Irmã de Adélio divulga carta aberta às autoridades brasileiras: “Não tenho mais notícias dele”
Maria das Graças luta há dois anos pela curatela do homem trancado em cela isolada desde setembro de 2018, mas a Justiça não decide sobre seu pedido
A dona de casa Maria das Graças Ramos de Oliveira divulgou carta em que questiona as autoridades a respeito do isolamento do irmão, Adélio, que desde setembro de 2018 vive em uma cela , no presídio Federal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.
“Gostaria de saber como ele está. Não tenho mais notícias dele”, escreveu (leia a íntegra da carta ao final deste texto). “Gostaria que o Brasil soubesse que ele tem família, e a família está sofrendo muito por não ver ele (sic) e nem saber nada dele”, afirmou ainda.
Maria das Graças, que mantém um comércio informal em sua residência, na periferia de Montes Claros, Minas Gerais, manifesta sua angústia por não ver o Poder Judiciário do Mato Grosso do Sul decidir sobre o pedido de curatela que fez há cerca de dois anos.
“Se ele tem problema mental, ele não pode responder por ele. Tem uma irmã que continua lutando pela curatela dele”, desabafou. A juíza Cíntia Letteriello, titular da 2a. Vara de Família e Sucessões de Campo Grande, entregou a curatela provisória para um defensor público do Estado do Mato Grosso do Sul, depois que recebeu Maria das Graças.
“Eu gostaria de saber por que a juíza deu a curatela dele para uma pessoa que não é parente dele. Porque tem uma irmã lutando por ele. Por que a gente é pobre? Cadê a dignidade da gente? Quero saber, sim, do meu irmão. Por que ele continua aí?”, indagou.
Cíntia Letteriello foi convocada para atuar no Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul no ano passado, depois que desembargadores investigados pela Polícia Federal foram afastados. O critério teria sido o de merecimento. Sua sucessora, apesar da ação dos advogados de Maria da Graças, também não decidiu a causa.
Adélio foi absolvido impropriamente no processo em que foi acusado de esfaquear Jair Bolsonaro. Absolvição imprópria ocorre quando o acusado é diagnosticado com problemas mentais graves, o que o torna incapaz de responder pelos próprios atos.
Maria das Graças visitou o irmão de maneira virtual duas vezes, e foi uma vez ao presídio, em Campo Grande. Depois dessa visita presencial, Adélio deixou de manter contato com a irmã, apesar do pedido desta. Assinou um texto de recusa da visita, mas não explicou por que.
Foi uma surpresa para Maria das Graças, já que, na visita presencial, ele havia se emocionado ao ouvir que ela jamais desistiria dele. “Você é como um filho para mim”, disse ela, conforme registro do próprio presídio. “Ele abaixou a cabeça e os olhos ficaram cheios de lágrimas”, contou ao 247, logo depois da visita.
Adélio foi proibido pelo Tribunal Regional Federal da 3a. Região de dar entrevista, decisão que foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. Na visita presencial, Maria das Graças perguntou por que ele deu uma facada em Bolsonaro.
“Ele não gostou da pergunta. E me deu bronca. ‘Você não pode fazer essa pergunta aqui. É tudo gravado’”, teria dito, conforme relato de Maria das Graças.
O caso de Adélio já tramita na Corte Interamericana de Direitos Humanos, por iniciativa do defensor público Welmo Rodrigues. O Brasil pode ser condenado, porque mantém um doente mental em presídio com regime disciplinar diferenciado, já considerado desumano por especialistas, mesmo para quem não tem moléstia psiquiátrica grave.
Uma decisão da Justiça Federal em Campo Grande obrigou a União a transferir Adélio para perto da família. Mas o governo de Minas Gerais, de Romeu Zema, disse que não teria como oferecer tratamento médico a ele. A Justiça Federal em Juiz de Fora recorreu e conseguiu anular, na instância superior, a decisão do magistrado da capital sul-matogrossense.
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Abaixo, a íntegra da carta. Fiz correções gramaticais depois de conversar com ela.
Olá, meu nome é Maria das Graças, sou irmã do Adélio. Gostaria de saber como ele está. Não tenho mais notícias dele, nem visita virtual. A única notícia que tive dele foi por um agente penitenciário (na verdade, trata-se de Welmo Rodrigues, defensor público da União) e que pegou a curatela dele (na verdade, quem tem a curatela provisória é um defensor público do Estado do Mato Grosso do Sul).
Eu gostaria que o Brasil soubesse que ele tem família, e a família está sofrendo muito por não vê-lo e nem saber nada dele. E se ele tem problema mental, ele não pode responder por ele. Tem uma irmã que continua lutando pela curatela dele. Eu gostaria de saber por que a juíza deu a curatela dele para uma pessoa que não é parente dele. Porque tem uma irmã lutando por ele. É por que a gente é pobre? Cadê a dignidade da gente? Quero saber, sim, do meu irmão. Por que ele continua aí? Só por que foi uma tentativa e por que não tinha dinheiro?
Por que, no início, tinha tanto advogado, e repórter batendo na minha porta, e não resolveram nada até agora? Graças à doutora Edna e ao repórter Joaquim de Carvalho , porque só assim eu tive notícia do meu irmão e pelo que a doutora Edna fez, sou muito grata.
Eu, como irmã dele, sou pobre na verdade, mas tenho como cuidar dele, e por isso que estou lutando para saber sobre ele. E quem tem família que já passou por isso, sabe o que estou sentindo.
Eu quero ver meu irmão. Vocês falam que ele não quer ver ninguém, mas ele não responde por ele, não, porque ele tem um problema mental. Eu, como irmã dele, gostaria de saber por que não o transferem para perto da família.
Assinado: Maria das Graças.
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