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    Daniel Samam

    Daniel Samam é Músico, Educador e Editor do Blog de Canhota. Está Coordenador do Núcleo Celso Furtado (PT-RJ), está membro do Instituto Casa Grande (ICG) e está membro do Coletivo Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores (PT).

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    Impressões acerca do xadrez da conjuntura nacional

    Tirar Bolsonaro da presidência ainda em 2021 deveria ser a principal tarefa das instituições, bem como dos partidos à esquerda e à direita, entidades e membros da sociedade civil desde que comprometidos com a democracia

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    A CPI da Covid tem se revelado um elemento de grande relevância na atual conjuntura. Imaginemos um cenário sem a Comissão no Senado. Não surpreenderia se o governo estivesse navegando em águas menos caudalosas. Hoje, apesar de tudo o que a CPI tem trazido à tona, a vacinação engrenou de vez e as médias móveis de casos e mortes vem caindo apesar de ainda estarmos em um patamar alto em relação a outros países. Sem contar na ameaça global que é a variante Delta.

    Para além da pandemia, as projeções econômicas são de retomada, apontando para a recuperação do PIB ainda este ano. Mas há outro dado. O sofrimento por parte da maioria do povo brasileiro com o desemprego, a carestia e a pobreza não dá sinal de melhora no curto prazo. Ou seja, é a lógica do copo meio cheio e meio vazio.

    Na política, a avaliação do presidente segue a mesma, com variações negativas no ótimo/bom das pesquisas, mas ele segue com o seu terço se juntarmos o regular. Um dado interessante é que este terço é o patamar da aprovação de Bolsonaro e também a intenção de voto nele no segundo turno. Em suma, o pleito de 2022 tende a ser duríssimo. Se por um lado os elementos da realidade concreta (combate à pandemia e retomada da economia) tendem a favorecer Bolsonaro, até que ponto os ataques às instituições e ao sistema eleitoral que tanto ajudam o presidente a manter seu núcleo duro mais radical mobilizado vão gerar efeitos reversos às articulações e arranjos eleitorais para 2022? A ver.

    Com as movimentações junto ao chamado "Centrão" para nomear o senador Ciro Nogueira na Casa Civil e trazer o PP para mais perto do governo, Bolsonaro foi pra cima e, por ora, vai vencendo o jogo do impeachment, além de garantir o filho "01", o senador Flavio Bolsonaro como titular na CPI da Covid e para avançar ainda mais na agenda neoliberal de Guedes e de interesse da Banca (Mercado). Mas toda essa movimentação ainda não significa adesão eleitoral do "Centrão", o que faz com que o presidente ainda não disponha de todas as peças para a reeleição.

    Também parece que uma das apostas do Bolsonaro no campo institucional é que "na hora da onça beber água" a centro-direita vai com ele contra Lula e o PT. O presidente busca reeditar o antipetismo, afirmando que a suposta fraude nas urnas é parte de um complô para levar Lula de volta ao poder. E faz isso porque sabe que o Lula, por sua vez, tem feito tudo certo. Ampliando o diálogo, reconstruindo pontes e mantendo coeso o bloco democrático-popular. Por isso penso que é importante que haja sim uma candidatura da centro-direita e com viabilidade para que Bolsonaro não transite de forma exclusiva no campo da direita.

    Um dado é que cada dia que Bolsonaro continua na presidência, suas condições melhoram com o passar do tempo, pois estará fraco o suficiente pra se dizer vítima do sistema e forte para tentar ganhar no voto ou, se a derrota vier, não reconhecer e tentar o caos. O plano de Bolsonaro nunca dependeu de provas concretas de fraude na urna eletrônica. A estratégia está focada na incitação à desordem.

    Em sua live semanal transmitida pela TV estatal, Bolsonaro afirmou que "o povo" pode se revoltar e afirmou que alguns grupos estariam dispostos a "realizar ações contrárias ao pleito". Vejam, não trata-se de premonição, mas de incentivo. Obviamente, porque a desordem é a única ferramenta para o projeto de Bolsonaro 2022, bem como foi a de Trump em 2020, porque não depende de uma maioria. Se for derrotado, não tenhamos dúvidas que ele dará o "start" na desordem, estimulando a violência política.

    Vejam, não estou falando apenas em golpe para evitar a posse de outro presidente. Isso eu imagino que esteja claro e no radar de todos. Mas, também, na manutenção do bolsonarismo como força política e social. Por isso, tirar Bolsonaro da presidência ainda em 2021 deveria ser a principal tarefa das instituições, bem como dos partidos à esquerda e à direita, entidades e membros da sociedade civil desde que comprometidos com a democracia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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