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    Rodrigo Vianna

    Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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    Lira (e não Bolsonaro) é o grande maestro da direita

    Lula derrotou o bolsonarismo nas urnas, e confirmou a vitória ao debelar o golpe de 8 de janeiro. Mas não derrotou o Centrão, nem debelou o poder de Lira

    Arthur Lira preside sessão na Câmara - 20.12.2022 (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

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    O escândalo das jóias não foi capaz de reduzir o apoio a Bolsonaro entre os mais fanáticos na extrema-direita. Foi o que mostrou pesquisa Quaest divulgada na semana que passou. Não se trata de levantamento por amostragem, mas de uma pesquisa nas redes sociais: nos setores mais identificados com o chamado "bolsonarismo raiz", o escândalo é um não assunto. Os fanáticos seguidores de Jair et caterva seguem numa bolha a espalhar mentiras e a defender o chefe. Isso mostra o desafio que será derrotar o bolsonarismo na sociedade brasileira.

    Ainda assim, a repercussão política é evidente no mundo institucional. O PL se afastou do ex-presidente, como se ele fosse material contaminado, e suspendeu os planos de lançar Michelle como liderança política da extrema direita religiosa. Essa é uma consequência evidente desse caso que é absolutamente didático para aqueles que queiram enxergar: a família de Jair não tem limites e age como se estivéssemos numa Monarquia, em que os bens públicos se misturam ao patrimônio de quem exerce o poder.

    Os militares também saem desmoralizados do episódio, já que pelo menos cinco fardados se esforçaram para levar às mão  do chefe extremista o kit de jóias - que foi enviado pelos árabes  como um presente, mas tem toda aparência de propina. 

    A perda de apoio institucional de Bolsonaro e o relativo desmantelamento do poder militar deveriam ter como consequência o avanço mais tranquilo de Lula com sua agenda. Mas não é o que vemos.

    A semana foi marcada também pela decisão do presidente da República de manter Jucelino Filho no cargo de ministro das Comunicações: sinal claro da fragilidade do governo para montar sua base no Congresso. Demitir Jucelino ampliaria as fissuras que fazem com que Lula dependa demais de Artur Lira, para aprovar seus projetos na Câmara.

    É um sinal de que o sistema político brasileiro, que sobreviveu à tentativa bolsonarista de um golpe extremista, segue em parte capturado por interesses oligárquicos, que em nada têm a ver com a agenda vitoriosa em outubro.

    Lula derrotou o bolsonarismo nas urnas, e confirmou a vitória ao debelar o golpe de 8 de janeiro. Mas não derrotou o Centrão, nem debelou o poder de Lira - que age como despachante dos interesses do mercado.

    Lira, e não mais Bolsonaro, é hoje o grande maestro da direita brasileira.

    No início do terceiro mandato, Lula tem que lidar com artilharia inimiga que vem de vários pontos ao mesmo tempo. O bolsonarismo parece ter perdido força, enredado por escândalos de corrupção e pela falta de capacidade de se articular politicamente. Mas a direita no Congresso, nos bancos e na mídia segue fortíssima, e essa sim parece ser mais perigosa para as pretensões de Lula de retomar o desenvolvimento e reduzir o caos social no Brasil.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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