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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Marçal é a geração de influencers do fascismo se aproximando do poder

    “É preciso ver muito além da obviedade de que o avanço do extremista do PRTB ameaça o próprio Bolsonaro”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Pablo Marçal (Foto: Reprodução/YouTube/Band Jornalismo)

    Tem gente tentando tirar um peso das costas com a tese segundo a qual Pablo Marçal cresce e agora empata com Boulos e Nunes no Datafolha, em meio ao caos da campanha eleitoral em São Paulo, por ser uma alternativa turbinada pelas elites que não apostam mais no prefeito.

    É mais uma conversa preguiçosa, sustentada pelo mesmo argumento de que nossos problemas são provocados por interferências externas que golpearam Dilma, encarceraram Lula e inventaram Bolsonaro. Gente poderosa, mas de fora.

    Marçal seria a invenção de uma aliança da delinquência com grandes empresários, os mesmos que patrocinaram Bolsonaro e que ficaram quatro anos com o sujeito porque queriam ter a proteção de Paulo Guedes.

    Se Ricardo Nunes não funciona direito, as elites inventam Marçal. É só chamar Paulo Guedes de novo, ou anunciar que Roberto Campos Neto estará com ele na prefeitura, e tudo se resolve.

    Não é bem assim. Todos eles, desde o Bolsonaro de 2018, são invenções internas, com alguma participação complementar da direita mundial e seus muitos agentes. Mas todos foram gerados pelo Brasil arcaico e, eureka, pelo povo.

    E aí está o problema que se apresenta com Marçal para as esquerdas, para a velha direita engolida pela extrema direita e agora também para o núcleo do bolsonarismo. Marçal é uma invenção do povo. 

    Marçal é o assustador ponto fora da curva do fascismo. Ele tem o que Bolsonaro nunca teve. O influencer conta com um certo povo que o bolsonarismo nunca emocionou. 

    Ele sensibiliza camadas da população para muito além da classe média branca de tios e tias de meia idade do zap, que formam o lastro do ativismo e da base social fiel e orgânica do bolsonarismo. 

    Marçal é um estágio acima desse bolsonarismo envelhecido porque mexe com os sentimentos dos jovens que a extrema direita não sensibilizou como pretendia.

    Como as pesquisas informam, é o cara do Instagram e do TikTok e de todas as redes, dominando tudo o que se move nesse mundo de ódios, mentiras, difamações e crimes acobertados pelas big techs. Essa é a audiência de Marçal e sua base política, que Bolsonaro nunca teve com esse alcance no público com menos de 40 anos.

    Marçal repete aqui o fenômeno Javier Milei na Argentina, que se sustentou entre a classe média suburbana, mais pobre do que média, e entre quem tem menos de 30 anos. Os jovens desiludidos e desorientados elegeram Milei.

    O argentino antissistema, que se apresentava com o glamour do economista de grandes grupos, teve o suporte dos jovens para se eleger, porque chegou a eles de um jeito que o fascismo brasileiro não conseguiu e que pode agora conseguir com Marçal.

    Não que Marçal e Milei sejam iguais, porque Milei é a imagem do serviçal do poder econômico e Marçal é um delinquente metido em golpes pela internet e em quadrilhas de traficantes. Independentemente de onde saíram, ambos comovem os jovens. Marçal prosperou e ficou milionário.

    O fenômeno passa a ser um problema para Bolsonaro, Tarcísio, Michelle, Malafaia e os que investem no futuro do bolsonarismo pensando em 2026 ainda sob a tutela de Bolsonaro. Marçal, que não integra a estrutura de comando ou liderança da extrema direita, é uma ameaça a Bolsonaro como alternativa nacional.

    Tem 37 anos, escapou do cerco da Justiça até agora, aperfeiçoou lacrações, cortes de vídeos e discursos, é rico e afronta todos ao redor com a irresponsabilidade do cãozinho que entrou no pátio dos cachorros grandes. Pode ser devorado por causa da arrogância. Mas não o subestimem.

    Marçal se anuncia como o aperfeiçoamento da direita extremada com voto, a criatura que pode renovar o fascismo com as virtudes que o brasileiro conectado ao bolsonarismo pede: o pensamento raso da síntese simplória e agressiva, o currículo de criminoso, a capacidade para difamar, o empreendedorismo, a fortuna, a adoração a Deus e à família e mais o antilulismo e o antiesquerdismo.

    Temos aí, como tivemos em 2018, um sujeito com todos os predicados, agora aperfeiçoados e radicalizados, para atender às demandas da família brasileira que se viciou em agressões, negacionismo, racismo, golpismo e todo tipo de preconceito. Ele é o novo estágio do que se iniciou há seis anos. 

    Marçal é o cara que resume a frase repetida desde 2018 em quaisquer circunstâncias, por gente esperta, estudada, formada ou imbecilizada, idiotizada e alienada que se dedica às várias formas de fascismo exposto ou dissimulado: é hora de mudar. 

    Ele é o Monark que deu certo. Se não for contido, pode transformar Bolsonaro no Orkut da extrema direita. Marçal é a geração de influencers fascistas cada vez mais perto de um projeto de poder. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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