Mercado quer austeridade e sangue
Eles não admitem, por exemplo, que se amplie a faixa de isenção do Imposto de Renda na base e se taxe no alto
A reação negativa de “o mercado” e “a mídia” perante o anúncio de medidas fiscais pelo governo era esperada, mas ambos estão se superando na hipocrisia. O dueto – estando o segundo componente em irreversível genuflexão diante do primeiro - gostaria de uma boa tesourada em tudo que lembrasse justiça social, coisas como educação, saúde, aposentadorias. Lula e Haddad lhes deram – e ao Brasil – uma proposta racional de equacionamento da evolução dos gastos públicos, em que uma redução ocorrerá de forma significativa ao longo dos próximos anos, distorções serão atacadas, mas não ao custo do sangue das classes mais baixas.
O povo da grana alta disfarça, porém essa gente é conhecida. Eles não admitem, por exemplo, que se amplie a faixa de isenção do Imposto de Renda na base e se taxe no alto. No quesito gasto público, essas pessoas são idólatras da bíblia da austeridade.
O livro “A Ordem do Capital” (2022), de Clara E. Mattei, professora associada do Departamento de Economia da News School for Social Research, revela a partir de relatos históricos como tecnocratas afinados com a bufunfa fizeram da austeridade a principal arma da dominação exercida pelas elites. A autora fixa-se na Itália e no Reino Unido, mas seus modelos vestem no mundo, especialmente num Brasil em que “o mercado” tem faniquito quando o governo anuncia que deixará de cobrar Imposto de Renda de quem ganha até 5 mil reais mensais.
Os “austeros” serviram ao fascismo nas primeiras décadas do Século XX, ou serviram-se dele. Depois do keynesianismo que legou ao mundo décadas de declínio da desigualdade, tecnocratas da austeridade respaldaram Thatcher, Reagan, FHC, Temer e Bolsonaro. Hoje detêm Milei, Trump II e muitos mais, todos dispostos a manter a riqueza em poucas mãos, vendendo o falso consenso de que a austeridade é boa para todos, quando o é para poucos.
Mattei explica com clareza como age a austeridade e quais seus efeitos. Adquire várias formas, como a de cortes ou remanejamentos orçamentários, sempre em áreas sociais. Se não for assim, “o mercado” chantageia, fabrica crises como a que se vê no Brasil neste momento com o câmbio, apreciado especulativamente sem qualquer medida contrária do Banco Central. Roberto Campos Neto deveria ser punido pela inação.
Austeridade é sinônimo de juro alto e redução de crédito. Assim escreveu Mattei: “Essa chamada política do ‘dinheiro caro’ aumenta o custo do governo para tomar empréstimos e, assim, limita seus projetos expansionistas”. A política do dinheiro caro traduz-se em desaceleração da economia, menos investimento, menos emprego. Menos emprego significa salários menores e perda de influência política pela classe trabalhadora. Significa poder, mais e mais poder para os donos do capital, justamente o que Lula não admite.
O discurso de Lula sempre foi e ainda vai na contramão da austeridade. O presidente tem a perfeita noção do quanto uma economia regida pela austeridade destrói o emprego, impede o desenvolvimento e aprofunda a desigualdade. Por isso Lula incomoda “o mercado” e “a mídia” (ou parte dela), cercadinhos de luxo onde se conspira contra a justiça social e se reclama de pagar impostos, mesmo quando quase nada se paga de imposto ali.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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