Frente Ampla para derrotar o arbítrio. É pouco?
"O Brasil está sob ameaça de um grave retrocesso civilizatório. Cabe a oposição fazer de tudo para derrotar o inimigo principal", escreve o colunista Ricardo Capppelli. "Qual será a consequência para a democracia das duas indicações que Bolsonaro fará ao STF? Haverá imprensa livre? Atividade parlamentar 'normal'? Garantia de direitos fundamentais?", questiona
Como será um governo do arbítrio fortalecido por alguma melhora na economia? Qual será a consequência para a democracia das duas indicações que Bolsonaro fará ao STF? Haverá imprensa livre? Atividade parlamentar “normal”? Garantia de direitos fundamentais?
Como será um Bolsonaro aclamado por uma reeleição? O Capitão estava brincando quando insinuou um terceiro mandato? Moro na vice será o sucessor de um projeto de 16 anos? 20 anos? O que restará do Brasil?
Contrariando algumas previsões, as pesquisas têm indicado uma pequena melhora na aprovação do presidente.
Lula já saiu da cadeia, mas apesar de sua liderança inquestionável, o fato parece não ter influenciado o humor da população. As ruas continuam frias e vazias.
A menor taxa de juros da história e a injeção de recursos promovida pela liberação do FGTS e pelo décimo terceiro do Bolsa Família podem explicar parte da melhora do Capitão. A necessidade política costuma transformar liberais fanáticos em keynesianos envergonhados.
O mais provável são taxas de crescimento tímidas pelos próximos anos. A economia global acompanha sobressaltada a briga entre a China e os EUA. Com nossa massa salarial achatada e os investimentos públicos asfixiados, o motor do mercado interno continuará engasgando.
Se a economia não vai dar um salto, é pouco provável também que afunde. Se o emprego precarizado não é o melhor dos mundos, muito pior é o desemprego.
A gravidade da ameaça autoritária nos obriga a colocar os dois pés no chão. O país quebrou nas mãos da esquerda com duas quedas de PIB históricas. O desemprego explodiu com Dilma.
Após treze anos “vermelhos”, a crise econômica e uma brutal ofensiva conservadora empurraram o Brasil na direção de uma nova saída liberal. O liberalismo avançou na sociedade, sendo amplamente majoritário no Congresso Nacional e no STF.
Política se faz a partir da análise objetiva da realidade concreta. É forjada pela necessidade, pelas circunstâncias. É diálogo, construção com os diferentes e mediação. A boa posição não é a minha ou a do outro, mas a que torna possível alcançar o objetivo estratégico.
Associar de forma fantasiosa este processo à capitulação é sectarismo oportunista, um desserviço ao povo brasileiro.
O Brasil está sob ameaça de um grave retrocesso civilizatório. Cabe a oposição fazer de tudo para derrotar o inimigo principal. Qual seria o caminho? Três fatos recentes são elucidativos.
A tentativa criminosa de transferir Lula para um presídio comum parou Brasília, gerando protestos de quase todas as forças políticas. Quando “Alvim Goebbels” levantou a suástica, novamente todos deram as mãos para derrubá-lo. O mesmo se repetiu quando o arbítrio ameaçou o jornalista Glenn Greenwald.
A questão democrática é a única capaz de aglutinar os mais variados setores numa Frente contra Bolsonaro.
Quando Roosevelt, Stalin e Churchill selaram uma aliança, não consta que ficaram procurando diferenças no passado. Também não havia na pauta um programa econômico comum para a humanidade. Um único objetivo fez estes personagens históricos apertarem as mãos: banir do mundo a ameaça nazista. Foi pouco?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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