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    Francisco Calmon

    Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Membro da Frente Brasil Popular do ES

    125 artigos

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    Letras, juros e política revolucionária

    Fazer revolução na atualidade é pregar a sua necessidade e não a sua realização a curto prazo

    Os intelectuais acadêmicos contribuem muito para a teoria, mas, nem sempre para a política de agitprop. Criam conceitos, termos e modismos, que, para a política revolucionária, muitas vezes, produzem divisões desnecessárias.

    Pós marxismo deu lugar a nada, não surgiu nenhuma teoria que superasse o marxismo, inobstante a soberba de alguns intelectuais em seus ensaios; burguesia deu lugar a empresariado, os adeptos da conciliação de classes passaram a evitar falar em burguesia; proletariado deu lugar a trabalhadores, como se operariado fosse sinônimo de proletariado, sendo que são conceitos distintos; reformismo passou a ser revolução social sem revolução política, ou seja: sem empoderamento e assunção do poder pelos trabalhadores; imperialismo passou a ser supremacismo, como conceito pós a teoria leninista - imperialismo, estágio superior do capitalismo, como se a ideologia ou a crença de um grupo determinasse os interesses de classes inerentes ao capitalismo e a luta como motor da história, como se a superestrutura independesse da estrutura econômica.

    Evidente que as palavras também evoluem, ganham amplitude, conceitos de uma ciência são aplicados em outras teorias, tudo isso são manifestações enriquecedoras e ganham periodicamente um certo modismo, como “narrativa”, “viés”, até os surgimentos de novos.

    Darwinismo social, malthusianismo imperialista, lawfare, são exemplos apropriados desse enriquecimento linguístico e teórico.

    Contudo, nas atividades de formação, organização e participação da militância na luta de classes, acabam por empobrecer ou até anatemizar teorias já consagradas pela história.

    É como o conceito de correlação de forças, que vem servindo como apanágio para imobilizar avanços, e não como parâmetro para avaliar o quanto avançar ou recuar.

    Examinar a paridade de armas não significa tornar a correlação de forças em bordão axiomático, que dispensa debate. Pelo contrário, deve ganhar centralidade nas análises e debates.

    Quando falamos em revolução, logo surgem muitos a dizer que não há condições, e estão corretos, erram quando censuram e excomungam, porque fazer revolução na atualidade é pregar a sua necessidade e não a sua realização a curto prazo.

    Se não pregar a sua necessidade, quando fará? Pregar no presente para preparar a etapa de fazer.

    Assim, compreendo ser o dever do revolucionário, que não se revela somente às portas de explodir a revolução, se é que vai explodir.

    O cientista usa do método da abstração da realidade concreta, faz ensaios, laboratórios, teoriza e põe à comprovação, contudo, quando desce à realidade política concreta, deve pensar no que vai produzir para a luta de classes.

    Ser revolucionário é ir às raízes, às causas mais profundas, é ser radical, que não se confunde com o extremismo moralista e muito menos com o esquerdismo doença infantil do comunismo.

    Não poderia encerrar sem comentar um pouquinho sobre o aumento dos juros, por unanimidade, pelo COPOM.

    10,75% a nova SELIC. Para quê COPOM, se o mercado já tinha adiantado o aumento de 0,25 há duas semanas?

    Aumentaram em 0,25 quando o IPCA cai 0,02, entretanto os 171 palpiteiros da FOCUS especulam aumento da inflação e servem de parâmetros aos bem remunerados componentes do COPOM. Consequência: juros reis em torno de 7%.

    Esses senhores responsáveis por essa trágica ciranda dos juros altos no país fazem um teatro de faz-de-conta, repletos de sofismas, debochando da inteligência da nação brasileira.

    E o Conselho Monetário Nacional (CMN), o órgão superior do Sistema Financeiro Nacional, que tem a responsabilidade de formular a política da moeda e do crédito, assiste impávido esse descalabro.

    A autonomia do Banco Central em relação ao governo é uma realidade, mas a independência do BC em relação ao mercado é uma balela.

    O BC, criado na ditadura militar em 31 dezembro de 1964, ganhou autonomia em 24 de fevereiro de 2021 durante o governo militarizado bolsonarista, se tornou no bunker do capitalismo financeiro dentro do Estado.

    A economia brasileira precisa crescer para eliminar a miséria e o desemprego.

    Mas na ideologia do BC isso traz inflação. Daí a fórmula primitiva: aumentar os juros para frear investimentos e consumo.

    Não há modelo matemático no mundo capaz de prever e corrigir a irracionalidade do capitalismo, para tanto, enquanto viger, dependerá dos gestores e de suas concepções e compromissos políticos e ideológicos.

    Com o aumento dos juros, quem perde senão o país e o povo trabalhador, e quem ganha, senão e unicamente os rentistas?

    Esse aumento foi festejado pela mídia golpista, Globo, Estadão e Folha, como vitória da coesão do mercado com o COPOM.

    Vivemos uma fagocitose financeira, o mercado engole o governo. Ocorre que não tem cidadania, pois não possui nem CPF e nem CNJ.

    O Brasil tem o segundo maior juros reais do planeta.

    Cercado pelos três êmes internos (mídia, militares, mercado) e pelo i externo (imperialismo), e minado por dentro do próprio governo, Lula, está sob um fio de alta tensão e prestes a ceder mais: submeter-se aos EUA assumindo o papel de subimperialista na América do Sul, e submeter-se, mais candidamente, ao mercado, com a presidência do BC por um quadro por ele indicado, sobre o qual não poderá criticar, visto que recairia a responsabilidade sobre si mesmo, pela eventual equivocada escolha. Lula caiu numa armadilha?

    É necessário que os pensadores e formuladores progressistas abram um debate nacional até a próxima eleição de 2026 sobre o papel do Banco Central, antes que perdure essa fagocitose do mercado engolir o governo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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