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      César Fonseca

      Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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      Imperador quer almoço grátis

      Eis o novo perfil da acumulação imperialista:

      Donald Trump - 02/02/2025 (Foto: REUTERS/Leah Millis)

      O protecionismo trumpista é a nova senhoriagem imperialista.

      Vai dar certo?

      Antes, o império emitia moeda e cobrava senhoriagem(juro)para extrair vantagem nas relações de troca com aliados subjugados nos cinco continentes, depois da segunda guerra, com o Acordo de Bretton Woods, em 1944.

      Era o preço da vitória no conflito mundial.

      Ninguém chiava.

      Agora, como o dólar não é mais aquela Brastemp, para impor sua vontade imperial, porque a dívida pública ficou insuportável - 37 trilhões de dólares! - ao cofre imperial, o imperador muda a regra do jogo.

      Deixa de cobrar a senhoriagem pelo privilégio abusivo da emissão da moeda hegemônica - cujo custo de rolagem ficou caro demais - e impor novo abuso: passa a cobrar uma vantagem para consumir mercadoria dos outros em forma de tarifa alfandegária.

      Muda a forma da exploração imperialista, mas permanece o conteúdo do roubo.

      E o imperador ainda avisa: não aceita reciprocidade, que passa a ser considerada não uma negociação, mas retaliação abusiva.

      O império não paga mais imposto de consumo, mas cobra um imposto para consumir o produto alheio.

      O império se auto delega o poder de ser o consumidor universal.

      Cobra uma taxa por consumir mercadoria de terceiros com sua moeda que não é mais hegemônica, carente de lastro seguro, por ser devedor contumaz, contra o qual o mercado global lança dúvida insanável.

      A nova senhoriagem imperialista se realiza não mais na emissão de moeda, mas na compra de mercadorias importadas, sobre as quais incidem a tarifa.

      O imperador não paga imposto, cobra para consumir.

      Mais: não aceita reciprocidade, isto é,  que o outro pratique a mesma regra para si.

      O Congresso brasileiro correu, nesta semana, para votar uma Lei de Reciprocidade, aprovada por maioria absoluta nas duas casas, para se proteger do imperador.

      Alcançará o seu propósito?

      Eis o novo perfil da acumulação imperialista.

      FUGA DA INFLAÇÃO E AMEAÇA DE CALOTE

      O imperador impôs essa nova regra para não ter que sofrer inflação que resultaria do aumento de preços das importações mais caras, fortalecer a indústria do império e criar empregos de melhor qualidade para fortalecer mercado interno.

      Esperto cobra tarifa mais baixa de quem exporta matéria prima da qual necessita para fabricar manufaturados e mais alta de quem vende produto já manufaturado.

      Made in EUA, mais barato; Made in China etc, mais caros.

      Entra em cena o nacionalismo imperialista.

      Consumir produtos fabricados em casa é a nova opção.

      Tarifa baixa de importados primários, sem valor agregado, favorece aqueles com os quais não concorre, como o Brasil e os países da periferia capitalista americana, sub industrializados e sucateados.

      Tarifa alta pune os concorrentes, como Europa, China, países asiáticos, Japão, principalmente, Canadá, que se industrializaram.

      A prioridade é vencer o poderoso mercado chinês.

      O império continuará comprando barato o que precisa para produzir barato e tentar fugir da inflação.

      Mais inflação significa mais juros sobre a dívida já excessivamente alta.

      O império não quer pagar mais juros.

      Parte para o calote, puro e simples, impondo tarifa aos adversários.

      Se tivesse que pagar juros por consumir mercadorias caras, enfrentando dificuldades para emitir, entraria em default.

      O império determina a nova ordem: quer ALMOÇO GRÁTIS.

      Quem disse que não existe almoço grátis?

      Doravante, o imperador quer ceia de graça à custa da fome dos súditos que não podem questionar.

      Por isso, ele mandou acabar com a Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja lei maior é a reciprocidade.

      O imperador decreta não mais “O Estado Sou Eu”, como fazia o rei francês, Luís 14, mas “O Mundo Sou Eu”.

      Não é negociação, é imposição.

      Quem chiar, leva pau.

      Salvo se for forte como o imperador.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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