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    Reynaldo José Aragon Gonçalves

    Jornalista e diretor executivo da Rede Conecta de Inteligência Artificial e Educação Científica e Midiática (UFF/CNPq), onde desenvolve estudos sobre comunicação política e científica, sob a perspectiva da qualidade da informação

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    Kassab e o golpe silencioso de 2026: Como a direita nacional e a extrema-direita global tentam moldar as eleições desde já

    A dois anos das eleições, a oposição já está em marcha. Trump e Musk atacam o Brasil, Kassab dispara contra o governo e o Centrão se movimenta

    Gilberto Kassab (Foto: Reprodução/GloboNews)

    Faltam ainda dois anos para as eleições de 2026, mas a oposição já está em campo, jogando pesado contra o governo Lula. Não se trata de uma disputa política comum, onde críticas pontuais surgem à medida que os desafios aparecem. O que vemos agora é um ataque coordenado, amplo e que começa com uma antecedência atípica. Isso não acontece por acaso. O modus operandi já é conhecido: mídia mainstream criando narrativas de desgaste, o mercado financeiro espalhando pânico sobre a economia, a oposição legislativa jogando contra o governo e, claro, os aliados políticos de ocasião, como o Centrão, já se posicionando para aumentar seu poder de barganha. Mas há algo diferente desta vez. O relógio político está adiantado demais. A movimentação de Gilberto Kassab, presidente do PSD e atual secretário do governador paulista Tarcísio de Freitas, é um exemplo claro disso. Enquanto ocupa uma posição de aliado do governo federal, Kassab, sem cerimônia, já começou a atacar, mirando no ministro Fernando Haddad e na própria liderança de Lula. Em outro contexto, isso poderia ser visto como um jogo normal de pressão política. Mas, com dois anos de antecedência, a lógica parece ser outra: a direita e a extrema-direita já estão antevendo um cenário favorável para 2026 e agindo de forma agressiva para pavimentar esse caminho.

    Se há um elemento que pode explicar essa ofensiva prematura, ele vem de fora: os Estados Unidos. O trumpismo, que nunca escondeu sua simpatia pela extrema-direita brasileira, Trump assumindo o controle da Casa Branca e, com isso, reforçando sua influência em países estratégicos, como o Brasil. E as Big Techs, que veem Lula como um inimigo em potencial devido às suas políticas regulatórias e sua proximidade com os BRICS e a China, podem estar jogando suas fichas nessa mesma direção. A aposta da extrema-direita brasileira e dos seus aliados oportunistas do Centrão é clara: desestabilizar o governo Lula desde já, criando um desgaste prolongado que torne a reeleição inviável. E com Trump de volta ao poder, facilitando eventualmente a blindagem de Bolsonaro contra seus processos judiciais, melhor ainda. O jogo começou antes da hora porque o prêmio é grande demais para ser deixado para a última hora.

    O fator Trump e Musk: A aliança do caos

    Se existe um padrão na extrema-direita global, é o de nunca jogar sozinha. Quando se trata de guerra híbrida, desestabilização política e manipulação informacional, as peças no tabuleiro sempre atuam em rede. No Brasil, isso fica evidente na relação cada vez mais explícita entre Donald Trump, Elon Musk e a extrema-direita bolsonarista. Trump, que já deixou claro seu desprezo por governos progressistas na América Latina, vê no Brasil um pilar fundamental de seu projeto de extrema-direita global. Seu alinhamento com Bolsonaro não foi só ideológico, mas estratégico. E, agora, voltando ao poder em 2025, ele já articula seu tabuleiro de aliados – e o Brasil está no centro dessa engrenagem. E então entra Elon Musk, o novo garoto-propaganda do autoritarismo digital. Desde que comprou o Twitter (agora X), Musk transformou a plataforma no playground da extrema-direita global, revogando banimentos, reinstaurando perfis de disseminadores de ódio e desinformação e atacando abertamente qualquer tentativa de regulação. Sua relação com Bolsonaro e sua hostilidade ao governo Lula não são coincidências, mas parte de um projeto maior de resistência à soberania digital dos países do Sul Global.

