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    Marcia Tiburi

    Professora de Filosofia, escritora, artista visual

    111 artigos

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    Lula e o aborto

    "Entre canalhas patriarcais, quem fala a favor dos direitos das mulheres será crucificado", escreve Marcia Tiburi

    Lula e campanha pelo aborto (Foto: Divulgação | Ricardo Stuckert)

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    Lula falou sobre o aborto e foi ferozmente atacado como qualquer pessoa que defende a legalização dessa prática em um país patriarcal e de ódio às mulheres como é o Brasil. 

    Opositores viram em sua colocação a chance de atacá-lo publicitariamente, pois Bolsonaro está atrás de Lula nas pesquisas e com alto índice de rejeição. A imprensa golpista também aproveitou para bater no político cuja vitória para a eleição presidencial em 2022 parece a cada dia mais inevitável. A imprensa oligárquica quer vê-lo derrotado a qualquer custo depois que o candidato fabricado no judiciário do Paraná e no ministério da justiça de Bolsonaro deu literalmente em nada.

    Lula disse o óbvio sobre o aborto, mas em tempos fascistas “serás condenado por dizeres o óbvio”. O óbvio é que o aborto é uma questão de saúde pública. O óbvio é que a população feminina precisa desse direito assegurado, até porque o aborto legal em um hospital é mais seguro e, consequentemente, mais econômico, pois o aborto na clandestinidade também leva mulheres ao hospital e, constantemente, à morte, aumentando os problemas do governo e das famílias em todos os níveis. O óbvio é que as mulheres de todas as raças, classes e religiões abortam. O óbvio é que até mulheres conservadoras, e que são contra o aborto, abortam. O óbvio é que o aborto é um tabu na sociedade patriarcal que controla o corpo das mulheres e quer decidir sobre a procriação que é uma potência do corpo feminino que deveria poder decidir por si mesmo em ima sociedade que respeitasse os indivíduos femininos. O óbvio é que seria muito melhor não ter que fazer aborto, assim como seria muito melhor não engravidar quando não se deseja. O óbvio é que mulheres não deveriam ser estupradas e que melhor seria não precisar abortar porque sofreram tal violência abjeta. O óbvio é que entre canalhas patriarcais, quem fala a favor dos direitos das mulheres será crucificado. 

    Lula está sendo atacado como as mulheres que defendem direitos das mulheres sempre foram atacadas por defender o direito ao aborto seguro e legal.

    Ivone Gebara, freira feminista, teóloga, filósofa e religiosa da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora, vem defendendo as mulheres vítimas da ilegalidade do aborto há décadas.

    Há anos, Gebara, como tantas outras feministas que defendem o aborto (entre elas Debora Diniz e até mesmo a autora desse artigo) é atacada por setores fundamentalistas. O aborto vem sendo tratado como tema político e religioso, quando deveria ser tratado como questão de saúde pública. Assim, Gebara escreveu que "os incautos e ingênuos defensores da vida assim como os perversos políticos extremistas entram e alimentam o jogo político montado e armam uma nova polêmica em torno do aborto".

    Vamos incluir a imprensa oligárquica na produção dessa polêmica, uma imprensa que não está do lado das mulheres e nem da democracia, diga-se de passagem, mas como setor do poder, está apenas favorecendo interesses econômicos dos seus parceiros de classe e patrocinadores de sempre. 

    Já Lula, ele está do lado das mulheres e, nesse momento, sobra a velha misoginia, ou seja, o discurso de ódio contra as mulheres, também para ele.

    Eis a violência em escala variada de canalhice que se constitui na básica estratégia de poder do patriarcado a ser superado.

    Ao Lula, as mulheres brasileiras só podem agradecer por não ficar calado diante da injustiça.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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