Lula se reaproxima dos grandes empresários nacionais
Presidente decidiu quebrar o gelo na relação com os pesos pesados da economia nacional e isso pode criar um novo ambiente de otimismo no País
O aperto de mão da imagem acima, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário Rubens Ometto, ocorreu nesta sexta-feira, na cidade de Guariba, em São Paulo, onde o grupo Raízen inaugurou sua planta para produção de etanol de segunda geração. Este produto usa o bagaço proveniente da produção do açúcar e etanol comum para produzir ainda mais etanol, sem aumento de área plantada, e índice 30% menor de emissão de gases de efeito estufa. Ou seja: trata-se de algo fundamental para uma das grandes apostas do governo Lula, que é a transição energética.
A confraternização entre Lula e Ometto é também simbólica porque marca uma nova fase do governo, com a reaproximação entre o presidente e os pesos pesados da economia nacional. No início de seu terceiro mandato, Lula vinha mantendo uma cautelosa distância dos grandes empresários nacionais, por uma série de motivos. Havia ainda o trauma da Lava Jato, ressentimentos do passado e a percepção de que muitos empresários que se tornaram bilionários em seus dois governos, um período de grande prosperidade econômica, haviam se aproximado da extrema-direita durante o calvário vivido pelo presidente. Em março deste ano, quando Lula ofereceu uma recepção no Itamaraty ao presidente francês Emmanuel Macron, poucos empresários estiveram presentes. Ometto foi um deles, assim como Marcos Molina, da Marfrig/Brasil Foods, e Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco.
Durante a tempestade vivida por Lula, foram poucos os que jamais se afastaram do presidente. Entre eles, destacam-se nomes como José Seripieri Júnior, que recentemente comprou a Amil, e Walfrido dos Mares Guia, que, em abril deste ano, inaugurou uma unidade da Biomm, produtora de insulina, com a presença de Lula no evento, na cidade de Nova Lima (MG). Além deles, também se destacam os irmãos Joesley e Wesley Batista, que expandiram em abril deste ano uma fábrica em Campo Grande (MS) para exportação de carnes da JBS, também com a presença de Lula, Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de Administração do Bradesco, e Josué Gomes da Silva, chefe da Coteminas e presidente licenciado da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), além de filho de José Alencar, vice de Lula nos seus dois primeiros mandatos.
No caso da Raízen, a aproximação é também importante porque o grupo atua em áreas que formam o eixo central do programa de retomada de desenvolvimento do governo Lula, que são infraestrutura e transição energética. Não por acaso, o BNDES, comandado por Aloizio Mercadante, que é hoje um nome de consenso entre os grandes empresários nacionais, tem atuado em parceria com a Raízen e a Cosan, de Ometto, em grandes projetos estruturantes para a economia nacional. A Cosan, assim como a Bradespar, é também um dos grandes acionistas da Vale, empresa que, na visão do presidente Lula, deve se engajar mais no projeto de reindustrialização da economia brasileira.
A reaproximação com a Faria Lima – Este novo momento do presidente Lula não tem se limitado apenas ao empresariado do setor industrial. No fim de abril, o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, foi levado ao Palácio do Planalto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O encontro, que durou pouco mais de uma hora, foi classificado como excelente pelo entorno do presidente e permitiu que duas figuras centrais da vida brasileira, Lula e Esteves, retomassem uma relação que nunca esteve rompida, mas havia esfriado. Não por acaso, em eventos recentes, Esteves, que também controla o grupo Exame é o principal formador de opinião do chamado "mercado", fez declarações positivas sobre as perspectivas da economia brasileira. Até porque os números, de fato, não permitem outra visão. O Brasil cresceu 3% em 2023 e pode repetir o mesmo número em 2024, a depender do impacto das enchentes no Rio Grande do Sul.
As declarações de Esteves não chegam a ser tão contundentes quanto as de 2010, quando o Brasil era "grau de investimento" e ele afirmou que o Brasil vivia seu melhor momento econômico em 500 anos, mas são importantes num contexto em que boa parte do capital financeiro demonstra má vontade com o governo Lula. Recentemente, Armínio Fraga, da Gávea Investimentos, contestou a avaliação da agência Moody's e disse que, em vez de ter sido colocado em perspectiva positiva, o Brasil deveria ter sido rebaixado – o que só se explica por miopia ideológica.
Do ponto de vista sociológico, sempre será possível apontar os limites de uma política de conciliação de classes entre a alta burguesia nacional e um governo voltado à promoção dos mais pobres. É também possível que a maior parte do "andar de cima" embarque em alguma candidatura da direita em 2026. Mas é inegável que uma boa relação entre o governo e o empresariado nacional contribui para um ambiente de maior otimismo interno e para desfazer o mito de que todo e qualquer empresário é, antes de tudo, um radical de direita. Em 2010, quando Lula encerrou seu segundo mandato com mais de 80% de aprovação, isso se deu também porque não havia empresário que não adotasse discursos otimistas em relação aos seus negócios e à economia nacional. E, no Brasil, nunca houve um animador da economia tão bom quanto o presidente Lula.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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