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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Livrem-se de Borba Gato, para que não ergam estátuas de Bolsonaro e seus milicianos

    "Livrem-se dos bandidos e eliminem por antecipação a possibilidade de alguém um dia erguer impunemente em praça pública a estátua de Bolsonaro rodeado de estátuas de milicianos", escreve o colunista Moisés Mendes

    Incêndio na estátua do Borba Gato, em São Paulo (Foto: Reprodução/Instagram)

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    Por Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia

    O incêndio da estátua de Borba Gato em São Paulo atualiza o debate sobre a destruição de monumentos erguidos para bandidos homenageados por crueldades praticadas em nome do poder dos brancos.

    A controvérsia sempre tem abordagens aparentemente históricas, que de históricas não têm nada. Dizem, por exemplo, que Borba Gato é parte da construção do Brasil e que sua figura deve ficar onde a colocaram, não como homenagem, mas como marca de um tempo.

    É uma falsa questão histórica. Assim, um bandido de bronze ficaria onde o largaram porque, mais do que bandido, é uma figura importante de uma época. No mesmo raciocínio, acrescentam que há graduações de bandidos, e aí surgem as questões ditas subjetivas.

    Os argumentos são simplórios demais. Dizem até que os bandidos homenageados deveriam ser preservados porque já estão nos livros de História, na literatura e nos relatos orais que tratam do que eles fizeram.

    Não é bem assim. Bandidos a serviço de escravistas, como Borga Gato, devem ser estudados e podem fazer parte de representações em livros escolares, na literatura, no cinema, nas artes em geral, em museus e até nos desfiles de escolas de samba.

    Mas estátuas públicas são mais do que representações artísticas ou material didático e/ou educativo. Ninguém ergue uma estátua em espaços que são de todos apenas para que as pessoas observem, estudem e reflitam sobre o representado.

    Aquele Borba Gato tenebroso, inclusive como ‘arte’, foi colocado em Santo Amaro em 1962 porque ainda representava o poder político e econômico que decidiu homenageá-lo.

    Não há mais o que discutir sobre a validade da existência e da manutenção de estátuas como essa, de criminosos, déspotas, ditadores e similares.

    A Alemanha preserva casamatas usadas pelos nazistas, e prédios com marcas da guerra ficaram como estavam. Para que as lições trágicas de um acontecimento único estejam sempre presentes.

    Mas ninguém imagina que a Alemanha possa erguer uma estátua para Hitler em Berlim, como fizeram com Borba Gato em São Paulo. Ah, mas Borba Gato não foi um Hitler. Para os negros e os índios que ele caçou e matou, claro que foi.

    Os jovens, com vigor físico e ímpeto para a afronta e a reparação que os mais velhos não se atrevem a fazer, estão encarregados de estudar o destino de outras estátuas de facínoras. Jovens têm discernimento para saber o que deve ser preservado.

    Claro que há riscos. Negros descendentes de escravos podem ser processados por enfrentar a representação simbólica, acintosa e criminosa dos algozes dos seus ancestrais.

    Haverá sempre alguém argumentando diante de um negro (hoje perseguido pela polícia e ignorado pela Justiça) que ele é um vândalo atentando contra o patrimônio público.

    Mesmo que esse patrimônio seja a representação de alguém que ficou célebre por perseguir e matar negros em nome dos senhores brancos e que por isso mesmo obteve reconhecimento público.

    Tente explicar a uma criança ou a um adolescente porque eles passam todos os dias a caminho da escola por uma estátua de um Borba Gato ou de alguém da mesma laia de Borba Gato. Não há como explicar.

    É inacreditável que ainda existam, sob todo tipo de pretexto, estátuas de Borbas Gatos. Livrem-se dos bandidos e eliminem por antecipação a possibilidade de alguém um dia erguer impunemente em praça pública a estátua de Bolsonaro rodeado de estátuas de milicianos. 

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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