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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Foi Fantástico!

    "A vaidade – não do presidente, mas do seu entorno -, impede que a Comunicação trabalhe de forma razoável", escreve Denise Assis

    Lula em entrevista à Globo (Foto: Reprodução/TV Globo)

    Foi um acerto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vir a público falar da sua cirurgia em detalhes. Foi um acerto Lula falar do seu tombo, em detalhes. Foi um acerto o presidente falar dos seus medos, em detalhes e da gravidade do seu quadro, anterior à cirurgia, em detalhes. Foi um acerto o médico responsável pela equipe que trata do presidente Lula, Roberto Kalil Filho, falar do risco que antecedeu à cirurgia, em detalhes.

    Foi um erro o presidente Lula ser exposto a tal pressão emocional. Foi um erro ele ficar durante 20 minutos de tensão a buscar na mente recém-remexida respostas para todas as perguntas que lhe eram feitas, quando a recomendação médica para o seu quadro é evitar estresse. Principalmente, quando o presidente, ainda frágil, e ainda nas dependências do hospital onde correu risco de chegar morto, se atraso houvesse no atendimento – e só agora sabemos disso -, foi questionado sobre assuntos alheios aos de sua saúde. Faltou sensibilidade e, arriscaria dizer, humanidade. 

    Do ponto de vista da Comunicação, a estratégia foi a mesma que se adota desde o seu primeiro governo. O que significa que Lula está colocado na situação do cachorro correndo atrás do rabo. Tenta ser aceito por “eles”, que o enxotam e o rejeitam.

    Ele sorri, abrem-se duas covinhas em seu rosto, a luz do holofote é jogada sobre ele e algum repórter de voz suave e simpática lhe dirige perguntas “cuidadosas”, até a edição da matéria, quando a chefia esfrega as mãos e apronta. Estamos falando da enésima entrevista de Lula às organizações Globo, onde, ao contrário do cinema, o “mocinho” sempre perde no final. 

    Desta vez, nem precisou esperar até a edição. A pergunta em que ele é questionado sobre se teve oportunidade de se defender nos processos da Lava-Jato – a “operação” não foi mencionada com essa clareza e linearidade na pergunta da repórter, Sonia Bridi -, foi a deixa para o corte maldoso, com informações pela metade, na tentativa de desmentir o presidente ao vivo, o que para o grande público resulta em: Lula está choramingando e faltando com a verdade. 

    Não há mais como dizer que é ingenuidade. Não há mais como considerar que Lula sairá ileso. A única maneira de isto acontecer é ele conceder uma entrevista para a EBC, a ser distribuída para os órgãos de Comunicação. Certamente ela será cortada, em alguns veículos, interpretada, manipulada do mesmo jeito, mas outros a veicularão completa e o material acabará caindo nas redes da forma correta, completa, sem achincalhes. 

    A vaidade – não do presidente, mas do seu entorno -, impede que a Comunicação trabalhe de forma razoável de modo a que o governo possa entregar o conteúdo devido, com todos os detalhes, sem passar por “tolinho” mais uma vez. Vale sair no canal que, do ponto de vista do governo, “chega ao povo”. E chega assim, distorcido, sem direito de resposta. Mas aí já foi. O recado já chegou torto. E, podem esperar, não foi nem será a última.

    As organizações Globo jamais vão admitir que contribuíram, com o seu apoio irrestrito à Lava-Jato e a Sérgio Moro, para a desorganização da política, da economia, da democracia, enfim. Vão sempre omitir o fato de que o juiz Sergio Moro estava, não só inconvenientemente atuando fora da jurisdição do processo da Operação, como exorbitando de suas funções, “organizando” e coordenando a promotoria – o que não é permitido. 

    Basta lembrar, por exemplo, que Moro mandou sequestrar a caseira do sítio de Atibaia, juntamente com o seu filho de 8 anos, para serem submetidos a interrogatório fora do processo legal. Ou, recordar a sentença à base do “recorta, copia e cola”, da juíza Gabriela Hardt. Foi por essas e outras, Globo, que tudo foi anulado, com o devido julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), contra o qual vocês se insubordinam, ignorando a resolução à luz da Constituição. 

    Quanto à entrevista de Lula para o Fantástico, ainda nas dependências do hospital, e com riqueza de detalhes que até então não foram levados a público nas coletivas da equipe médica, deixa em nós a impressão de que de “apuração” só a Globo entende. 

    Não fosse a equipe deles lá, arrancar a fórceps do presidente que ele teve medo de morrer, correu risco sério de chegar em coma ao hospital e, do chefe da equipe médica, o Dr. Kalil, que quase se jogou dentro do avião, em Brasília, porque o quadro era “muito grave”, e continuaríamos a não saber de nada. Ou melhor, seguiríamos sem conseguir avaliar o quão grave foi a situação de saúde do presidente Lula. 

    Isso é muito ruim. Passa a ideia de que fomos até então ludibriados. E se a preocupação de Lula sempre foi a de que soubéssemos de todo o seu quadro e suas aflições, nessa noite de domingo o que concluímos foi: “Não nos contaram, da missa, a metade”. É fantástico!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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