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    Rodrigo Vianna

    Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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    Mapa do voto indica vantagem sólida de Lula

    Chegamos ao segundo turno com o voto blocado. A história do voto dá favoritismo a Lula, mesmo que por estreita margem. É preciso trabalhar até o último minuto

    Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS)

    O voto no Brasil tem história. Os mapas que publicamos abaixo (produzidos a partir de dados oficiais do TSE) mostram os resultados eleitorais no primeiro turno de 2018 (figura pequena) e 2022 (figura maior). Há uma constância impressionante: as áreas vermelhas indicam onde a votação no PT é majoritária (Haddad/Lula) e as áreas em amarelo apontam o voto em Bolsonaro.

    Importante notar que essa distribuição segue a mesma lógica das disputas anteriores (2006 a 2014) entre PT e PSDB, consolidando certa tradição do voto no país.

    Mapa do voto

    Em 2018, com Lula preso e o PT sob ataque brutal, Haddad ganhou nas áreas onde o PT tradicionalmente já vencia nas disputas anteriores contra os tucanos: Norte, Nordeste e norte mineiro. Naquela eleição, no entanto, houve duas mudanças decisivas: Bolsonaro acrescentou ao campo amarelo o Rio de Janeiro e o estado de Minas.

    Em 2022, a ampla frente montada por Lula foi fundamental para recuperar parte do terreno perdido em 2018. Peço que reparem, no mapa grande, como Lula ampliou a votação de forma significativa:

    - em Minas (especialmente, na região de Juiz de Fora e no sudeste mineiro);

    - em Porto Alegre e na porção sul do Rio Grande do Sul;

    - na grande São Paulo.

    Lula conseguiu manter o voto tradicional da esquerda e do PT (cerca de 30% a 40% do país), trazendo para a Frente Ampla democrática, ao mesmo tempo setores liberais e a "nova esquerda" mais próxima ao PSOL. Essa ampliação foi decisiva para que o mapa voltasse a ficar vermelho na capital paulista, no Rio Grande do Sul e no interior mineiro - trazendo Minas de volta para o campo vermelho.

    Chegamos ao segundo turno, portanto, com o voto absolutamente blocado. O voto tem história e essa história dá favoritismo a Lula, mesmo que por estreita margem.

    Algumas pesquisas neste sábado de véspera do segundo turno deixaram o campo progressista tenso. Parece ter havido uma clara combinação para que pesquisas favoráveis a Bolsonaro saíssem na manhã de sábado, para levar pra rua os militantes da direita, criando um clima falso de virada.

    Sim, há motivo para preocupação e para trabalhar até o último minuto para derrotar Bolsonaro. Mas não há motivo para pânico e muito menos para desânimo. 

    Quem acompanha o que escrevo e o que digo no ar, nas lives, aqui no 247, sabe que nunca acreditei em vitória no primeiro turno. Não por fé irracional ou por pessimismo congênito. Mas porque os números e a história mostram que essa conta não fechava para o PT.

    Da mesma forma, desde o início do segundo turno, projeto uma vitória final de Lula: por margem estreita, mas sólida.

    Muita gente diz que o bolsonarismo embaralhou as cartas e que nada mais segue nehuma lógica na política brasileira. Calma, não é assim. Os mapas acima mostram que há um desenho claro no voto.

    Tudo indica que Bolsonaro vai ampliar (um pouco) as margens naqueles territórios onde já ganhou no primeiro turno. E Lula fará o mesmo nas áreas que seguem fortemente aderidas ao projeto do PT e da Frente Democrática.

    Minha projeção (logo abaixo, trago os números) parte desses princípios:

    - Bolsonaro confirma e amplia - no segundo turno - a margem de votos no Sul, no Centro Oeste e no Rio (esse estado que, de 1989 a 2014 votou com os progressistas, parece ter caído de forma consistente nas mãos da direita miliciana e evangélica);

    - em São Paulo, Bolsonaro tende também a ampliar um pouco a vantagem, mas há uma disputa ferrenha nas últimas horas por conta do episódio de Paraisópolis e do crescimento de Haddad na disputa estadual;

    - em Minas, a tendência é um "empate", com redução da vantagem obtida por Lula no primeiro turno, por conta da máquina do governador bolsonarista Romeu Zema;

    - na região Norte, também temos um "quase empate", com leve vantagem para Lula graças à vantagem para o petista no Pará e no Amazonas, que compensa a ampliação bolsonarista em áreas dominadas por agro e grilagem de terras;

    - Lula amplia ainda mais a margem no Nordeste, contando especialmente com a mobilização na Bahia e em Pernambuco (onde há segundo turno estadual), bem como no Maranhão e no Ceará (onde as "máquinas estaduais" funcionam para o lado do candidato do PT).

    No fundo, o que teremos no segundo turno é a confirmação do mapa do voto no Brasil.

    Minha projeção indica vantagem de Bolsonaro:

    - no Sudeste, por 4 milhões de votos

    (2,5 milhões em SP, 1,5 milhão no RJ mais ES, empate em MG)

    *poderia chegar a 5 milhões, se Bolsonaro virar em Minas e abrir um pouco mais em São Paulo;

    - no Sul, por 4 milhões de votos; 

    - no Centro Oeste, por 2 milhões de votos.

    A soma das três regiões, na projeção mais "pessimista" para os democratas, dá 11 milhões de vantagem ao capitão fascista.

    Lula, por sua vez, deve abrir 13,5 a 14 milhões no Nordeste (ganhou por 12,9 milhões no primeiro turno) e mais um pouquinho (300 mil) no Norte.

    Portanto, é perfeitamente lógico pensar numa vitória de Lula por margem de 3 milhões de votos = 2,5 pontos percentuais.

    Minha aposta é essa: 51,5 x 48,5. Margem estreita, porém extremamente sólida.

    Para isso, será preciso trabalhar até o último instante, porque a máquina do outro lado é pesadíssima. 

    Uma vitória nessas circunstâncias - enfrentando o derrame de dinheiro público, a fábrica de mentiras, o terror religioso e a violência física nas ruas - será heroica, ainda que por estreita margem.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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