Linha fantasma e monotrilho que não funcionam
Eu não tenho dúvidas ao afirmar que o povo paulista da Capital e Região Metropolitana sofre há décadas com a baixa expansão e atrasos das obras do Metrô e CPTM por conta da corrupção e do péssimo planejamento das gestões tucanas
Nos anos 90, lembro-me que os tucanos de São Paulo se gabavam ao afirmar que eram competentes e dominavam as técnicas de planejamento e gestão, enquanto que impunham aos petistas, a alcunha de mal gestores. Bom, isso já passou e a realidade revelou o contrário. Lendo agora duas matérias jornalísticas que me chegaram às mãos sobre projetos dos governos tucanos que há 24 anos estão à frente do Executivo paulista sobre transporte metroferroviário, o tema me voltou à mente.
A primeira vem da categoria dos metroviários e seu combativo Sindicato e trata sobre os problemas da obra do Monotrilho que liga os bairros da Vila Prudente ao de São Mateus, denominada Linha 15-Prata. Prevista para ser entregue em 2012, por ocasião da Copa do Mundo no Brasil, até hoje ela não funciona plenamente e sofre com problemas estruturais. É bom frisar que essa obra sofreu várias críticas - eu mesmo me posicionei contra publicamente em muitas ocasiões quando exercia a função de deputado estadual - pelo seguinte motivo:
Não é o modelo ideal de transportes de massa para o volume de passageiros daquela região superpopulosa. O monotrilho foi concebido para transporte em trechos turísticos, de menor distância e com menor densidade de passageiros. Para a Zona Leste o ideal é o metrô mesmo. O monotrilho transporta metade dos passageiros do metrô - na Linha 15 a previsão é de 400 mil passageiros/dia contra 1 milhão da Linha 4 - e sua obra e operação custam 2/3 das do metrô convencional. Além disso, o recente problema que está fazendo a Linha 15 andar de forma parcial é o equipamento de via chamado Finger Plate que é uma placa de metal afixada nas vigas de concreto pra evitar dilatação. Os parafusos que fixam o equipamento na via acabam se soltando com o passar dos trens que, lotados, causam trepidação e soltam os parafusos. A implantação da Linha 15 custou ao erário público em torno de R$ 5 bilhões e foi concedida à iniciativa privada - a CCR que ganhou o leilão - por R$ 169 milhões.
Evidentemente não é uma questão somente de incompetência. A ideia de fazer monotrilho ao invés de metrô tinha por trás a proposta de ser um negócio, ou seja, construir e conceder para a iniciativa privada administrar, pois esse sistema exige poucos funcionários, o que seria um atrativo para empresas privadas parceiras.
E é sempre bom lembrar que nas eleições de 2014 o governo tucano anunciava que o Monotrilho chegaria até o bairro da Cidade Tiradentes e depois das eleições, vencidas por Alckmin, seu governo veio a público anunciar que o projeto havia mudado e a última estação ficaria mesmo em São Mateus. Se isso não é um estelionato eleitoral, não sei o que é!
TREM PARA AEROPORTO VIAJA VAZIO
A outra matéria é a que foi publicada pela Folha de São Paulo no último dia 8/01. Ela mostra o fracasso da Linha 13-Jade da CPTM, que liga Ermelino Matarazzo ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. Essa linha tem um serviço Expresso com partidas que saem da Estação da Luz e vai direto a Cumbica. Pois bem, num dia que o Aeroporto recebeu movimento de 145 mil passageiros, 05/01, somente 36 passageiros usaram a Linha em uma das viagens, sendo que tem capacidade para dois mil passageiros. A linha 15 custou R$ 2,3 bilhões para a CPTM, emprestados pelo BNDES e agências europeias. Esse tem sido o cotidiano da linha 13 que o ex-governador Alckimin correu para inaugurar em 2018, semanas antes das eleições presidenciais e que muitos questionaram sua prioridade diante de tantas demandas na região metropolitana. Até o sucessor de Alckmin no governo, João Dória, reclamou do fato da linha terminar longe do aeroporto, exigindo que os passageiros façam baldeação de ônibus para chegar ao destino final de mais 7 km ou que se faça no futuro outra obra complementar como um monotrilho.
CORRUPÇÃO E PREJUÍZOS
O sistema metroferroviário de São Paulo virou um Frankstein, com linhas geridas pelas empresas estatais Metrô e CPTM, outras concedidas para a iniciativa privada, monotrilhos ao invés de metrôs, linha quase fantasma (linha 13 até o aeroporto de Cumbica), obras paradas (Linha 6-Esmeralda que deve ir do centro até a Brasilandia) e outras que geram dúvidas se vão funcionar (casos dos monotrilhos nas linhas 15-Prata e 16-Ouro, esta ultima que vai do aeroporto de Congonhas à Marginal Pinheiros e cuja empresa que forneceria os trens faliu).
Há ainda todo o escândalo de corrupção que ficou conhecido por Trensalão, operado por agentes públicos dos vários governos com esquema de Cartel, já apurado pelo CADE e confessado por várias empresas e delações, que revelaram esquemas de propinas e caixa 2 para eleições e candidatos, via superfaturamento e desvios de bilhões de reais dos cofres públicos. E nem vou entrar aqui dos prejuízos que a Linha 4-Amarela vem causando ao Metrô por conta dos atrasos da obra e implantação e erros de cálculos na previsão de passageiros que faz o governo, através do Metrô, a ter que indenizar constantemente o Consórcio que administra a linha por conta de um contrato que jogou todo o risco para o setor público. No ano passado o Metrô teve que internalizar um prejuízo em seu balanço no valor de R$ 300 milhões que deveriam ser repassados pelo governo paulista para o Consórcio em função de número de passageiros abaixo do previsto em contrato (Que pedalada!).
Eu não tenho dúvidas ao afirmar que o povo paulista da Capital e Região Metropolitana sofre há décadas com a baixa expansão e atrasos das obras do Metrô e CPTM por conta da corrupção e do péssimo planejamento das gestões tucanas, que espelham uma visão de que governar é facilitar negócios para parceiros privados, deixando o interesse público em segundo plano.
Infelizmente, nós das oposições nunca conseguimos mostrar com mais vigor essa situação para o eleitorado paulista, talvez por incompetência, mas com certeza muito mais por conta da omissão de parte da grande mídia ou da má vontade de setores majoritários do Ministério Público e do Judiciário que são muito lentos nas apurações de denúncias.
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