Mercado aposta contra o Brasil
'Quando a economia sufocava os mais pobres, a Faria Lima dormia tranquila', escreve o colunista Alberto Cantalice
“No âmbito da economia política, a pesquisa científica livre encontra não apenas os mesmos inimigos que encontra em outras áreas, como também outros ainda mais terríveis, porque a própria natureza do assunto de que ela trata coloca em cena, contra ela, aquelas paixões que são ao mesmo tempo as mais violentas, as mais vis, e as mais abomináveis de que o coração humano é capaz: as fúrias do interesse pessoal.”¹
Resolvi abrir este artigo com essa citação de Karl Marx (Livro II de "O Capital") para relembrar que, enquanto deixava trinta milhões de brasileiras e brasileiros passando fome, o desgoverno anterior e seu “Posto Ipiranga” eram aplaudidos na Faria Lima e nos salões atapetados Brasil afora.
A contração fiscal, que começou em 2014 com Joaquim Levy, ainda no governo Dilma, propagou-se durante o governo Temer e teve seu ápice na gestão Paulo Guedes, no governo Bolsonaro. Cantada em prosa e verso, a “autonomia do Banco Central” enfraqueceu a posição do governo eleito e impôs uma camisa de força na política monetária dos dois primeiros anos do governo Lula.
A insistência na manutenção de uma taxa de juros nas alturas, a segunda maior do mundo, só perdendo para a Rússia, país que enfrenta uma guerra com a Ucrânia, é a fúria do interesse pessoal.
Omissão do BC
Não satisfeitos, os agentes econômicos projetam um aumento na taxa Selic, ampliando o garrote sobre o crescimento da economia e a geração de empregos. Basta uma simples olhadela na “missão” do BC, postada em sua página na internet, para perceber que o mesmo não vem cumprindo com ela.
Diz o texto: “Garantir a estabilidade do poder de compra da moeda (inflação), zelar por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo (mercado de capitais) e fomentar o bem-estar econômico da sociedade (crescimento)."
Ora, ficam claras as omissões da atual diretoria do BC quanto ao não cumprimento de duas das três missões: a defesa da moeda (não interveio na recente especulação com o Real, deixando o dólar disparar); e a barragem do crescimento: ao invés de fomentar a economia, a comprime, dificultando a política monetária.
Espera-se ansiosamente que o novo presidente do Banco, Gabriel Galípolo, e os três novos diretores a serem indicados pelo presidente Lula, sem descurar da estabilidade monetária e das perspectivas de inflação, façam uma gestão olhando a economia como um todo e não com olhos voltados para um só setor econômico: o mercado financeiro.
Cumprir as Leis
Mudando de assunto: a ordem do ministro do STF, Alexandre de Moraes, para tirar do ar o X (antigo Twitter) do empresário norte-americano Elon Musk veio em boa hora. É inadmissível que, em uma nação independente e soberana, empresas transnacionais operem no país ao arrepio das leis. Chega a ser risível o comportamento vira-lata de setores da mídia brasileira, que, ao atacar a decisão do ministro, impulsionam a extrema-direita, dando gás para suas tentativas autoritárias, distópicas e criminosas.
A ausência de regulação e de cobrança de tributos sobre as big techs no Brasil criou um cenário de “terra de ninguém” nas redes sociais, transbordando o discurso de ódio e as fake news, comprometendo a democracia e usurpando o Estado Democrático de Direito.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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