    Quando Alexandre de Moraes começou a enquadrar os crimes digitais da extrema-direita brasileira, Musk reagiu como qualquer bilionário acostumado à impunidade: com chiliques públicos. Ameaçou descumprir ordens judiciais, insinuou que o Brasil era uma ditadura e, em um dos momentos mais icônicos dessa disputa, recebeu uma resposta direta e sem firulas da primeira-dama Janja: “Fuck you”. A reação de Janja não foi só um desabafo pessoal, mas a verbalização do sentimento de um governo que sabe que está lidando com forças poderosas e hostis. Musk não está atacando o Brasil porque se preocupa com a liberdade de expressão – isso é papo furado. Ele ataca porque vê na regulação de redes sociais uma ameaça direta ao modelo de negócios de sua plataforma e ao projeto político da extrema-direita digital. Trump e Musk estão em sintonia porque compartilham o mesmo objetivo: garantir que governos progressistas tenham o mínimo de estabilidade possível e que plataformas digitais permaneçam livres para disseminar manipulação, ódio e desinformação sem restrições. O Brasil, mais uma vez, virou o campo de batalha. A pergunta que fica é: até onde essa aliança do caos está disposta a ir para garantir que a extrema-direita volte ao poder em 2026?

    Oportunismo do Centrão e o ataque de Kassab

    Se existe uma força política no Brasil que nunca perde, independentemente de quem esteja no poder, essa força é o Centrão. Sem compromisso ideológico, sem fidelidade programática, sem vergonha na cara. O que importa é estar sempre na mesa de negociação, controlando o fluxo de poder e recursos. E é exatamente isso que está acontecendo agora. Gilberto Kassab, presidente do PSD, um dos partidos mais fisiológicos do país, já começou a fazer o que o Centrão faz de melhor: barganhar poder. Oficialmente, Kassab faz parte da base do governo Lula, mas também ocupa uma posição de destaque no governo paulista de Tarcísio de Freitas, o queridinho da extrema-direita que tentam vender como moderado. Sentado nas duas cadeiras, Kassab viu uma oportunidade e não hesitou: saiu atirando contra o governo federal, chamando Fernando Haddad de “fraco” e afirmando que Lula não se reelegeria hoje. A jogada de Kassab não tem nada de pessoal contra Haddad ou Lula. Trata-se de uma demonstração de força e um aviso: o PSD quer mais espaço e está disposto a criar desgastes para conseguir. O Centrão opera assim – e sempre funcionou. O problema é o timing. A movimentação de Kassab não acontece em um ano eleitoral, mas dois anos antes, o que sugere algo maior: o PSD e outros partidos do bloco já perceberam que a extrema-direita e os interesses estrangeiros estão se alinhando para uma nova ofensiva contra o governo. E, como bons oportunistas, querem estar bem posicionados quando a tempestade começar.

    A grande questão é que, ao contrário do que Kassab tenta vender, o governo Lula não está nem perto do colapso. O presidente, que já enfrentou crises muito mais sérias e venceu todas, respondeu com ironia: "Estou despreocupado. Eleição não é hoje". Kassab sabe disso, mas não está interessado, na verdade – ele quer espaço, quer poder, e quer garantir que o PSD continue relevante independentemente do que aconteça em 2026. No fim das contas, o Centrão não joga com princípios, joga com probabilidades. E, ao lançar esses ataques tão cedo, Kassab e sua turma mostram que já estão calculando a possibilidade real de um governo de extrema-direita em 2026 – e querem estar no lado vencedor, seja ele qual for.

    A guerra pela soberania informacional e o projeto de regulação

    Se tem algo que une a extrema-direita global, as Big Techs e seus aliados no Brasil, é o pavor da regulação. O governo Lula, assim como o STF, sabe que sem controle sobre o fluxo de desinformação, o país continuará refém da máquina de ódio e manipulação algorítmica que quase destruiu a democracia brasileira. E é exatamente por isso que essa batalha não é só nacional – ela é global. O Brasil está na linha de frente da guerra pela soberania informacional. Regular as plataformas digitais significa garantir que eleições não sejam decididas por robôs, que a desinformação não seja impulsionada por interesses empresariais e que o debate público, não, seja sequestrado por algoritmos projetados para promover o extremismo. E, para o azar das Big Techs, Lula e o STF não parecem dispostos a recuar. A extrema-direita e seus aliados, claro, reagiram com fúria. Elon Musk tentou desafiar Alexandre de Moraes, insinuando que o Brasil era uma ditadura por ousar exigir que o X (ex-Twitter) cumprisse a legislação nacional. A resposta veio rápida e certeira: Musk percebeu que, sem seguir as regras brasileiras, poderia perder o mercado inteiro – e recuou. Mas isso não significa que a guerra acabou.

