Lula com a voz da razão
"Experiência de crises recentes mostra que Lula tem razão ao dizer que não tem idade para virar 'maria vai com as outras' ", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
Por Paulo Moreira Leire, do Jornalistas pela Democracia - O reconhecimento de que os assalariados têm interesses econômicos e políticos próprios, distintos do empresariado e dos setores médios, sempre contribuiu para a conquista de melhores condições de existência dos trabalhadores e das camadas subalternas.
Muitos daqueles direitos que até pareciam garantidos para sempre, como salários compatíveis com o custo de vida, aposentadoria e assistência médica, jamais foram entregues espontaneamente por empresários altruístas, mas conquistados em processos de luta e reivindicação.
Hoje, no capitalismo do século XXI, vivemos um processo na direção inversa, a uberização -- esforço especialmente selvagem de regressão social.
Como sabemos, no Brasil esse ataque a direitos tradicionais ganhou velocidade a partir do golpe de 2016, recebendo impulso ainda maior no governo Bolsonaro-Guedes.
Mesmo considerando possíveis mudanças na esfera política no próximo período, num processo cujo percurso ainda não é possível vislumbrar como será, nada indica que a guinada socialmente regressiva do bolsonarismo será interrompida automaticamente -- a menos que a parte mais prejudicada esteja organizada e preparada para ir atrás de um indispensável ajuste de contas.
E aqui se enxerga o papel de Lula, sua recusa em entrar "no primeiro ônibus que aparece".
Numa grande síntese: as mesmas forças políticas que em 1984 estiveram no palanque da campanha pelas diretas-já, ajudando a enterrar o regime militar, ressurgiram de casaca virada em 2016 para votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff, no golpe parlamentar que abriu as portas para o bolsonarismo e sua sombra, uma ditadura.
Como farsa, como tragédia, é bom ser cuidadoso. A experiência brasileira ensina que a história costuma repetir-se com frequência indesejável.
Alguma dúvida?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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