Lula e o novo ‘presidencialismo de conciliação’
"A pergunta que fica martelando: é possível fechar uma aliança com os neoliberais e construir um programa de reconstrução do país?", escreve Milton Alves
Por Milton Alves
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um sagaz, experimentado, e engenhoso articulador político faz uma aposta de grande envergadura e risco ao optar pela escolha do ex-tucano Geraldo Alckmin como companheiro de chapa. E mais do que ninguém, Lula calcula os custos e benefícios.
Trata-se de uma operação política que pretende aplacar os temores e os preconceitos da maioria dos setores das classes dominantes em relação ao ex-presidente e, sobretudo, ao PT — mas não é só isso.
Após amargar uma odiosa e implacável perseguição, Lula, como uma fênix, ressurge de uma forma impressionante no cenário político, liderando de forma absoluta todas as pesquisas eleitorais para presidente. Um fenômeno de performance política que desafia os prolixos e surrados manuais dos cientistas políticos.
A aposta de Lula ocorre em meio ao esboroamento do mandato do presidente Bolsonaro, da burlesca candidatura de Sergio Moro e do definhamento eleitoral de Ciro Gomes e do governador paulista João Doria. Lula busca ocupar também o espectro da terceira via e isolar Bolsonaro. É o que indica uma leitura apressada, apenas baseada no senso comum da movimentação recente do líder petista.
A operação de Lula começar a ecoar em cabeças coroadas da Faria Lima, que imaginam uma espécie de “presidencialismo conciliação”, no caso do naufrágio das candidaturas “puro sangue” do neoliberalismo — o que funcionaria como um pacto de redução de danos, um seguro, para os donos do dinheiro.
Em nome da “realpolitik”, as torcidas organizadas pró-frente ampla acreditam que é a melhor direção a ser seguida: até mesmo um processo incontornável para vencer as eleições presidenciais e para garantir uma futura governabilidade, segundo a visão otimista dos defensores de Geraldo Alckmin na vice de Lula.
Combo de ilusões
O grande enigma que alimenta as tensões no debate sobre a natureza e o alcance das alianças de Lula com a direita reside, principalmente, na formulação do futuro programa de governo. A pergunta que fica martelando em todas as cabeças: é possível fechar uma aliança com os neoliberais e construir um programa de reconstrução do país? Quem vai ganhar e quem vai perder?
Uma política de “frente amplíssima” tem como prioridade, na prática, a subordinação programática para sinalizar uma boa vontade com os partidos e lideranças da centro-direita e até da velha direita neoliberal.
Ou seja, mais uma vez, o setor majoritário da esquerda faz uma aposta na fórmula política da conciliação pelo alto ao invés de um programa de ruptura, que tenha como alavancas propulsoras a mobilização popular e a nitidez programática, para construir e consolidar uma governabilidade de novo tipo.
Resta saber se Lula será capaz de realizar mais essa façanha, passando por cima das contradições políticas e dos imensos antagonismos de classes, operando como um trator indomável e furioso.
Lula sabe o que faz. É o que proclamam os seus dedicados áulicos. Eis aí o “xis” da questão para os críticos pela esquerda do novo aliancismo e do combo de ilusões com a pretensa lealdade democrática dos decadentes próceres do tucanato paulista.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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