Foi bonita a festa, pá
Mas como foi boa a espera, pá! Feliz da vida, Chico Buarque recebeu o prêmio das mãos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, de quem é amigo de longa data
Enquanto escrevia este artigo, Chico Buarque recebia, com quatro anos de atraso, o Prêmio Camões. Isso porque Bolsonaro, em 2019, se negou a entregar o prêmio ao renomado escritor e compositor brasileiro. Uma verdadeira afronta do chefe de Estado de extrema-direita ao Prêmio Camões, que é uma condecoração literária instituída pelos Governos de Portugal e do Brasil, com o objetivo de estreitar os laços culturais entre os países de língua portuguesa.
Mas como foi boa a espera, pá! Feliz da vida, Chico Buarque recebeu o prêmio das mãos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, de quem é amigo de longa data e que como ele, valoriza a educação e a cultura.
Chico tem outro bom motivo para estar feliz. A condecoração aconteceu na véspera de 25 de abril, dia da comemoração dos 49 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim a uma ditadura fascista em Portugal, implantada em 1926. Uma era de trevas, atraso social e econômico. Um regime que compactou com o nazismo durante a segunda-guerra e que via na educação e na cultura inimigos a serem combatidos e destruídos.
Nada diferente do que vimos, vivemos e sofremos durante a ditadura militar e nos últimos seis anos, aqui no Brasil.
Em 2017, a entrega do Prêmio Camões ao escritor Raduan Nassar, autor de romances que marcaram a literatura brasileira contemporânea como: “Lavoura Arcaica” e “Um copo de cólera”, foi marcada por mais um vexame internacional. Raduan, em seu discurso, criticou o golpe de 2016 que depôs a presidenta Dilma Rousseff. Disse que, infelizmente, nada era tão azul no Brasil e que vivíamos em tempos sombrios, com invasões de escolas de ensino médio e violência contra a oposição democrática que se manifestava nas ruas. A resposta, de maneira deselegante e grosseira, veio do então ministro da Cultura, Roberto Freire, que defendeu o impeachment de Dilma e afirmou que era fácil para Raduan fazer protesto em governo democrático como o de Temer. A fala foi interrompida várias vezes pelas vaias dos convidados.
Olhando pelo retrovisor, constatamos o desmonte nas áreas da educação e da cultura, com cortes orçamentários que deixaram as universidades, literalmente, no escuro e os teatros, com portas fechadas. O ministério da Cultura foi rebaixado à condição de secretaria. Um de seus secretários, Roberto Alvim, em página infeliz de nossa História – e aqui me valho de Chico - sem qualquer constrangimento, plagiou, em estética e conteúdo, um discurso de Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler. Foi o escancarar das inspirações e preferencias daquele governo trevoso. Tentaram “murchar a nossa festa”, mas “esqueceram uma semente em algum canto do jardim”.
Sob governo democrático, após “o céu clarear” e “a manhã renascer”, “esbanjando poesia”, poderemos unir nossas vozes às dos irmãos d’além mar e cantar: “foi bonita a festa, pá. Fiquei contente. Ainda guardo renitente um velho cravo para mim”. Parabéns, Chico! Viva a literatura brasileira!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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