III Cúpula UE-CELAC: América Latina unida em direção a um mundo multipolar
Como líder natural do bloco latinoamericano, que abarca 33 dos 60 países que compõe a unidade da UE e CELAC, Lula falou em nome de um mundo multipolar nascente
Nos dias 17 e 18 de julho, em Bruxelas, na Bélgica, foi realizada a 3º Cúpula de Chefes de Estado da União Europeia e Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos, reunindo representantes de 60 países, sendo 33 da CELAC e 27 da União Europeia.
O encontro ocorreu após oito anos sem uma reunião bilateral envolvendo UE-CELAC, e marcou o retorno do Brasil no grupo, dois anos após o governo do ex-presidente Bolsonaro ter se retirado da organização.
A mais importante iniciativa de integração regional - A CELAC foi criada em 2008, com a participação direta do Brasil, que liderava uma política externa altiva, tendo como norte o protagonismo na construção de relações sul-sul.
O primeiro encontro da Comunidade de Países da América Latina e Caribe, em 2018, foi convocada e sediada no Brasil, recebendo representantes dos 33 países que fariam parte do grupo, dispostos a discutir um projeto pela integração do sul global, por um mundo multipolar, pela inclusão, integração, soberania, contra bloqueios e sanções unilaterais.
Em 2010, no México, a Comunidade dos Estados Latino Americanos e Caribenhos foi formalmente estabelecida.
Sob os governos Lula e Dilma, o Brasil liderou e promoveu a CELAC como parte de uma política externa de estímulo às relações de cooperação sul-sul e com foco na promoção do desenvolvimento regional.
Não por coincidência, sete anos após o golpe midiático-parlamentar que derrubou Dilma e levou Temer à presidência da República e, no âmbito das relações internacionais, alinhou automaticamente o Brasil aos interesses geopolíticos e econômicos dos Estados Unidos, abrindo caminho para anos depois Bolsonaro aprofundar e amplificar, sobretudo, na parte retórica uma política externa marcada pela submissão e um marcante complexo de vira-latas não visto desde o período FHC, onde o maior país do cone sul exercia papel de peão de interesses de terceiros países.
Agora em 2023, nos primeiros dias do Governo Lula, o Brasil voltou à Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos, novamente no papel de um líder regional e não mais como um garoto de recados e contra seus próprios interesses regionais, como no período Temer-Bolsonaro.
União Europeia - Frente ao crescimento exponencial da influência da China no sul global, o bloco europeu busca uma reaproximação imediata com a América Latina, região riquíssima em variados recursos naturais, em meio aos impactos econômicos sofridos pela Europa oriundos do apoio à Ucrânia na guerra com à Rússia.
Enquanto a Europa insiste em impor sua visão colonial à América Latina, a China a trata como Estados independentes, sem se imiscuir em assuntos inerentes à política interna de seus sócios comerciais mundo afora, não impondo regimes políticos à sua feição a países com quem mantém relações diplomáticas e comerciais.
Sanções e bloqueios de um lado, livre comércio do outro, num cenário pós-pandêmico, no qual China apareceu como parceira da América Latina na condição de fornecedora de insumos médicos, enquanto a Europa estocava vacinas em seus depósitos. Não é à toa que quase a totalidade dos países que compõem a CELAC já aderiu ao megaprojeto da Nova Rota da Seda chinesa, faltando apenas o Brasil, que negocia sua entrada silenciosamente e com a vantagem de ser membro do BRICS.
As lições de Lula - Lula, em Bruxelas, falou, na abertura da Cúpula União Europeia-Comunidade Latino Americana e Caribe, numa nova ordem multipolar nascente, reiterou críticas à inércia do Conselho de Segurança das Nações Unidas, incapaz de pacificar o conflito no leste europeu, reafirmou o apoio do Brasil aos esforços de paz na Ucrânia, sem quaisquer sanções ou bloqueios, criticou ainda a corrida armamentista na Europa e a insensatez numa divisão do mundo em dois blocos antagônicos.
A União Europeia, anfitriã do encontro, tentou impor um convite ao comediante ucraniano Zelensky, porém os países latino-americanos prontamente reagiram contra essa presença.
"Precisamos encontrar uma linguagem de consenso que englobe todo mundo", disse o presidente pró-tempore da CELAC Ralph Gonsalves, acrescentando que a eventual presença do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na cúpula UE-CELAC, "não ajudaria".
"Precisamos recorrer a uma diplomacia madura para resolver essa horrível tragédia na Ucrânia", destacou Gonsalves, que é também o presidente de São Vicente e Granadinas.
O saldo da Cúpula UE – CELAC - Eis o saldo da viagem de Lula a Bruxelas, por ocasião da Cúpula União Europeia-Comunidade Latino Americana e Caribe:
Reuniu-se com os primeiros ministros de Barbados, Espanha, Alemanha, Bélgica, Suécia, Áustria, Dinamarca, França e com os presidentes da Argentina, Colombia, Bolívia e com a vice-presidenta da Venezuela, bem como com representante da oposição no país caribenho, e ainda prometeu passar em Cabo Verde, onde terá um encontro bilateral com seu homólogo na cidade de Praia.
Como líder natural do bloco latinoamericano, que abarca 33 dos 60 países que compõe a unidade da UE e CELAC, Lula falou em nome de um mundo multipolar nascente, fez objeções à atual governança global, representada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, falou contra a corrida armamentista na Europa, contra qualquer espécie de imposição de bloqueios e sanções, fez críticas a uma divisão do mundo em dois pólos, numa espécie de neo guerra fria moderna, rechaçou a visão de preservação ambiental amazônica baseada num conceito santuarista e taxou de ameaças as condições leoninas impostas pelo bloco europeu ao Mercosul para fechar o acordo de livre comércio. De quebra, ainda mediou, junto a Argentina, Colômbia e França, um encontro entre situação e oposição venezuelana.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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