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    Marconi Moura de Lima Burum

    Mestre em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, abraçado às epistemologias do Direito Achado na Rua; pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. No Brasil 247, inscreve questões ao debate de uma nova estética civilizatória

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    Lula fez no Flow Podcast o que deveria ter feito em seus governos

    Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

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    … Explico! 

    Lula é, de longe, o melhor presidente da República que o Brasil já teve. E para economizarmos o tempo de vocês que generosamente prestam leitura a este texto, vou me apegar apenas em um dos necessários programas de Lula no seu trabalho entre 2003 e 2010: o PROUNI!

    Você que assistiu ao Flow [1] deve ter capturado uma das principais entrelinhas durante aquelas quase duas horas da recordista audiência no mundo digital: o apresentador do podcast, Igor Coelho, disse que sua esposa e ele foram bolsistas do PROUNI [2], isto é, tiveram acesso a uma vida melhor, venceram o jogo social das oportunidades e direitos a partir de um projeto do Governo Lula. Todavia, o Igor (perdoem-me a hipérbole necessária) detesta(va) o PT, veste-se da semiologia do antipetismo. Hãmmm? Como assim?

    Contudo, é fundamental dizer que a culpa da ignorância (política) do Igor não é necessariamente dele, entretanto, da boa fé (errônea) do PT em seus governos. Acreditou inocentemente que apenas dando diplomas aos milhões de jovens no Brasil estava tudo resolvido. Criando programas de inclusão social que retirassem as pessoas da situação de vulnerabilidade historicamente colonial, que não precisaria fazer mais nada ao fluxo da cognição natural das pessoas. 

    Ocorre que não é bem assim: a potência escravista, racista, patriarcal, elitista impregnada em nossa cultura é das coisas mais emergentes a se revolver neste País. Nossa mentalidade é sequestrada pelo sensível de uma formação histórica de (500 anos de) exploração e domínio quase entorpecentes ou anestesiantes a nosso povo. Em síntese: resta-nos a urgência de duas consciências fundamentais: a de classe e a decolonial. Ou isso, ou não esperemos uma civilização evoluída – jamais!

    Voltemos ao que o título deste texto pretende sugerir. Tenho escrito neste canal com razoável frequência que o Lula precisa, como prioridade número zero em seu próximo governo (tenhamos fé, na luta), criar dois projetos de largada: i) junto ao Ministério da Educação, uma Secretaria de Educação para a Democracia, a Cidadania e os Direitos Humanos; e ii) junto ao Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, a Secretaria de Tecnologia Social, Economia Solidária e Cooperativismo. (Para não me estender no detalhamento destes dois projetos, leia este texto aqui - https://www.brasil247.com/blog/lula-por-favor-eu-te-peco.)

    Pois bem! Lula, não preciso nem cansar você com uma proposta metodológica ao que lhe sugeri outrora. Basta tão somente fazer o que você fez no Flow. Vamos entender melhor.

    No dia histórico de 18 de outubro de 2022, Lula não participou de uma entrevista; foi uma aula de formação política. Não de política partidária, ou de esquerda, ou isso, ou aquilo, entretanto, de consciência política das coisas do mundo e da democracia e da civilização. Lula não deu um show (claro, com o brilhantismo e carisma similares do apresentador, que merece aplausos também) apenas nas respostas de cunho eleitoral. Se analisássemos pelo lado dos projetos que Lula falou em realizar; das respostas que chegaram aos feitos que já realizou – para traçarmos como parâmetros de competência; e de sua elegância em se defender de ataques injustos reverberados pela indústria de fake news, por isso somente já teria sido incrível. Mas não! Preciso ir além. A entrevista no Flow (Igor não sabe) foi uma incrível ação – aparentemente individual – do Lula para levar àquele apresentador gente boa aquilo que lhe faltava: formação política.

    Igor é talentoso. Um grande empreendedor do mundo 4.0. É, portanto, (tende a ser) um multiplicador (como o é Felipe Neto e tantos outros que já estão trabalhando – não apenas para ganharem seu justo dinheiro, mas – para um mundo bacana), multiplicador de boas novas na cognição da verdade e da decolonização do pensamento. Contudo, Igor demonstrou em vários momentos que tem um encaminhamento apolítico. Estupidez? Não. É comum na maioria dos brasileiros não se interessar por política, pelo que se vota no Congresso Nacional, pelas agendas dos candidatos em tempos de eleição e por sua consequente implementação (ou ausência) de programas para a sociedade. E é mais comum ainda as pessoas se deixarem levar pelo que se conta nos noticiários da Tevê, ou pela “pedagogia” do TikTok. Tais fatores, infelizmente, mais alienam as pessoas do “mundo” real que forma consciências críticas e dialéticas. E Lula produziu uma das mais brilhantes mobilizações dialéticas que já testemunhei, capaz de inquietar pensamentos turvos e encantar consciências desanimadas no agir social.

    É bom lembrar que a parte preponderante do público que assiste ao Flow Podcast é de uma juventude sedenta por tecnologia, por aprender e por crescer na vida; é também entretenimento. Esse novo arranjo dos conteúdos tecnológicos pode brilhantemente pode ser resumido na parte em que Lula e Igor tratam da “indústria 4.0”. Esse público que Lula diz que pretende investir pesado para acesso nas universidades, para levá-los ao exterior a fim de complementarem sua formação tecnológica e voltar produzindo muito para o País e ganhando bem para viver bem [3]; esse público não pode ser formado apenas nos estereótipos do universo técnico, todavia, carecerá de empoderamento emancipatório para consciências crítico-dialéticas a não serem “sequestrados” pelos vetores alienantes de uma sociedade desigual em que os opressores fazem dos oprimidos seus gestores ativos no mundo real e virtual [4].

    Isto posto, digo, data vênia, que o Lula precisa transformar seu próximo Governo num “Flow” diário em que a troca de ideias seja producente ao conjunto dos atores envolvidos e à consignação de, finalmente, termos uma civilização evoluída, incapaz de (re)produzir “bolsonaros” (melhor dizendo: empoderada para rechaçá-los) ou quaisquer outros tipos de semânticas autoritárias, despóticas, antidemocráticas e cruéis como as que vemos de uns bons dias para cá... 

    ………………………

    [1] A entrevista do Lula no Flow Podcast foi incrível. Caso tenhas curiosidade, segue o link: https://www.youtube.com/watch?v=OAu9KJFbMhU.

    [2] O que é o PROUNI? Síntese: 

    https://www.geledes.org.br/saiba-como-funcionam-as-bolsas-do-prouni/?gclid=CjwKCAjwwL6aBhBlEiwADycBIO939ZTscyznA9yI7TQzyJP0e7az3nc8L2qpS6spGpUQzewxK6h7vhoCygAQAvD_BwE

    [3] Sobre este assunto de pensarmos tecnologias sociais, empreendedorismo e outros instrumentos que podem ir ao encontro do que Lula e Igor trataram por “indústria 4.0”, leiam, por gentileza, este outro artigo:

    https://www.brasil247.com/blog/eduardo-moreira-pode-ser-ministro-do-desenvolvimento-industria-e-comercio-exterior

    [4] Lula foi a principal vítima histórica neste País da falta de formação política. Veja em detalhes neste artigo:

    https://www.brasil247.com/blog/prisao-de-bolsonaro-fome-des-educacao-e-ai-lula

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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