    O governo Lula sabe que, sem uma regulação séria das redes sociais, sua governabilidade será constantemente sabotada por uma máquina de propaganda digital financiada por interesses externos. A lógica é simples: quem controla a informação, controla a política. O bolsonarismo, que nunca foi um movimento orgânico, mas um projeto artificialmente sustentado por algoritmos e impulsionamentos pagos, depende completamente dessa infraestrutura para sobreviver. E não é só uma questão de política interna. As plataformas digitais têm um papel central na geopolítica da informação. Elas operam como braços do poder corporativo transnacional, decidindo quais vozes terão alcance, quais movimentos serão amplificados e quais governos serão enfraquecidos. Quando Lula defende a regulação das redes, ele não está apenas lutando contra Bolsonaro – ele está enfrentando um modelo econômico que lucra com o caos informacional.

    O que está em jogo aqui não é apenas a soberania do Brasil sobre seu próprio ecossistema digital. É a disputa entre um país que quer decidir seu próprio futuro e corporações que acreditam que podem moldar a política global a partir de seus escritórios no Vale do Silício. A pergunta é: quem tem mais poder? Um governo democraticamente eleito ou meia dúzia de bilionários que acham que estão acima da lei?

    O fator geopolítico: BRICS, China e o plano dos EUA

    Se há algo que incomoda profundamente os Estados Unidos, é a existência de um Brasil independente, soberano e alinhado com um projeto multipolar de mundo. O governo Lula, ao fortalecer os BRICS e aprofundar as relações com a China, desafia diretamente a lógica imperial que Washington sempre impôs sobre a América Latina. Isso torna o Brasil um alvo natural da estratégia de contenção dos EUA. O raciocínio é simples: um Brasil forte, aliado da China e da Rússia, representa um obstáculo para a hegemonia norte-americana. Desde sua volta ao poder, Lula tem trabalhado para consolidar uma política externa independente, o oposto do que foi feito sob Bolsonaro, que transformou o país em um satélite do trumpismo. O resultado? Um Brasil que se fortalece dentro dos BRICS, amplia parcerias estratégicas e, principalmente, se recusa a ser um fantoche dos interesses norte-americanos.

    Esse movimento não passou despercebido. O Departamento de Estado dos EUA e seus braços na mídia mainstream intensificaram ataques contra o Brasil, utilizando as mesmas táticas de sempre: criar narrativas de instabilidade política, fomentar crises institucionais e utilizar o mercado financeiro como instrumento de pressão. O objetivo é claro: desgastar o governo Lula e pavimentar o caminho para uma liderança mais alinhada a Washington em 2026. Os EUA não estão apenas preocupados com a economia brasileira – estão preocupados com o impacto geopolítico de um Brasil que fortalece o Sul Global e desafia a lógica unipolar do Ocidente. O crescimento dos BRICS e a criação de novos mecanismos financeiros que diminuem a dependência do dólar são ameaças diretas à influência norte-americana. E, para Washington, a melhor forma de neutralizar esse movimento é garantir que o Brasil volte a ter um governo submisso.

    Essa preocupação se reflete diretamente no apoio velado à extrema-direita brasileira. A volta de Trump ao poder acelerará esse processo, fortalecendo redes bolsonaristas e interferindo diretamente na política nacional. Mas mesmo sob Biden, o establishment dos EUA nunca deixou de ver o Brasil como um país que precisa ser "controlado". A diferença é que o método varia: enquanto Trump opera no caos e no conflito aberto, Biden atuava nos bastidores, utilizando o mercado, a mídia e as ONGs como ferramentas de influência. O que está acontecendo agora não é apenas uma disputa eleitoral antecipada – é parte de uma guerra geopolítica em que o Brasil é um campo de batalha estratégico. A extrema-direita brasileira sabe disso e está se preparando. O Centrão sabe disso e já começou a se movimentar. A pergunta que fica é: o governo Lula está pronto para resistir à próxima ofensiva?

