TV 247 logo
      Jeferson Miola avatar

      Jeferson Miola

      Articulista

      1239 artigos

      HOME > blog

      Hugo Motta em modo Eduardo Cunha e Arthur Lira

      "Ignorar os riscos que Motta, criação de Cunha e Lira, representa para o governo Lula e o avanço do extremismo no Brasil seria perigoso e até fatal", diz Miola

      Hugo Motta e Arthur Lira (Foto: Marina Ramos / Câmara dos Deputados)

      Apenas terminaram os rapapés institucionais com aqueles sorrisos rituais, tapinhas nas costas e promessas insinceras de convivência harmônica entre os poderes, Hugo Motta então tirou a pele de cordeiro que escondia a persona real por trás do rapaz que unta o cabelo com Gumex para aparentar honorabilidade e credibilidade.Arthur Lira foi metódico –e também insidioso– na construção do seu sucessor no comando do parlamentarismo de achaque e rapinagem.

      Classificado pelo governo e pela maior parte da crônica política como um “pato manco” no início de 2024, último ano do seu mandato, Lira mostrou toda sua força e poder no processo sucessório. E mostrou, ainda, que continua com muito poder – agora como um ator oculto poderoso, assim como Eduardo Cunha.

      Depois de trair e descartar Elmar Nascimento, amigo íntimo e parceiro de todas as horas e de muitas emendas ao orçamento, Lira se jogou de cabeça na candidatura de Hugo Motta à presidência da Câmara.

      Hugo [o “HuGumex”] foi envelopado pelo seu mentor e padrinho político com o rótulo de um presidente imparcial e equilibrado, que serviria igualmente a dois senhores ao mesmo tempo – ao governo Lula e à oposição bolsonarista e antipetista.

      O então candidato foi adestrado para fingir imparcialidade e não se posicionar sobre questões essenciais para a democracia e os interesses nacionais.

      Entretanto, e por tratar-se de um personagem traiçoeiro e inconfiável, o milagre da lealdade ao acordo não se concretizou.

      Já sentado na mesma cadeira que Ulysses declamou ódio e nojo à ditadura, Hugo Motta assumiu claramente o lado de um dos senhores a que prometera servir, que é o lado daqueles que tentaram dar um golpe de Estado para novamente instaurar uma ditadura. Um estelionato político de manual. E com notas de negacionismo.

      O recém-eleito presidente da Câmara, tergiversador durante sua campanha, agora se posicionou a favor da revisão da Ficha Limpa e do projeto de Anistia a golpistas para beneficiar diretamente Bolsonaro e outros criminosos bolsonaristas. E também anunciou prioridade às pautas oposicionistas e extremistas.

      Para o governo, de outra parte, Hugo Motta sinalizou com uma banana na discussão sobre a isenção do imposto de renda até cinco mil reais e na tributação mínima de super-ricos. E também adotou um tom crítico, chegando até mesmo ao nível que pode ser interpretado como de pressão e ameaça.

      Bolsonaro agradeceu. “Que Deus continue iluminando o nosso presidente Hugo Motta […]. Essa anistia não é política, é humanitária”, declarou.

      No discurso de posse, Hugo Motta citou 14 vezes o nome de Ulysses. Não por compromisso honesto com a democracia e a boa convivência entre os poderes da República, mas com o objetivo único de dar ares de legitimidade e constitucionalidade ao esquema corrupto de emendas parlamentares que só em 2024 representou um assalto de quase R$ 50 bilhões ao butim do Orçamento da União.

      Afinal, “Executivo e Legislativo são o governo”, filosofou HuGumex, revirando Ulysses no fundo do oceano, onde seu corpo jaz.

      O governo tem razões de sobra para se preocupar com o biênio de Hugo Motta na presidência da Câmara. Idem a Suprema Corte, que integra a aliança de governabilidade com o governo para a sobrevivência da democracia e a contenção do fascismo.

      Durante o processo da sucessão de Arthur Lira, os líderes governistas na Câmara optaram por uma alienação voluntária em relação à trajetória política de Hugo Motta e seus vínculos genuínos com Eduardo Cunha.

      Neste momento, entretanto, diante da postura assumida por Hugo Motta seria perigoso, e, inclusive, fatal, o governo menosprezar os riscos que esta cria política de Cunha e Lira representa para a metade final do mandato do presidente Lula e para a escalada do extremismo e do fascismo no Brasil.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Relacionados