Mercado financeiro nem disfarça mais seu ódio aos pobres
"Que tipo de gente é essa que, com geladeira cheia e vida confortável, torce pelo desemprego e o consequente sofrimento alheio?", questiona Bepe Damasco
Acabo de ler com satisfação que o índice de desemprego do terceiro trimestre apurado pelo IBGE, de 6,4%, foi o menor para o período desde 2014. O Brasil caminha para, até 2026, atingir a condição de pleno emprego, que acontece quando a taxa de desocupação fica abaixo de 5%.
Mas sabe o que essa ótima notícia representa para o mercado financeiro ?
Rigorosamente nada. O dólar segue em alta, atingindo sua maior cotação desde 2021, e a bolsa de valores opera em queda.
Desta vez, o movimento especulativo, segundo os analistas da mídia hegemônica, que no Brasil assume a condição de porta-voz do rentismo, tem como objetivo pressionar o governo para que anuncie o quanto antes uma política de corte de gastos.
Como não produzem sequer um parafuso e estão com as burras cheias de papéis da dívida pública do país, bancos, corretoras e fundos de investimento vivem um pesadelo sem fim, que é o temor de a situação fiscal se deteriorar a ponto de o governo ser forçado a um calote.
Para esses senhores do dinheiro fácil, juros altos são tão essenciais quanto o oxigênio que respiram, ao mesmo tempo que desprezam variáveis na economia real, como produção, emprego, consumo e desenvolvimento.
Desprovidos de convicções democráticas e republicanas, fazem a bolsa operar em alta e o dólar em queda até quando a quando a Constituição da República é violada, como no golpe contra Dilma Rousseff e a prisão ilegal de Lula.
Maus brasileiros e entreguistas até o último fio de cabelo, estão na fila do gargarejo do aplauso a todas as ações lesivas ao patrimônio público da nação. Se dependesse da Faria Lima, todos os setores estratégicos para o desenvolvimento, a independência tecnológica e a soberania nacional seriam arrematados em leilão pela iniciativa privada, bem como serviços essenciais à população, como saúde e educação.
Será que ao redor do mundo existe mercado financeiro tão desqualificado, antipovo, antinacional e que devota um ódio tão visceral aos pobres como o nosso?
Acho difícil.
Por aqui, as demonstrações explícitas de falta de empatia com os mais humildes e de perversidade são chocantes:
- Defendem ajuste fiscal à custa dos que recebem Benefício de Prestação Continuada.
- Querem ajustar as contas públicas avançando sobre o seguro de quem está sem trabalho.
- Pregam o fim fim da vinculação do salário mínimo aos benefícios previdenciários.
- Atacam a política de valorização do salário mínimo.
Tudo isso à lua do dia.
Há algumas semanas, em reportagem sobre o crescimento da economia e do nível de emprego, a GloboNews entrevistou agentes do mercado e professores ultraliberais escolhidos a dedo para comentar a conjuntura econômica atual.
E, pasmem, todos os os ouvidos foram unânimes em dizer, na maior cara de pau, que "economia muito aquecida e desemprego em queda são um perigo, pois podem trazer de volta a espiral inflacionária e juros ainda mais altos."
Que tipo de gente é essa que, com geladeira cheia e vida confortável, torce pelo desemprego e o consequente sofrimento alheio?
Pois é, está cheio delas na Faria Lima e nas editorias de economia da imprensa comercial.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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