Marta vem aí?
"Tê-la como aliada, na disputa pela prefeitura de São Paulo, pode fazer parte. Tê-la como 'companheira' de Partido, não faz parte", diz Valter Pomar
Embora haja ministros que minimizem, o fato é que a direita e a extrema-direita operam para impor uma grande derrota ao PT em 2024.
E, convenhamos, a situação não está fácil.
Entre muitos outros motivos, porque cometemos muitos erros, que agora cobram seu preço. São Paulo capital é um bom exemplo disso.
Haddad deveria ter sido candidato a prefeito em 2020. Se tivesse sido, provavelmente teria ido ao segundo turno e poderia ter vencido. Mas Haddad não quis, essencialmente porque - na minha opinião - achava que ia “botar o bloco na rua” em 2022.
Como um erro leva a outro, a desistência de Haddad foi seguida de várias opções erradas, com destaque para as feitas por parte importante do PT paulistano.
O resultado foi uma campanha em que nosso candidato a prefeito foi menos votado do que nossa bancada de vereadores; e parte do eleitorado petista votou em Boulos nas eleições municipais. Em 2022 as candidaturas majoritárias do PT foram as mais votadas na cidade de São Paulo. Mesmo assim, em 2024, o PT decidiu ir de Boulos prefeito, já no primeiro turno.
Com Boulos existem chances de vitória? Sim, como indicam os resultados de 2022 e as pesquisas de intenção de voto. E, obviamente, uma vitória da esquerda em SP capital nos ajudaria muito nas duras disputas que virão no biênio 2025-2025.
Mas, embora a vitória seja possível, o quadro é muito difícil. E para aumentar nossas chances, está circulando a ideia de colocar Marta como vice de Boulos.
Eleitoralmente a ideia tem seu sentido. Basicamente porque, na periferia paulistana, a memória do governo Marta segue presente e positiva.
O que não faz sentido, na minha opinião, é Marta se filiar ao PT. O que ela fez em 2016, apoiando o golpe, foi uma violência inesquecível e imperdoável. Imperdoável, entre outras por uma razão muito simples: quem cruza determinadas fronteiras, não cruza uma única vez. Tê-la como aliada, na disputa pela prefeitura de São Paulo, pode fazer parte. Tê-la como “companheira” de Partido, não faz parte.
Uma coisa é o PT adotar uma política “ampla”. Podemos concordar ou discordar, mas em si mesmo isso não muda a natureza do Partido.
Outra coisa é o PT trazer, para dentro de si, certos aliados, suas políticas, seus programas e, principalmente, seus hábitos. Isso vai mudando, por dentro, a natureza do Partido. É verdade que isso já está sendo feito, em grande número de estados e de cidades do país. Há até quem comemore a filiação, ao Partido, de pessoas com trajetória para lá de conservadora. E, reconheço, perto de algumas tranqueiras, agora filiadas ao PT, a refiliação de Marta parece ser até razoável. O problema é que certas decisões, por sua visibilidade e simbolismo, têm um efeito desmoralizante, inclusive por borrarem a fronteira entre o que é aceitável e o que não é aceitável na disputa política.
Se Marta, depois do que fez 2016, pode mesmo assim voltar a ser filiada ao PT; e filiada com o objetivo de disputar a vice-prefeitura da maior cidade do país, supostamente em nome do PT; e ainda ser recebida com pompa e circunstância; então estaremos cruzando uma perigosa fronteira.
Espero que a ideia não prospere.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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