Meu lugar de fala
Continuo fazendo a defesa de um Brasil mais justo e mais igualitário, um país com democracia. Lutamos tanto por isso, tantos morreram por esse sonho que não posso me dar ao luxo de olhar para a Esplanada e não denunciar o momento político que estamos vivendo, como a Reforma da Previdência ou a perseguição política ao Lula, de novo
Nos últimos dias, tenho refletido bastante sobre direitos sociais, justiça e luta política. Reconheço a importância do meu papel como parlamentar, mas também como cidadã. Lembro dos tempos em que minha juventude permitia que eu, escondida dos meus pais, pudesse lutar de perto por justiça social; fosse na ocupação de terra para reforma agrária; fosse dormindo com meninos em situação de rua; fosse me organizando com outros jovens, pintando a cara (com o coração ardendo por eleições) e indo às ruas gritar “diretas já”.
Naqueles tempos de medo, nós não tínhamos celulares nem internet; quase ninguém tinha carro próprio ou cartão de crédito para parcelar uma viagem (eu nem conhecia quem tinha acesso a voos) e a mobilização não era tão rápida como é hoje. Tínhamos medo de desaparecer ou ter que sair do país, mas tínhamos tanta esperança num Brasil com democracia que corríamos o risco.
Hoje a minha contribuição é outra, envolve projetos de lei e sessões na Câmara como representante do povo. O meu lugar de fala mudou, mas eu continuo fazendo a defesa de um Brasil mais justo e mais igualitário, um país com democracia. Lutamos tanto por isso, tantos morreram por esse sonho que não posso me dar ao luxo de olhar para a Esplanada e não denunciar o momento político que estamos vivendo, como a Reforma da Previdência ou a perseguição política ao Lula, de novo.
Tudo que antes era tão inacessível, hoje está na palma das nossas mãos. No celular, podemos nos comunicar com o mundo, usar o banco, comprar uma passagem ou pedir um carro. Podemos filmar e denunciar uma arbitrariedade que em segundos estará na rede, será vista e investigada. São outros tempos. E tudo foi sendo conquistado aos poucos: a tecnologia, a democracia, um país menos desigual, que quem vai chegando agora não sabe o quão difícil foi chegar até aqui.
Os jovens que vejo hoje nas ruas e nos atos, apesar do brilho nos olhos que eu conheço bem, não sabem o quanto são privilegiados. E muitos desses privilégios foram conquistados nos anos de Governo Lula/Dilma. Esses jovens têm mais acesso à informação do que seus pais jamais tiveram; podem num clique formar opinião em suas redes, podem fazer “freelas” e contribuir com a renda ou pagar sua própria faculdade. O jovem de hoje não tem ideia do poder de um “Uber”, que é o direito de ir e vir sendo exercido de certa maneira.
Eles melhoraram de vida graças às políticas públicas implementadas nos últimos anos, mesmo que não reconheçam que isso que usufruem é um direito, fruto de uma política pública. E os jovens hoje sabem que o país precisa mudar, precisa melhorar. Não à toa, nas jornadas de junho, gritaram “não são só vinte centavos”. E não era, era por mais direitos.
As jornadas de junho de 2013 indicavam que os jovens queriam mais direitos, mais atuação do Estado, mesmo que eles não entendessem que era isso que pediam. Pediram serviços públicos de qualidade, mais saúde, mais educação, mais transporte público. Pediram acesso à internet para o asfalto e para a comunidade; pediram direito ao “rolezinho”, porque não abrem mão da manutenção do poder de compra, mesmo que as marcas de grife tivessem vergonha dos seus clientes mais pobres, conforme pesquisa do Data Popular, em 2014.
Os jovens representam um terço dos eleitores e têm o poder de mudar os rumos das eleições, escolher quem realmente defende seus interesses. Mas precisam parar de encarar a política como uma guerra de “memes”, com “mitos” que “trollam” o adversário. Nossa escolha não é por quem pisa mais ou menos. Nossa escolha é por quem, de fato, faz ou busca fazer mais por todos e para todos. Nossa escolha sempre deve ser por quem defende o melhor para o povo, pois nós somos o povo.
Mas eu sei que meu lugar de fala não é dizer o que os jovens devem ou não fazer. Tenho jovens em casa e sei o quanto a gente (que é jovem há mais tempo) parece inadequada ou fora de moda para essa juventude conectada. Mas eu conheço esse brilho no olhar de quem foi às ruas nos últimos anos, principalmente quem teve a coragem de lutar contra o Golpe. Eu conheço essa sede de justiça de quem foi levar solidariedade a Lula. Só quem reconhece esse brilho, essa sede, sabe por que Lula saiu carregado nos braços do povo.
Os jovens de hoje tem mais do que tivemos quando éramos jovens, mas quem tem mais pode dar mais. E tenho certeza de que, nos próximos dias, veremos o protagonismo dessa juventude, porque o protagonismo juvenil é a argila das utopias, sonhos e lutas que mudam a história de um país.
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