Guerras dos EUA após 11/9 causaram 4,5 milhões de mortes, desalojaram 38-60 milhões de pessoas, mostra estudo
As guerras que os EUA conduziram no Iraque, no Afeganistão, na Síria, no Iêmen e no Paquistão
Originalmente publicado no Geopolitical Economy Report. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247
As guerras que os EUA conduziram e alimentaram no Iraque, no Afeganistão, na Síria, no Iêmen e no Paquistão após o dia 11/9/2001 causaram pelo menos 4,5 milhões de mortes, segundo um relatório da Universidade Brown.
Cerca de um milhão de pessoas que perderam as suas vidas, morreram em combates, enquanto que 3,6-3,7 milhões foram mortes indiretas, devido a problemas de saúde e econômicos causados pelas guerras – como doenças, desnutrição e a destruição da infraestrutura.
Estas foram as conclusões do estudo conduzido pelo projeto Custo das Guerras do Instituto Watson para Questões Internacionais e Públicas da Universidade Brown.
O relatório também analisou os efeitos das guerras na Líbia e na Somália, que foram patrocinadas por Washington.
Os estudiosos estimaram que, nos países estudados, ainda há atualmente 7,6 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade que estão sofrendo desnutrição aguda, o que significa que elas “não estão tendo comida suficiente, que estão literalmente reduzidos a pele e ossos, colocando estas crianças num maior risco de morte”.
No Afeganistão e no Iêmen, isto inclui quase 50% das crianças; na Somália, cerca de 60%.
Num estudo separado de 2021, o Projeto 'Custos das Guerras' da Universidade Brown revelou que, no período após 11/9/2001, as guerras dos EUA desalojaram pelo menos 38 milhões de pessoas – mais do que qualquer conflito desde o ano de 1900, excluindo a Segunda Guerra Mundial.
Este relatório de 2021 assinalou que “38 milhões é uma estimativa muito conservadora. O total de pessoas desalojadas pelas guerras dos EUA após 11/9/2001 está mais próximo de 49-60 milhões, o que rivalizaria com os desalojados na Segunda Guerra Mundial”.
O estudo de maio de 2023, que estimou que as guerras dos EUA após 11/9/2001 mataram 4,5-4,6 milhões de pessoas, enfatizou que grandes números de civis estão perecendo hoje, devido às consequências duradouras destes conflitos violentos.
Apesar das forças militares dos EUA terem se retirado do Afeganistão em 2021, “atualmente, os afegãos estão sofrendo e morrendo em números maiores do que jamais antes, por causas relativas à guerra”, o relatório assinalou.
Em adição aos impressionantes números de mortes, muitos milhões mais de civis foram feridos e sofreram outras dificuldades incríveis devido a estas guerras.
“Por exemplo, para cada pessoa que morre por doenças transmitidas através de água, porque a guerra destruiu o seu acesso à água potável segura e instalações de tratamento de água, há muitos outros que adoecem”, sublinhou o estudo.
O relatório de 2023 “destaca muitas consequências de longo prazo e não reconhecidas da guerra para a saúde humana, enfatizando que alguns grupos, especialmente mulheres e crianças, sofrem o peso destes impactos que ocorrem agora”.
As pessoas que vivem na pobreza e aqueles de grupos marginalizados tinham taxas mais altas de morte e expectativas de vida mais baixas.
O documento salienta como “as guerras posteriores a 11/9/2001 causaram dificuldades econômicas generalizadas para as pessoas nas zonas de guerra, e como a pobreza, por sua vez, tem sido acompanhada pela insegurança alimentícia e pela desnutrição – que levaram às doenças e a morte, especialmente entre crianças menores de cinco anos”.
Em virtualmente todas as guerras, as mortes indiretas representam a maioria das vidas perdidas. Os pesquisadores da Universidade Brown assinalaram, por exemplo, “Em áreas de conflito, é 20 vezes mais provável que as crianças morram por diarréia do que pelo próprio conflito”.
Os danos à infraestrutura que ocorrem durante as guerras também são muito mortíferos. “Hospitais, clínicas e suprimentos médicos, água e sistemas de saneamento, eletricidade, estradas e semáforos, infraestrutura para a agricultura e transporte de bens, e muito mais, são destruídos, danificados e interrompidos, com consequências duradouras para a saúde humana”, assinalou o relatório.
Os problemas causados por estas guerras posteriores a 11/9/2001 foram devastadores.
As duas décadas da ocupação militar dos EUA-OTAN no Afeganistão deixaram atrás de si uma crise econômica que beira ao apocalipse.
Mais da metade da população do Afeganistão vive na pobreza extrema, vivendo com menos de US$ 1,90 por dia. Impressionantes 95% dos afegãos não têm comida suficiente.
No Iêmen, mais de 17,4 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar, e 85.000 crianças menores de 5 anos provavelmente morreram de fome.
Até mesmo em países onde grandes números de tropas estadunidenses foram alocadas no campo, as guerras de Washington destruíram incontáveis quantidades de civis.
Os ataques de drones dos EUA no Iêmen e na Somália “impactam significativamente as fontes de sobrevivência das pessoas”, destruindo fazendas e negócios e levando as famílias à falência.
“O impacto severo de tais passos econômicos para trás sobre as populações que dependem da terra para a sua sobrevivência, não podem ser subestimadas”, o relatório enfatizou.
As chamadas leis contra-terrorismo de Washington na Somália também “dificultaram os esforços de socorro humanitário, intensificando os efeitos da fome”, os pesquisadores notaram.
Centenas de milhares de crianças morreram de fome naquela nação do Leste da África.
Os estudos da Universidade Brown fazem parte de um corpo crescente do conhecimento que documenta o número de mortos após 11/9/2001.
Um relatório de 2015 feito pelo grupo vencedor do Prêmio Nobel IPPNW - International Physicians for the Prevention of Nuclear Wars concluiu que os 13 anos da chamada “Guerra ao Terror” de Washington causaram um total de 1,3 milhões de mortes, incluindo 1 milhão no Iraque, 220.000 no Afeganistão e 80.999 no Paquistão.
O IPPNW advertiu que este número de 2015 era “apenas uma estimativa conservadora. O número total de mortes nos três países citados acima também podem exceder a 2 milhões, enquanto que um número inferior a 1 milhão é extremamente improvável”.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: