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      Moisés Mendes

      Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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      Golpe expôs o fascismo como uma grande vigarice

      “Bolsonaro e os militares trocavam proteção mútua, mas não tinham projeto algum para o país”, escreve o colunista Moisés Mendes

      Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

      Os fascistas brasileiros, que nunca usariam nada vermelho, usam o boné de Trump porque não produziram algo equivalente para o Brasil. Até tentaram criar, no desespero, já distantes do poder, mas não funcionou.

      O boné de Trump põe na cabeça dos americanos o apelo de que é preciso lutar por uma América grande de novo. O bolsonarismo nunca teve nenhuma ideia grandiloquente para colocar na cabeça de ninguém, nem as que surgiam como farsas.

      Trump e até Javier Milei venderam projetos com alguma perspectiva de futuro, por mais cruéis que sejam. Bolsonaro nunca teve plano algum, além do desmonte do Estado, como se vê agora no contexto do conjunto de fatos que levaram a PGR a denunciar os golpistas.

      Bolsonaro não teve um boné com uma mensagem porque a estrutura do governo e a montagem do golpe, se fosse preciso golpear, desde a eleição em 2018, visavam a viabilização de conluios, negócios e pilantragens. E com participação ativa dos militares.

      Bolsonaro, Trump e Milei podem convergir num aspecto, com discordâncias pontuais, sobre como construir governos fascistas com ou sem militares. O brasileiro, o americano e o argentino montaram núcleos de poder que sempre envolveram ou envolvem facções organizadas, espertezas, negócios e dinheiro.

      Com a diferença de que Trump e Milei conseguiram vender uma ideia, o republicano pelo resgate do sentimento de americanismo e o outro pela destruição do Estado peronista e do que define como castas, na alegada luta antissistema.

      A tentativa de golpe no Brasil expôs, quando chegamos à nova etapa rumo aos julgamentos e às condenações, que tudo era movido por interesses de grupos, sem nenhuma ambição maior pelo futuro do país.

      Os militares eram serviçais de Bolsonaro, em esquemas de reciprocidade baseados nos mesmos princípios do crime organizado, como mostra a PGR. Vocês me protegem e nós todos nos protegemos.

      Não há, em nenhum momento, como provam detalhes da denúncia de Paulo Gonet, nada que indique que Braga Netto, Augusto Heleno e os outros militares participassem de um plano estratégico para o Brasil, mesmo que fosse precário.

      O plano era proteger e fortalecer Bolsonaro, dono de votos e de poder político, para que os militares compartilhassem do projeto de saquear o que fosse possível. Os generais trabalharam para Bolsonaro e conseguiram cargões e carguinhos, sabendo o que faziam. Como seus empregados.

      E o que se vê agora é o começo do fim de Milei e de Bolsonaro, por terem fracassado como farsantes da ideologia da vigarice. Com um agravante para a democracia brasileira.

      É difícil que a Argentina reproduza, no curto prazo, uma figura semelhante a Milei, que não teve nem tempo para criar avatares. O que pode permitir que o país se livre da experiência com o gângster da criptomoeda.

      Mas no Brasil, mesmo sem boné nacional, o bolsonarismo já investe, com a ajuda da grande imprensa, na consagração de Tarcísio de Freitas como expressão da extrema direita moderada.

      O bolsonarismo tem um sucessor, com a mesma ideia de desmonte do Estado, como faz em São Paulo, e com a afirmação de políticas de ‘segurança’ sustentadas por uma polícia assassina – segundo o jornal The Sun, a mais temida polícia do mundo. São apelos irresistíveis.

      Tarcísio de Freitas pode ser um Bolsonaro melhorado, porque terá a chance de dissimular seus extremismos e jogar para a torcida que ordena: mande a PM matar o que se mexer e destrua Lula, o PT, a ameaça comunista, os gays e as feministas.

      A previsível condenação de Bolsonaro e dos militares, com a extinção da facção agora denunciada, oferece a Tarcísio a chance de ser algo mais que Bolsonaro não foi, e com o boné de Trump enterrado na cabeça.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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