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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Homem-bomba era apenas um soldado do QG intacto do fascismo

    “A estrutura do poder econômico da extrema direita golpista continua impune e funcionando em Santa Catarina”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Atentado a bomba em Brasília (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

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    Um dos debates mais intensos e mais cansativos, desde as explosões na Praça dos Três Poderes, se dá em torno das possíveis anormalidades de comportamento do homem-bomba.

    Se era transtornado, atormentado ou se estava em surto. É preciso encontrar uma patologia psíquica que explique o desatino do morto, que acusava William Bonner de ser comunista, e ao lado de José Sarney.

    E assim vai ficando submersa, como se fosse uma sub pauta, a pauta maior sobre o que essa figura representa: Francisco Wanderley Luiz, o Tio França, era um soldadinho e se junta, agora como primeira vítima fatal, aos transtornados, atormentados e desatinados do 8 de janeiro.

    Tio França era quase nada na estrutura do fascismo que ainda lateja. Apenas produziu o gesto mais espetacular. Os líderes dele no seu Estado, todos encobertos, ficam mais protegidos. Nem a grande imprensa deseja expô-los, porque ainda têm o poder do dinheiro.

    Tio França era da mesma turma de Fátima de Tubarão. E deveria ter afinidades com os grupos de atormentados que chegaram a tentar conexões com marcianos pelo celular, nos acampamentos armados no entorno dos quartéis.

    Tinha o mesmo perfil dos alucinados que cantavam o hino nacional para um pneu no meio da estrada bloqueada. Pode ter sido negacionista, antivacina, anticiência. Deve ter pregado o terraplanismo com ardor. Tudo normal.

    Mas continuará sendo, na sua normalidade, apenas um soldado da extrema direita, o primeiro a ter tombado. Um soldadinho raso empurrado para uma guerra em que os generais fardados e civis não aparecem.

    Tio França era de Rio do Sul, no entorno do triângulo do mais intenso ativismo bolsonarista de Santa Catarina, formado por Balneário Camboriú, Brusque e Itajaí. Era ligado ao PL de Bolsonaro e sem relevância no partido, como quase todos os que invadiram Brasília.

    Tão irrelevante quanto os que fecharam estradas por ordem dos patrões golpistas donos de transportadoras e de caminhões de grandes lojas do varejo. Tão sem importância que não terá nenhuma homenagem dos parceiros no velório.

    E discutem se era um homem transtornado, pela separação da esposa, e se isso explica seu desatino. Quando se sabe que todos os que fazem o que ele fez estão sob tormentos pessoais ou coletivos.

    Visto assim, como avulso, o homem-bomba favorece a tentação do clichê do lobo solitário, do sujeito que decide acabar com a vida fazendo um gesto político em direção aos seus. Vou morrer, mas também vou tentar matar Alexandre de Moraes, ou só fingir que tentei.

    O homem foi mesmo um recruta nas mãos de chefões impunes do Estado mais extremista e mais furiosamente bolsonarista. Com os mais dedicados grandes empresários à causa do golpe.

    Gente poderosa, tão poderosa que até hoje não foi alcançada pelo sistema de Justiça. Que continua articulada e que conta com figuras como Tio França para que a guerra continue, mesmo que de forma caótica.

    O homem-bomba não é, pelo fato de que morreu, um ativista fora da curva. Ele é mais um mané levado ao sacrifício pelos que quase nunca aparecem, que ainda financiam o extremismo, que sustentaram o gabinete do ódio e que hoje estão quietos.

    Vamos deixar de lado essa tentativa de identificar as síndromes do homem-bomba, porque o nome disso é escapismo. Dediquem-se ao que está por trás do seu gesto: o poder intacto do QG do fascismo, no Estado mais estigmatizado pelo bolsonarismo.

     

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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