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    Pedro Maciel

    Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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    Lula 3 tornou-se um "pato manco"? Não, Lula é a harpia, guardiã da nossa esperança

    E o aumento do dólar? E o recorrente déficit primário? Não seriam indícios de que Lula “perdeu a mão”? Prezados, esses não são indicadores macroeconômicos

    Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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    Escutei do meu amigo Carlinhos Barreto que Lula 3 tornou-se “um pato manco”.

    Para quem não sabe, ou não lembra, ‘‘Pato manco" é uma expressão, usada principalmente na política norte-americana, que define o político que continua no cargo, mas que, por algum motivo, perde a expectativa de poder.

    A expressão surgiu de um velho provérbio de caçadores que diz: “Never waste powder on a dead duck”, isto é, “nunca desperdice pólvora com pato morto”.

    No Brasil Temer, a exemplo de Sarney, no final de seu governo, não tinha mais força política para levar adiante seu projeto econômico de retomada da lógica liberal, tanto que nenhum dos dois teve grande influência na própria sucessão.

    Não é o caso de Lula.

    Vou me socorrer dos universitários para responder ao Carlinhos, no caso o socorro vem do professor Paulo Nogueira Batista Junior, que em 2022 escreveu: “Lula prometeu que voltaria “para fazer mais e melhor”. Não conseguirá se perder o controle da área macroeconômica do governo” (para quem não o conhece, Paulo é professor titular da cátedra Celso Furtado do Colégio de Altos Estudos da UFRJ e foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS; ou seja, ele não é um “zé mané” como eu).

    Tendo a premissa do professor Nogueira Batista como bússola, eu pergunto ao leitor: Lula perdeu o controle da área macroeconômica do seu governo? Evidentemente Lula tem controle da área macroeconômica, além dele ser o grande player das eleições em 2026, por isso o meu amigo, grandemente influenciado pela ideologia liberal (ideologia habilmente apresentada como “técnica e asséptica” pelos especialistas, nos vários programas de TV e nos jornais) está errado.

    Lula mantém sob controle a questão econômica, pois, apesar de o mercado estar fazendo barulho e apostando fortemente contra o governo: (i) a inflação segue dentro da meta; (ii) a relação dívida pública x PIB (que não é excepcional, como Lula legou a Dilma ou como era no final de Dilma 1) está sob controle; (iii) o desemprego está baixo; (iv) o IED, investimento estrangeiro direito e o investimento público reascenderam a esperança da indústria nacional.

    E o aumento do dólar? E o recorrente déficit primário? Não seriam indícios de que Lula “perdeu a mão”?

    Prezados, esses não são indicadores macroeconômicos.

    Nas duas últimas semanas o dólar subiu ao maior valor desde março de 2021; o que acontece é que as eleições presidenciais nos EUA geram incerteza e o mercado, covarde, não gosta de incertezas...

    Pesquisas dão conta que a diferença entre Kamala Harris e Donald Trump passou a se estreitar; conforme o 'The New York Times', Kamala tinha 50% da preferência enquanto Trump ficava com 47%, mas nos levantamentos seguintes, ela começou a cair e Trump, a subir, em síntese: o mercado não gosta da falta de previsibilidade, quando ela vem, todos correm para ativos seguros, como o dólar.

    Já o ‘superávit primário’ se refere às contas do governo, quando ele acontece significa que a arrecadação do governo foi superior a seus gastos (nesse cálculo não são levados em consideração os juros e a correção monetária da dívida pública); o resultado primário, seja ele superávit ou déficit, é um indicador de como o governo está administrando suas contas, mas não é um indicador macroeconômico, que são: inflação; níveis de preços; taxas de crescimento; renda nacional, PIB e variação de desemprego.

    Vou sustentar o meu argumento, mas antes um breve histórico, para colocarmos a questão em perspectiva.

    Lula ao ser eleito enfrentava, segundo o professor citado pelo menos três blocos hostis a ele e ao que ele representa: (1º) a extrema direita (rebelada contra o resultado das eleições com apoio de parte das Forças Armadas), (2º) a direita fisiológica que domina o Congresso (o chamado “centrão”) e, (3º) o capital financeiro, o “mercado”, que tem estreita ligação com a finança internacional e domina a mídia tradicional, que em geral vocaliza seus interesses.

    Na avaliação do professor esses “blocos” colaboram entre si e o bloco mais perigoso “talvez seja aquele formado pelo capital financeiro e a mídia tradicional”.

    Vejam, essa avaliação do professor Paulo é do final de 2022.

    Fato é que, desde a eleição de Lula, a campanha “responsabilidade fiscal” começou forte, financiada pelo mercado e vocalizada pelos “especialistas” da mídia tradicional, especialmente porque desde a campanha Lula avisou que, várias vezes, que não conviveria com o teto constitucional de gastos e que o enfrentamento da crise social seria a prioridade “número 1” do seu governo.

    Essa barulheira toda - reverberada por gente de boa-fé como o meu amigo, que de forma ingênua acredita que a lógica da ideologia é algo técnico e asséptico -, tem objetivo: o mercado quer se apropriar do governo Lula, pois, não lhe interessa o risco do investimento, e as dores das pessoas são meras externalidades.

    O Banco Central já é de “propriedade” do mercado, agora ele quer controlar o ministério da Fazenda e o Planejamento e domesticar Lula.

    Em síntese: Carlinhos está errado, apesar de manter a certeza de estar certo (ele, como muitos, lê com fé cega os editoriais do Estadão); Lula não é Pato Manco, é a Harpia, guardiã dos nossos sonhos.

    Essas são as reflexões.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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