    Interferência externa e os desdobramentos até 2026

    A extrema-direita brasileira não aposta apenas no voto popular para voltar ao poder em 2026. Ela conta com uma variável que pode mudar todo o jogo: a interferência externa. E, quando falamos de interferência, estamos nos referindo diretamente aos Estados Unidos e à influência que Washington ainda exerce sobre o Brasil, seja via mercado financeiro, mídia, big techs ou até mesmo o sistema de justiça. A volta de Trump ao poder já se apresenta como um divisor de águas nesse processo. Se o governo Biden agia com frieza em relação ao Brasil, um novo governo Trump poderia aprofundar ainda mais essa relação, incentivando diretamente os setores mais reacionários da política nacional e dando respaldo à extrema-direita bolsonarista. Mas o maior impacto pode vir do Departamento de Justiça dos EUA.

    Afinal, o que aconteceria se, sob o governo Trump, os processos contra Bolsonaro fossem travados por alguma ação externa? Não seria a primeira vez que os EUA interfeririam nos rumos da justiça de um país aliado, não é mesmo? E, se Bolsonaro for blindado de seus crimes, sua inelegibilidade pode ser revertida ou, no mínimo, ele pode ganhar fôlego para atuar como uma figura política central na eleição de 2026. Esse cenário daria ainda mais força ao projeto da extrema-direita, que não precisa de muito para convencer sua base de que as investigações contra Bolsonaro foram uma “armação” do STF. E com Trump de volta ao poder, a pressão externa se intensificará. O establishment dos EUA sabe que um governo progressista no Brasil, aliado da China e com influência nos BRICS, representa um problema para seus interesses globais. Se Lula continuar avançando na regulação das plataformas digitais, combatendo a desinformação e promovendo uma política econômica menos dependente do dólar, o incentivo para desestabilizar seu governo será ainda maior. O caminho até 2026 será turbulento, e a guerra híbrida contra o governo já começou. A oposição antecipou seus ataques porque sabe que conta com aliados poderosos dentro e fora do Brasil. A grande questão agora é: até que ponto essa interferência pode influenciar o resultado da eleição? E, mais importante, como o governo Lula pode se proteger de uma nova ofensiva que parece cada vez mais inevitável? O jogo está sendo jogado. A pergunta é: quem está realmente no controle?

    Conclusão: Um jogo global, um embate local

    O que estamos vendo não é apenas uma disputa eleitoral antecipada. É a continuação de um jogo global no qual o Brasil é um dos tabuleiros mais estratégicos. A extrema-direita brasileira não está agindo sozinha — conta com apoio externo, com a leniência do mercado financeiro, com a força das big techs e com a articulação de figuras como Donald Trump e Elon Musk, que enxergam o Brasil como peça-chave na manutenção de seu projeto de dominação informacional e política. A antecipação da crise política, as declarações de Kassab, os ataques de Musk, o crescimento do trumpismo e o alinhamento da mídia mainstream na construção de um desgaste permanente do governo Lula não são coincidências. Tudo indica que há uma articulação em curso para que, em 2026, o Brasil retorne ao controle da extrema-direita e volte a desempenhar o papel de satélite dos interesses norte-americanos. O governo Lula sabe disso. O STF sabe disso. Mas será que o campo progressista está pronto para o embate? A extrema-direita já está em campanha, já está articulando suas alianças, já está jogando suas fichas dentro e fora do Brasil. Do outro lado, a governabilidade depende da capacidade de resistir a esse cerco, avançar na regulação das redes, fortalecer a soberania informacional e impedir que o país caia novamente na armadilha da guerra híbrida. A questão central não é apenas quem ganhará a eleição de 2026, mas sim qual será o futuro do Brasil: um país soberano e protagonista no Sul Global ou uma peça secundária no projeto imperialista norte-americano? O jogo já começou. A diferença é que, desta vez, sabemos exatamente quem são os jogadores e quais são suas intenções.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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