Mauro Cid tem muito a dizer. Bolsonaro, tudo a perder
"Mauro Cid deve estar diante de uma “aranha”, colocando alfinetes coloridos que ligam os pontos a nomes do altíssimo escalão bolsonarista", diz a jornalista
São muitos os crimes e seria um tanto frustrante se Bolsonaro viesse a ser preso apenas pelo roubo das joias. Para quem desde o primeiro minuto do seu mandato conspirou e trouxe a população sob o domínio do medo de um retorno aos tempos dos horrores da ditadura, embora o roubo em si fosse um crime de extrema gravidade, colaria nele apenas o rótulo de corrupto, deixando de fora os de genocida, golpista e tantos outros itens previstos no Código, sobre os quais, espera-se, ele responda.
A lista é grande: epidemia com resultado morte; infração de medida sanitária preventiva; charlatanismo (pelo incentivo indevido ao uso da cloroquina); incitação ao crime; falsificação de documento particular; emprego irregular de valores públicos, prevaricação; peculato...
Sabedora do passivo do marido com a Justiça, Michelle Bolsonaro entrou em crise num culto em Brasília, na quarta-feira (06/09). Desta vez, os anjos não lhe mandaram mensagens com vozes embaralhadas, como na aprovação de André Mendonça para o STF. As mensagens que chegaram foram as de que a barra pesou para Bolsonaro. Esperto, já deve ter preparado aquela malinha básica com a escova de dentes, o desodorante e algumas mudas de roupa, para quando baterem à porta não o pegarem desprevenido.
Enquanto isto, no Batalhão do Exército em Brasília a movimentação foi intensa. O tenente-coronel Mauro Cid deixou o local nessa tarde para ir à Polícia Civil colocar a tornozeleira eletrônica que deverá usar daqui por diante. Em casa, para onde deve ir assim que liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, seguirá algumas restrições, como a de a proibição de sair de casa à noite e se comunicar com outros investigados nos casos dos quais é alvo. Além disso, a decisão do ministro determina que ele fique afastado de suas funções no Exército.
Ontem, fontes ligadas à família Cid – trataram de espalhar um roteiro para o seu futuro imediato. Disseram que ele entregaria a arraia miúda, livrando o pai e a mulher, alegando que eles não sabiam nada das joias. Cid confessaria o já sabido sobre vacinas, recebendo o acolhimento do Exército por ter agido por cumprimento de ordens superiores. Assim, com pena abaixo de dois anos, ele vai para a reserva remunerada e aguarda a anistia, retornando às suas funções na ativa como coronel, futuramente.
Um dos principais auxiliares do ex-presidente nos quatro anos de governo, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid teve seu acordo de delação premiada com a Polícia Federal homologado neste sábado pelo ministro Alexandre de Moraes. Ironia fina do destino. Logo ele, o alvo dos que ameaçavam arrastá-lo pelo pescoço pelas ruas da capital.
A julgar pela magnitude do que já contou o seu celular, Mauro Cid agora deve estar diante de uma “aranha”, colocando alfinetes coloridos que ligam os pontos a nomes do altíssimo escalão bolsonarista. Será essa a sua função como delator: ligar fatos e nomes a ações e locais.
Mas, além dessa tarefa, o tenente-coronel terá de agregar mais uma ao seu cotidiano. E esta deverá requerer todo o treinamento recebido no Exército. Deverá passar a dormir com um olho fechado e outro aberto, vigiando gretas e frestas da sua casa. Não faltará quem queira atingi-lo e emudecê-lo, no momento em que ele raspa a garganta para começar a falar. Talvez estivesse mais protegido no batalhão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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