoiam a proposta do governo.
De fato, já houve negociação. Mas por qual motivo não continuar negociando?
De fato, o governo acha que está no limite. Mas há outras opiniões, segundo as quais o custo de uma contraproposta seria totalmente absorvível.
De fato, estender alguns dias talvez não mude nada. Mas por qual motivo não tentar?
Por fim: seria mesmo verdade que prosseguir a negociação prejudicaria quem já aceitou a proposta do governo?
Não sei dizer. O que sei é que Feijóo pagou para ver. E assinou um acordo com uma entidade (o Proifes) que representa muito pouco; sem falar que várias das bases do Proifes estão em greve.
Além disso, Feijóo tratou com desprezo e desdém a contraproposta apresentada pelo Andes. Contraproposta que o governo poderia ter atendido, se a boa política estivesse no comando.
Nos próximos dias se verá o efeito disto sobre a greve. Mas o efeito imediato foi desgastar o governo e o PT junto a amplos setores da categoria docente. Além disso, há os efeitos negativos sobre a educação pública, efeitos que podem ser difíceis de medir, mas que existem.
Como resumo de tudo, cabe lembrar que, em 2022, nós ganhamos por apenas 2 milhões de votos. Cerca de 30 milhões de trabalhadores não votaram em ninguém. Já passaram 18 meses de governo e a vida segue difícil. Sendo assim, o mais prudente seria não tratar mal quem está do nosso lado. Mas, pelo visto, a opção segue sendo a de dar tiro no pé e sair cantando vitória.
ps.há duas décadas, fiz parte de um governo em que cometemos desatino parecido. O desfecho não foi positivo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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